Técnica milenar usada por povos antigos resiste ao tempo e ainda movimenta comunidades no Brasil, mostrando força cultural e valor sustentável.
As primeiras construções da humanidade surgiram muito antes do cimento e da alvenaria moderna. Há cerca de 9 mil anos, povos da Mesopotâmia e do Vale do Indo já moldavam blocos de terra crua misturada com palha e água, secos ao sol, conhecidos como tijolos de adobe.
Essa técnica rudimentar permitiu erguer cidades inteiras, muralhas e moradias em regiões de clima seco.
No Egito Antigo, o adobe foi amplamente utilizado em vilas, depósitos e muralhas defensivas, embora algumas construções especiais já mostrassem sinais do uso de tijolos queimados.
-
Black Friday: a verdadeira origem da data que move bilhões e as curiosidades que ninguém te contou
-
Com 170 quilômetros de extensão, 500 metros de altura e 200 de largura, este megaprojeto bilionário na Arábia Saudita custará R$ 2,6 trilhões e abrigará 9 milhões de pessoas em uma cidade espelhada sem carros, sob o sol do deserto
-
Fazenda de Wesley Safadão conta com leilões que faturam mais de R$ 120 milhões e cavalos avaliados em R$ 17 milhões: um império rural em Aracoiaba maior que o estádio Presidente Vargas
-
Cidade mundial das piscinas está no Brasil e abriga o maior complexo hidrotermal do mundo, com acesso por aeroporto, estrutura gigante e mais de 500 mil turistas por temporada
Nas Américas pré-colombianas, culturas como maias e incas também adotaram a técnica, adaptando-a aos recursos locais.
Com o tempo, uma inovação transformou a história da arquitetura: a queima do barro em fornos rudimentares.
Esse processo endurecia o material, tornando-o impermeável e resistente à chuva, e assim surgia o tijolo cozido, que se espalhou pelo Império Romano e depois por toda a Europa.
No Brasil, trazido pelos portugueses, o adobe foi comum em áreas rurais e cidades coloniais, mas com a urbanização do século XIX o tijolo cozido dominou, especialmente no Nordeste.
Até hoje, em algumas regiões secas e quentes como o Nordeste, tijolo cozido ainda é fabricado. Sendo uma forma barata de fazer construções.
Construções com terra: economia e sustentabilidade
A construção com terra nunca perdeu relevância. Ela garante economia financeira, já que utiliza recursos abundantes do próprio terreno, e ainda oferece sustentabilidade ambiental.
O processo dispensa grandes quantidades de energia e o resultado final é resistente e confortável.
A temperatura de uma casa de terra tende a ser estável, fresca nos dias quentes e aconchegante em períodos frios.
O que é o tijolo de adobe
O adobe consiste na mistura de terra, palha e água, moldada em formas de madeira. Depois de secos ao sol, os blocos são empilhados como tijolos comuns e dispensam pilares, já que suportam coberturas inteiras.
Ele se assemelha ao tijolo ecológico, mas com diferenças marcantes: não leva cimento e é moldado manualmente, sem máquinas.
O tijolo ecológico costuma apresentar furos internos, que facilitam a passagem de canos e conduítes. O adobe, mais rústico, mantém a simplicidade de um bloco sólido.
Como se faz o tijolo de adobe
A técnica tradicional permanece quase inalterada desde a Antiguidade. Mistura-se a terra e a palha, e depois adiciona-se água gradualmente até que a massa atinja o ponto ideal.
Quando a mistura não está nem molhada demais nem seca em excesso, coloca-se no molde e desenforma-se. Os blocos então secam ao sol por alguns dias.
A qualidade da terra é decisiva: se for muito arenosa, o bloco se desfaz; se for argilosa demais, perde resistência. O equilíbrio está numa terra levemente úmida, com pequenos grãos de areia perceptíveis ao toque.
Não há fórmula exata para a quantidade de água. O ponto ideal é perceber que a marca do pé fica bem definida na massa, sem escorrer nem esfarelar.
Um exemplo de molde tem medidas internas de 30 cm de comprimento por 14 cm de largura e altura, dimensões que resultam no tamanho final do tijolo.
Exemplos históricos no Brasil
Até hoje, cidades históricas brasileiras guardam construções de adobe. Em Ouro Preto (MG) e Pirenópolis (GO), casarões coloniais erguem-se sobre essa técnica ancestral.
O adobe se destaca como material ecológico e econômico, que regula a temperatura interna e pode ser reciclado: basta triturar e umedecer para voltar ao estado original.
Contudo, ele exige cuidados. Em regiões úmidas, o tijolo cru se desintegra com facilidade, o que limita seu uso a locais secos.
Vantagens e desvantagens do adobe
Entre os pontos positivos estão a sustentabilidade, a economia e o conforto térmico. O adobe absorve até 30 vezes mais umidade que o tijolo cozido, criando ambientes naturalmente equilibrados.
O lado negativo é sua fragilidade diante da chuva e da umidade constante. Além disso, não é adequado para construções com mais de um pavimento e pode sofrer fissuras durante a secagem. Manter os blocos levemente úmidos ajuda a reduzir esse problema.
Do adobe ao tijolo cozido
A passagem do adobe cru ao cozido foi uma resposta prática às limitações do barro cru em regiões chuvosas. Ao queimar os blocos em fornos, o material se transformava em cerâmica, garantindo maior durabilidade.
Na Mesopotâmia e no Vale do Indo, registros datados de cerca de 3.000 a.C. já mostram tijolos cozidos em templos e sistemas de drenagem. No Egito, ainda que o adobe predominasse, alguns edifícios especiais foram erguidos com tijolos queimados.
O Império Romano levou a técnica a outro nível, padronizando medidas e espalhando seu uso por aquedutos, termas e muralhas. Após a queda de Roma, o método perdeu força, mas retornou no Renascimento em regiões pobres em pedra, como Holanda e Alemanha.
Expansão para o Brasil
Os portugueses introduziram os tijolos cozidos no Brasil, mas por muito tempo o adobe seguiu como principal material em áreas rurais e vilas.
A consolidação do cozido veio apenas no século XIX, quando a urbanização exigiu maior resistência e regularidade.
No Nordeste, a transição foi ainda mais marcante. As chuvas repentinas do sertão rapidamente mostraram a superioridade do barro queimado, que passou a substituir o adobe em muitas comunidades.
Processo do tijolo cozido
A fabricação artesanal mantém etapas bem definidas:
- Preparação da argila – extraída de várzeas e margens de rios, deixada em descanso, amassada manualmente ou em máquinas, com adição de areia.
- Moldagem – formas de madeira recebem a massa, que é prensada e desenformada, resultando no “tijolo cru”.
- Secagem ao sol – de 3 a 10 dias, com viradas periódicas para evitar rachaduras.
- Queima em fornos – blocos empilhados queimam por dias a temperaturas de 800 °C a 1.000 °C, transformando o barro em cerâmica.
No Nordeste, predominam três tipos de fornos:
- Caieira: rústico, barato, mas menos uniforme.
- Abóbada ou colmeia: fechado, com melhor controle térmico.
- Hoffmann: contínuo e moderno, mas usado apenas em fábricas maiores.
O tijolo cozido superou o adobe em pontos decisivos. Ele resiste à chuva, suporta maior peso estrutural, apresenta medidas padronizadas e pode ser usado tanto aparente quanto com reboco.
A produção artesanal traz desafios ambientais. A queima consome grande volume de lenha, muitas vezes proveniente de matas nativas. Além disso, libera fumaça e partículas, aumentando o custo energético em comparação ao adobe.
O tijolo cozido domina a construção civil brasileira, mas cresce o movimento de resgate do adobe cru e da bioconstrução. A busca por alternativas sustentáveis recoloca a terra no centro do debate, equilibrando tradição e inovação.
enquanto outros países se esforçam para ter novas tecnologias, o Brasil faz o inverso.
Na verdade, esse modelo não é o Adobe, que têm formato retangular, no caso, é maior.