A tensão comercial entre os Estados Unidos e os BRICS ganhou novos capítulos após a escalada de tarifas anunciada por Donald Trump. Em meio ao impasse, diferentes países buscam alianças alternativas para proteger seus mercados, enquanto a China trabalha em ajustes internos que podem alterar o equilíbrio econômico global.
As tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estão provocando uma reação em cadeia. Países que antes não atuavam juntos agora buscam novas formas de cooperação regional.
A estratégia de confronto em acordos comerciais abriu espaço para coalizões alternativas que podem redesenhar a dinâmica global.
A formação de um novo grupo
Segundo reportagem do Financial Times, diplomatas revelaram que Cingapura e Emirados Árabes Unidos preparam o lançamento de uma aliança de pequeno e médio porte.
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O grupo reuniria cerca de dez países para fortalecer seus laços comerciais. A proposta ganhou até nome: “Parceria para o Futuro do Investimento e Comércio”, ou FIT-P.
A Nova Zelândia deve integrar o núcleo fundador ao lado dos árabes e dos asiáticos. A lista de possíveis membros inclui Marrocos, Ruanda, Malásia, Uruguai, Costa Rica, Panamá, Paraguai e Noruega.
A definição oficial ainda não ocorreu, mas a intenção é clara: montar um fórum mais ágil para tratar de regras modernas.
Comércio digital no centro do projeto
A coalizão quer eliminar barreiras entre documentos físicos e digitais. Isso significa equiparar assinaturas eletrônicas e estimular o comércio eletrônico.
O objetivo é aumentar a eficiência das transações e dar aos membros uma estrutura de confiança mútua.
O grupo planeja iniciar as atividades com uma reunião virtual em novembro e, depois, um encontro presencial em julho de 2026.
Pressão das políticas de Trump
Esse movimento surge porque o governo norte-americano priorizou acordos bilaterais.
Ao tentar reduzir déficits, Trump acabou elevando tensões.
O resultado foi a intensificação de blocos regionais que defendem um sistema baseado em regras. União Europeia e o bloco Indo-Pacífico CPTPP, com 12 membros, já anunciaram planos para ampliar parcerias.
Conflito direto com o BRICS
Trump também voltou sua mira para o BRICS. O grupo ampliou a cooperação financeira e passou a ser visto como ameaça ao domínio do dólar.
O presidente americano ameaçou impor tarifas extras contra os países do bloco.
A Índia sentiu forte impacto. Além das tarifas, o país é criticado pela dependência do petróleo russo.
Em postagem no Truth Social, Trump acusou Nova Délhi de limitar empresas americanas e comprar pouco dos EUA. Disse ainda que a Índia deveria ter reduzido tarifas há anos, e chamou a situação de “desastre unilateral”.
Estratégia chinesa: pragmatismo em vez de ruptura
Enquanto isso, Pequim constrói sua própria arquitetura. A China aposta em duas frentes: segurança pela Organização de Cooperação de Xangai (OCS) e finanças pelo BRICS.
A OCS atua no combate ao terrorismo e à instabilidade regional. O BRICS, por sua vez, oferece o Novo Banco de Desenvolvimento e acordos em moedas locais.
Para a China, os blocos se complementam. Segurança na periferia assegura rotas comerciais.
O BRICS fornece espaço para diversificação financeira sem assustar os mercados. O processo é lento, desigual e baseado em transações, não em ideologia.
Os limites da desdolarização
Apesar dos discursos, o abandono do dólar não é simples. O NDB reduziu empréstimos à Rússia por causa das sanções. O sistema chinês de pagamentos interbancários cresceu, mas ainda é pequeno comparado ao SWIFT.
Índia e Rússia enfrentam obstáculos para usar rupias em liquidações. Pequim insiste que a internacionalização do yuan deve ser orientada pelo mercado e com foco em redução de riscos.
Motor interno da China como alavanca
O sucesso dessa estratégia depende do avanço tecnológico chinês.
O governo destacou semicondutores, software industrial e manufatura avançada como prioridades.
O premiê Li Qiang reforçou a importância da inteligência artificial. Reguladores já trabalham em regras para garantir segurança e ética no uso desses sistemas.
Se a China elevar a produtividade, o yuan pode ganhar espaço como moeda de liquidação. Além disso, padrões técnicos chineses terão mais chance de se impor no Sul Global.
Reformas financeiras para sustentar inovação
Pequim tem direcionado fundos estatais para pequenas e médias empresas inovadoras. O mercado de ações passa por ajustes com IPOs simplificados.
A previdência e os seguros são pressionados a investir mais no mercado interno. Xi Jinping sinalizou apoio à economia privada com medidas de financiamento e tratamento igualitário em compras públicas.
Essas mudanças podem ampliar a capacidade de risco da China. Isso é visto como essencial para oferecer alternativas ao sistema financeiro ocidental.
Serviços em abertura seletiva
O comércio de serviços também entrou nos planos. Finanças, telecomunicações, saúde e turismo recebem incentivos. Áreas-piloto em zonas de livre comércio testam flexibilizações.
Na prática, Pequim abre espaços onde pode ganhar competitividade e fecha onde há risco sistêmico.
Essa postura cautelosa é observada também em pagamentos digitais, como o e-CNY em testes com Hong Kong.
Atritos internos nos blocos
A diversidade interna é força e fraqueza. A OCS reúne Índia e Paquistão ao lado de China e Rússia, limitando avanços de segurança.
O BRICS incorporou novos membros, incluindo países do Golfo. Arábia Saudita e Emirados Árabes equilibram relações entre China e EUA.
A Índia resiste a qualquer desenho que favoreça Pequim. Já Brasil e África do Sul focam mais em desenvolvimento do que em política monetária.
O resultado são compromissos processuais: grupos de trabalho, padrões técnicos e projetos de financiamento. Pouco espaço existe para decisões rígidas.
Como os mercados veem esse cenário
Para investidores, o recado chinês é claro: reduzir a vulnerabilidade a sanções e aprofundar os mercados internos.
O foco segue na manufatura, inteligência artificial e serviços. O 14º Plano Quinquenal orienta esse caminho, enquanto medidas financeiras sustentam o capital de longo prazo.
A ambição dos blocos é limitada pela diversidade de membros, mas a base chinesa continua se fortalecendo.
A disputa entre Trump e o BRICS acelera rearranjos globais. Novas alianças, como a FIT-P, podem alterar rotas comerciais.
O BRICS busca espaço com apoio da China, enquanto a OCS garante estabilidade regional. Entre tensões, tarifas e novas coalizões, o cenário global avança em passos curtos, mas consistentes.