Conheça a história da Biosfera 2, o ambicioso projeto que trancou oito pessoas em uma mini-Terra por dois anos e, apesar de quase ter falhado, deixou lições cruciais sobre a vida em nosso planeta.
No início da década de 1990, em meio ao deserto do Arizona, nos Estados Unidos, um dos experimentos científicos mais ousados e polêmicos da história foi colocado em prática. Oito pessoas se trancaram voluntariamente por dois anos dentro de um gigantesco complexo de vidro chamado Biosfera 2, uma espécie de mini-Terra projetada para ser totalmente autossuficiente.
De acordo com uma análise da historiadora da ciência Lisa Rand, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, o projeto, que na época foi chamado de “fracasso”, hoje é visto de uma nova forma. A história da Biosfera 2 é uma saga de sobrevivência, erros de cálculo e, no fim, uma lição profunda sobre a complexidade e a insubstituível importância do nosso próprio planeta.
O que foi o experimento Biosfera 2?
A Biosfera 2 é um enorme complexo de pirâmides e cúpulas de vidro, com 1,2 hectare, que abriga réplicas dos principais ecossistemas da Terra: uma floresta tropical, uma savana, um deserto, um pântano e até um pequeno oceano com um recife de coral.
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Em setembro de 1991, oito pesquisadores (os “biosféricos”) entraram na estrutura e foram hermeticamente isolados do mundo exterior. A missão era sobreviver por dois anos apenas com o que produzissem lá dentro, testando os limites da vida em um sistema fechado, um passo fundamental para futuras colônias na Lua ou em Marte.
O sonho de um mundo autossuficiente (e os problemas que surgiram)
O projeto, financiado pelo bilionário Ed Bass com um investimento de US$ 150 milhões, foi idealizado por John Allen. O objetivo era nobre: entender melhor as complexidades da Terra e como a tecnologia poderia nos ajudar a viver em harmonia com a natureza.
No entanto, como disse um analista no documentário Spaceship Earth (2020), “tudo o que poderia dar errado deu errado”.
- Falta de Oxigênio: Após 16 meses, os níveis de oxigênio caíram de 21% para perigosos 14%, o equivalente a estar no topo de uma montanha de 3.350 metros. Os “biosféricos” se sentiam fracos e cansados.
- Explosão de CO₂: Ao mesmo tempo, os níveis de dióxido de carbono dispararam.
- Extinção em Massa: Inúmeros animais e, crucialmente, os insetos polinizadores morreram, ameaçando a reprodução das plantas.
- Fome: Embora tenham sobrevivido com o que plantaram, os participantes perderam muito peso, tornando-se um estudo de caso sobre restrição calórica.
A situação se tornou tão crítica que foi preciso injetar oxigênio de fora, o que levou a imprensa da época a classificar o projeto como um “fracasso”.
O que deu errado? A ciência por trás do “fracasso”
Os cientistas levaram um tempo para entender as causas dos problemas. A principal delas foi o solo. Para acelerar o crescimento das plantas, foi usado um solo extremamente rico em nutrientes. Isso gerou uma explosão na população de bactérias e fungos que, para se decompor, consumiram o oxigênio em um ritmo muito mais rápido do que as plantas jovens conseguiam repor.
Outro problema inesperado foi a morte dos insetos polinizadores. Acredita-se que o vidro da estrutura bloqueava a luz ultravioleta (UV), que as abelhas, por exemplo, usam para se orientar e encontrar as flores.
A grande lição: “Este é realmente o nosso único planeta”
A maior lição da Biosfera 2 foi a percepção de como é incrivelmente difícil e caro recriar os sistemas que sustentam a vida na Terra. O experimento ressaltou a necessidade de proteger nosso planeta, a Biosfera 1.
O cientista David Tilman, que analisou o projeto, calculou que, se uma colônia espacial fosse como a mini-Terra do Arizona, custaria US$ 82,5 mil por pessoa, por mês, para ser habitada, e mesmo assim, sem garantia de sobrevivência. “É incrivelmente caro tentar substituir os serviços que os ecossistemas da Terra fornecem gratuitamente à humanidade”, destacou ele.
O legado da Biosfera 2: de “fracasso” a laboratório climático de ponta
Apesar das críticas, a percepção sobre o experimento mudou. Hoje, a Biosfera 2 é administrada pela Universidade do Arizona e se tornou um dos laboratórios mais importantes do mundo para o estudo das mudanças climáticas.
Cientistas usam a estrutura para simular os efeitos do aquecimento global e da seca em ecossistemas controlados, algo impossível de se fazer na natureza. A mini-Terra que quase falhou em se sustentar se tornou uma das nossas melhores ferramentas para entender e, quem sabe, salvar o nosso próprio planeta.
O que você achou dessa história? Acredita que a humanidade um dia conseguirá criar uma colônia autossuficiente fora da Terra? Deixe sua opinião nos comentários.