Trump retoma a política de tarifas sobre caminhões, aço e alumínio, reacendendo tensões comerciais entre Estados Unidos e Brasil. O governo brasileiro busca estratégias para conter os impactos na indústria nacional
A partir de 1º de novembro de 2025, os Estados Unidos voltarão a impor tarifas de 25% sobre caminhões médios e pesados importados, numa medida que reacende o protecionismo comercial e cria tensão imediata com países exportadores, inclusive o Brasil.
O anúncio, feito pelo governo de Donald Trump, representa o início de uma nova fase da guerra tarifária e já preocupa setores estratégicos da economia global — entre eles o de aço, alumínio e veículos comerciais.
Um novo “tarifaço” americano ganha força
Depois de anos de alívio nas barreiras comerciais, o governo Trump decidiu reviver políticas de contenção às importações, especialmente as que ameaçam a indústria automotiva e metalúrgica dos Estados Unidos.
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A nova tarifa de 25% sobre caminhões médios e pesados entrará em vigor em 1º de novembro, e segundo o Departamento de Comércio, tem como objetivo proteger empregos domésticos e estimular a produção interna.
A medida foi ampliada em setembro para incluir caminhões médios, que antes não faziam parte da lista. Analistas de mercado interpretam a decisão como um movimento político calculado — um aceno à base eleitoral do meio-oeste americano, fortemente dependente da indústria automotiva.
Mas o impacto real se estende muito além das montadoras norte-americanas. As novas taxas atingem em cheio fornecedores de peças, aço e alumínio, insumos fundamentais para a cadeia produtiva global.
Aço e alumínio: os primeiros alvos da guerra comercial
O pacote tarifário de Trump não se limita aos caminhões. O governo americano também anunciou revisões nas importações de aço e alumínio, com tarifas que podem chegar a 25% para o aço e 10% para o alumínio.
Essa política ecoa o decreto de 2018, quando medidas semelhantes desencadearam uma onda de retaliações e disputas diplomáticas em organismos internacionais.
O Brasil é um dos países que mais exportam aço semiacabado para os Estados Unidos — boa parte da produção da CSN, Gerdau e ArcelorMittal é destinada ao mercado americano.
Segundo dados do Instituto Aço Brasil, as exportações brasileiras para os EUA movimentam cerca de US$ 3 bilhões por ano, o que torna o país particularmente vulnerável a novas barreiras.
Na prática, tarifas dessa magnitude reduzem a competitividade do produto brasileiro e obrigam empresas a buscar novos destinos para o excedente — o que pode gerar pressão sobre os preços internos e afetar margens de lucro.
Efeitos diretos sobre o Brasil
O Brasil, embora não seja o alvo principal da nova onda tarifária, acaba sendo atingido de forma indireta.
Com os Estados Unidos restringindo importações, países asiáticos como China e Coreia do Sul tendem a redirecionar suas exportações para mercados alternativos, aumentando a concorrência em regiões onde o Brasil também atua.
Além disso, fabricantes de caminhões instalados no país — como Mercedes-Benz, Volkswagen Caminhões e Scania — exportam componentes para o mercado americano.
Se o custo de entrada subir 25%, essas empresas podem rever estratégias de exportação, o que impacta o emprego e a produção industrial doméstica.
Economistas projetam que os efeitos combinados das tarifas sobre aço, alumínio e caminhões podem representar uma desaceleração de até 0,2 ponto percentual no PIB brasileiro entre 2025 e 2026, especialmente nos setores de metalurgia e bens de capital.
Como o Brasil pode reagir
Diante da ofensiva tarifária americana, o Brasil dispõe de alguns instrumentos diplomáticos e econômicos para se proteger:
- Lei da Reciprocidade Comercial (Lei nº 15.122/2025) – permite aplicar tarifas equivalentes sobre produtos dos Estados Unidos, caso o país seja prejudicado por medidas unilaterais.
- Ações na OMC (Organização Mundial do Comércio) – o Itamaraty pode contestar as tarifas sob o argumento de protecionismo indevido, buscando arbitragem internacional.
- Diversificação de mercados – o governo e o setor privado estudam ampliar exportações para a Ásia, Oriente Médio e América Latina, reduzindo a dependência dos EUA.
- Acordos bilaterais e diplomacia comercial – negociações diretas podem gerar exceções setoriais, como aconteceu com o alumínio primário em 2019.
Apesar disso, especialistas alertam que a retaliação aberta pode sair cara. O embaixador aposentado Rubens Barbosa, ex-representante do Brasil em Washington, destacou em entrevista à Agência Brasil que “as tarifas são parte do DNA político de Trump, e não uma medida técnica — negociar será mais prudente do que reagir”.
Um cenário de incertezas e oportunidades
O “tarifaço” americano gera ruído, mas também abre brechas estratégicas.
Empresas brasileiras que se anteciparem poderão reposicionar cadeias de fornecimento, fortalecer parcerias regionais e investir em inovação para compensar custos.
Além disso, o real desvalorizado frente ao dólar tende a atenuar parte do impacto, mantendo certa competitividade nas exportações de bens industrializados.
O desafio é equilibrar a resposta diplomática com medidas que preservem empregos e investimentos locais, sem comprometer relações bilaterais com Washington.