Anúncio de Donald Trump prevê taxação crescente sobre madeira bruta, armários e móveis estofados; impacto já é sentido no Brasil e no Canadá, com cortes e negociações bilionárias em andamento
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou na segunda-feira (29) a aplicação de tarifas de 10% sobre madeira bruta e serrada e de 25% sobre armários de cozinha, gabinetes de banheiro e móveis estofados. A medida, publicada oficialmente pela Casa Branca, começará a valer em 14 de outubro de 2025, à 1h01 no horário de Brasília.
Segundo Trump, a decisão segue a Seção 232 da Lei de Comércio de 1974, usada em outras ocasiões para impor tarifas ao aço e ao alumínio. O argumento central é a proteção da segurança nacional dos EUA, já que, de acordo com o governo, a dependência de importações estaria enfraquecendo a indústria madeireira americana.
O documento presidencial afirma que o país corre o risco de não conseguir atender à própria demanda em áreas estratégicas, como infraestrutura crítica, defesa nacional e sistemas de proteção antimísseis. “Produtos de madeira são essenciais até mesmo na construção de sistemas de defesa nuclear”, destacou o texto.
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Canadá é o maior alvo, mas Brasil também sofre impacto imediato
O Canadá, principal fornecedor de madeira de coníferas para os Estados Unidos, é o país mais atingido pela nova medida. Hoje, os canadenses já enfrentam tarifas combinadas antidumping e antisubsídio de cerca de 35%, resultado de uma disputa antiga sobre a exploração de madeira em terras públicas.
Para reduzir os impactos, o governo canadense prometeu até US$ 870 milhões em ajuda a seus produtores de madeira de coníferas. Ainda assim, as tensões comerciais devem crescer, já que Ottawa tenta negociar com Washington uma revisão do acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA), assinado em 2020.
No Brasil, o reflexo é imediato. Segundo a Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente), entre 9 de julho e 15 de setembro o setor registrou 4.000 demissões, o que representa cerca de 2% dos 180 mil empregos formais do setor. Isso porque 50% da produção nacional de madeira tinha os EUA como destino, e o tarifaço resultou em cancelamentos em massa de exportações.
Conforme reportagem da Folha, já em agosto, as exportações brasileiras caíram entre 35% e 50% em comparação com julho, aprofundando a crise na cadeia produtiva, principalmente nos estados do Sul do país (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul).
Tarifas vão subir ainda mais em janeiro de 2026
Embora a entrada em vigor esteja marcada para 14 de outubro de 2025, o decreto assinado por Donald Trump prevê um aumento progressivo das taxas. A partir de 1º de janeiro de 2026, as tarifas chegarão a 30% para móveis estofados e 50% para armários de cozinha e gabinetes de banheiro provenientes de países que não firmarem acordo comercial com os EUA.
Essa estratégia repete o modelo usado por Trump em 2018, quando foram aplicadas tarifas sobre móveis chineses. Na época, as taxas começaram em 25% e hoje já alcançam 55%, provocando uma redistribuição global de fornecedores. México e Vietnã, por exemplo, se tornaram exportadores crescentes de móveis para o mercado americano.
Quem ganha e quem perde com a decisão de Trump
Segundo o anúncio, países que possuem acordos de referência com os EUA terão alívio tarifário. Importações do Reino Unido pagarão apenas 10%, enquanto produtos da União Europeia e do Japão serão taxados em 15% — valores alinhados com as tarifas-base já praticadas nesses blocos.
Por outro lado, a declaração oficial não mencionou o acordo com o Vietnã, fechado em julho de 2025 e que previa uma taxa de 20% sobre madeira. Como o documento ainda não foi formalizado, há incertezas sobre a validade dessa concessão.
O Departamento de Comércio dos EUA iniciou a investigação sobre a segurança nacional das importações de madeira em abril. Contudo, a Câmara de Comércio Americana criticou duramente a decisão, destacando que essas importações não representam risco real à segurança nacional. A entidade argumentou ainda que tarifas mais altas podem elevar o custo da construção civil, reduzir as exportações de papel e celulose e cortar a renda de milhares de comunidades que dependem da indústria.
Setor moveleiro brasileiro em alerta
O impacto no Brasil já preocupa sindicatos e associações empresariais. Segundo dados da Abimci, somente em agosto de 2025, após a primeira rodada de tarifas de 50% sobre o país, as exportações brasileiras despencaram quase pela metade. A tendência é de agravamento com as novas alíquotas de janeiro.
O Brasil concentra 90% da produção de madeira e móveis no Sul do país, região que emprega milhares de trabalhadores em serrarias e indústrias moveleiras. Para empresários, a continuidade das tarifas ameaça não apenas as vendas para os Estados Unidos, mas também o equilíbrio da produção doméstica.
No cenário internacional, Trump já sinalizou que este é apenas o começo de uma nova rodada de medidas protecionistas. Além do setor de madeira, medicamentos patenteados e caminhões pesados estão na mira para futuras taxações.
Conforme reportagem publicada pela Folha, o objetivo de Trump é reforçar a indústria nacional em segmentos considerados estratégicos, mesmo diante das críticas de aliados comerciais e entidades empresariais.
Protecionismo com efeitos globais
A decisão de Donald Trump mostra que o protecionismo econômico volta a ganhar força nos Estados Unidos, especialmente em setores sensíveis. Se por um lado a medida busca revitalizar a indústria local, por outro gera turbulência no comércio internacional e pressiona parceiros como Canadá, México, Vietnã, Brasil e União Europeia.
O setor de madeira e móveis brasileiros, já fragilizado por demissões e queda nas exportações, deve enfrentar um período de grandes desafios. Para os produtores canadenses, resta negociar dentro do USMCA, enquanto países asiáticos tentam ampliar sua fatia no disputado mercado americano.
No curto prazo, consumidores e construtoras nos EUA também podem sentir o efeito com a alta nos preços de móveis, madeira e derivados. A escalada tarifária, portanto, não apenas redesenha cadeias de suprimento globais, mas também coloca à prova a resistência de economias fortemente ligadas ao setor.