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Trump no controle do Fed? Experiências da Turquia e Argentina acendem alerta sobre riscos para a economia dos EUA e além

Publicado em 05/09/2025 às 11:23
Trump, FED, Economia
Imagem ilustrativa: IA
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Tentativa de Trump em interferir no Federal Reserve levanta temores sobre perda de autonomia, risco inflacionário e impactos econômicos dentro e fora dos EUA

Os comentários do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, em Jackson Hole, sugerindo um possível corte iminente nos juros, poderiam agradar Donald Trump. O presidente vinha pressionando por taxas mais baixas para impulsionar a economia.

No entanto, dias depois do discurso, Powell se viu no centro de uma nova crise. Trump anunciou a demissão de Lisa Cook, uma das autoridades do Fed, abrindo uma disputa inédita na história recente da instituição.

A tentativa de remover um governador do Fed, somada às críticas constantes a Powell, levanta dúvidas sobre a independência do banco central, que já dura mais de um século.

Desde Nixon não se via algo parecido. Investidores agora especulam até onde Trump pode ir, quais seriam as consequências judiciais e como os mercados reagiriam.

Motivações e riscos

As intenções de Trump não são segredo. Ele busca taxas menores para estimular gastos e acelerar o crescimento do PIB. Porém, especialistas alertam para as consequências dessa interferência.

Janet Yellen, ex-presidente do Fed e ex-secretária do Tesouro, classificou a situação como perigosa em entrevista à CNN Internacional.

A preocupação não se limita aos Estados Unidos. Exemplos recentes de outros países mostram o que pode acontecer quando presidentes enfraquecem a autonomia dos bancos centrais.

O caso da Turquia

A Turquia, sob o comando de Recep Tayyip Erdogan, se tornou um exemplo claro. Erdogan acreditava que cortar juros controlaria a inflação. O resultado foi justamente o contrário: preços em disparada e colapso da lira.

Entre 2019 e 2021, Erdogan demitiu três presidentes do banco central por não seguirem sua visão. Em 2022, a inflação atingiu 85,5%, um recorde. A lira só resistiu graças ao uso de reservas internacionais, que custaram US$ 60 bilhões ao país.

A pressão da sociedade levou a uma guinada em 2023. A Turquia adotou política mais convencional e elevou os juros para até 50% em 2024.

Hoje, permanecem em torno de 43%. Mesmo assim, os custos para famílias e empresas continuam altos, com hipotecas acima de 40%.

Cerca de 9 milhões de trabalhadores vivem com salário mínimo equivalente a US$ 538. Para eles, a vida piorou na última década.

Ainda assim, especialistas lembram que Erdogan pode voltar atrás a qualquer momento, reacendendo a instabilidade.

A experiência da Argentina

A Argentina também mostra os riscos da falta de independência monetária. Desde 2013, o país teve oito presidentes de banco central, contra três nos Estados Unidos.

Historicamente, o BCRA atuou para financiar déficits, imprimindo dinheiro e alimentando hiperinflação.

O pico veio em abril de 2024, com inflação de 292%. Javier Milei, eleito em 2023, havia prometido fechar o banco central, mas recuou.

Decidiu apoiar a estabilidade de preços e adotou austeridade e reformas. O efeito foi rápido: em julho de 2024, a inflação caiu para 36,6%, e a Moody’s elevou a nota de crédito do país.

Segundo especialistas, a lição é clara. Sem independência, a reputação se destrói, o risco-país sobe e o acesso ao mercado de capitais desaparece.

Os EUA nos anos 70

A história americana também guarda exemplos. Em 1970, Nixon substituiu William McChesney Martin por Arthur Burns no comando do Fed. Durante o mandato de Burns, a oferta monetária se expandiu, em especial em ano eleitoral.

A inflação disparou: de 3,3% em 1971 para 11,8% em 1974. Choques externos, como cortes de petróleo e alta nos alimentos, agravaram a situação.

Mas analistas lembram que a falta de firmeza de Burns em apertar a política monetária foi decisiva. O resultado foi um dos ciclos inflacionários mais custosos da história americana.

O que pode acontecer agora

Hoje, investidores ainda duvidam que Trump vá demitir Powell antes do fim de seu mandato, em maio do ano que vem.

Porém, a situação pode mudar. Se Cook for afastada mesmo após absolvição, abriria precedente para que outros governadores também sejam removidos.

Pesquisadores apontam que toda vez que a independência de um banco central é questionada, as expectativas de inflação sobem.

As famílias passam a acreditar em preços mais altos no futuro, e isso se torna um risco adicional para a economia.

A Casa Branca defende a decisão de Trump, afirmando que havia motivos para afastar um governador acusado de irregularidades.

Segundo o governo, isso aumentaria a credibilidade da instituição. Mas analistas como George Saravelos, do Deutsche Bank, alertam que o cenário pode se agravar.

Ele lembra que os EUA vivem déficit duplo, gastando mais do que arrecadam e importando mais do que exportam. Isso, combinado ao endividamento externo, amplia os riscos em caso de crise.

As salvaguardas do Fed

Apesar da turbulência, o Fed conta com proteções legais criadas desde 1913. Essas salvaguardas dão mais estabilidade em comparação a países como Argentina e Turquia.

A confiança dos investidores ainda sustenta a instituição, mas sinais de interferência política já começam a afetar a percepção do mercado.

Carola Binder, professora de economia da Universidade do Texas, aponta que qualquer decisão do Fed hoje será vista como política.

Se o corte for pequeno, parecerá resistência a Trump. Se for maior, será visto como concessão. Em ambos os casos, a credibilidade sofre.

Efeitos globais

O impacto não ficaria restrito aos Estados Unidos. Se a independência do Fed for abalada, outros líderes populistas podem se sentir incentivados a seguir o mesmo caminho. Autoridades ouvidas pela Reuters temem que essa onda cause sérios danos à economia mundial.

Binder resume a situação: não está claro que os EUA se tornariam outra Turquia, mas recuperar a confiança perdida é sempre muito mais difícil.

No fim, a disputa entre Trump e o Fed é mais do que um embate político. É um teste para a resiliência de uma instituição que sustenta não só a economia americana, mas também a estabilidade global.

Com informações de CNN.

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Romário Pereira de Carvalho

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