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Trabalhar em empresa chinesa no Brasil expõe choque cultural, jornadas de 12 horas e decisões centralizadas na matriz

Publicado em 11/08/2025 às 11:10
Empresa chinesa no Brasil enfrenta barreiras linguísticas e culturais com líderes que não falam inglês e mantêm hierarquia rígida
Empresa chinesa no Brasil enfrenta barreiras linguísticas e culturais com líderes que não falam inglês e mantêm hierarquia rígida
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Como é trabalhar em uma empresa chinesa no Brasil. Choque cultural, ritmo intenso e diferenças profundas marcam a experiência de executivos e funcionários brasileiros em corporações chinesas.

Trabalhar em uma empresa chinesa no Brasil é muito mais do que lidar com outro idioma. É entrar em um universo profissional regido por ritmos exaustivos, decisões centralizadas na matriz e valores culturais profundamente enraizados. O modelo de gestão segue padrões como o “996” expediente das 9h às 21h, seis dias por semana, além de reuniões e demandas que, devido ao fuso horário, acontecem de madrugada no Brasil.

O choque cultural vai além da rotina. Questões como desconfiança nas relações de trabalho, diferenças de negociação e pouca familiaridade com leis trabalhistas brasileiras podem transformar o dia a dia em um verdadeiro desafio. Em muitos casos, executivos precisam se adaptar a decisões repentinas vindas diretamente da China, que podem mudar completamente estratégias já definidas.

Rotina intensa e fuso horário invertido

Empresas chinesas, especialmente estatais e grandes grupos privados, seguem padrões de trabalho muito mais longos que os habituais no Brasil. O famoso “996” não é apenas uma referência cultural, mas uma regra não oficial para cargos de liderança. No Brasil, isso significa jornadas que frequentemente se estendem até a madrugada, já que a matriz na China está ativa enquanto aqui é noite.

A exigência por disponibilidade total faz com que alguns executivos durmam no escritório para atender reuniões ou prazos críticos. Esse ritmo é visto pelos chineses como sinal de comprometimento, mas para brasileiros, pode ser desgastante e impactar diretamente a vida pessoal.

Decisões centralizadas e pouca autonomia local

Outro ponto marcante é a falta de autonomia para decisões estratégicas. Mesmo diretores e CEOs brasileiros, em muitos casos, dependem da aprovação de superiores na China. Situações como alterações unilaterais em contratos ou mudanças bruscas de política interna não são incomuns.

O modelo hierárquico valoriza a experiência e a idade, o que significa que executivos com mais de 50 anos, mesmo sem domínio do inglês, podem deter todo o poder de decisão. A comunicação, quando mediada por tradutores (“shadows”), nem sempre transmite fielmente a intenção original, o que pode gerar ruídos e frustrações.

Barreiras linguísticas e respeito à hierarquia

Muitos executivos chineses que ocupam cargos-chave nasceram antes de 1980, período em que o ensino de inglês era proibido nas escolas do país. Isso cria barreiras linguísticas significativas e torna indispensável o uso de tradutores internos.

Na cultura corporativa chinesa, a hierarquia é rígida: jovens gestores, mesmo competentes e fluentes em inglês, podem ter pouca influência nas decisões, pois o respeito aos mais velhos é um valor central. Isso impacta a velocidade e a forma como projetos são conduzidos.

Choque cultural e diferenças de valores

A relação com leis e costumes brasileiros pode gerar conflitos. Já houve casos em que empresas chinesas questionaram o pagamento do 13º salário, desconhecendo que é um direito garantido por lei no Brasil. Diferenças em práticas financeiras, como a transferência de bônus para contas na China, também já levaram a problemas jurídicos.

A desconfiança natural também é um traço cultural forte. Muitos executivos chineses só confiam em decisões após verificações próprias, o que pode atrasar processos e criar atritos com equipes locais.

Origem e perfil do líder chinês

Na China, conhecer a cidade natal (“hometown”) de alguém diz muito sobre seu perfil. Profissionais oriundos de regiões rurais que ainda representam 35% da população tendem a ser mais conservadores e menos expostos a práticas ocidentais. Essa diferença de origem impacta desde negociações até a forma de gerir equipes.

Além disso, experiências de escassez vividas por gerações anteriores, como a grande fome dos anos 1960, moldaram líderes mais austeros, resistentes a mudanças e com forte foco em resultados.

Educação e competição extrema

A competição por vagas nas melhores universidades chinesas é mais acirrada que em instituições como Harvard. Apenas cerca de 1% dos candidatos consegue entrar, e o processo é baseado em provas únicas, sem possibilidade de repetição anual.

Esse nível de pressão se reflete no ambiente de trabalho, onde a disciplina e a busca por excelência são constantes.

Um aprendizado para quem busca adaptação

Trabalhar em uma empresa chinesa no Brasil exige resiliência, flexibilidade e inteligência cultural. Compreender a origem do líder, respeitar a hierarquia, adaptar-se ao ritmo de trabalho e lidar com barreiras linguísticas são passos essenciais para uma convivência produtiva.

Apesar dos desafios, a experiência pode ampliar horizontes profissionais e ensinar práticas de gestão únicas desde que haja disposição para entender um modelo corporativo muito diferente do brasileiro.

E você? Já trabalhou ou conhece alguém que atua em uma empresa chinesa no Brasil? Quais foram as maiores dificuldades ou aprendizados? Compartilhe sua experiência nos comentários.

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Maria Heloisa Barbosa Borges

Falo sobre construção, mineração, minas brasileiras, petróleo e grandes projetos ferroviários e de engenharia civil. Diariamente escrevo sobre curiosidades do mercado brasileiro.

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