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Em pleno 2025, brasileiros mantêm viva a arte de fabricar tijolos de adobe — método ancestral que atravessa mais de 9 milênios

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 24/09/2025 às 06:37
Com mais de 9 mil anos, o tijolo de adobe segue sendo produzido no Brasil em 2025, preservando tradição, cultura e sustentabilidade.
Com mais de 9 mil anos, o tijolo de adobe segue sendo produzido no Brasil em 2025, preservando tradição, cultura e sustentabilidade.
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Técnica milenar usada por povos antigos resiste ao tempo e ainda movimenta comunidades no Brasil, mostrando força cultural e valor sustentável.

As primeiras construções da humanidade surgiram muito antes do cimento e da alvenaria moderna. Há cerca de 9 mil anos, povos da Mesopotâmia e do Vale do Indo já moldavam blocos de terra crua misturada com palha e água, secos ao sol, conhecidos como tijolos de adobe.

Essa técnica rudimentar permitiu erguer cidades inteiras, muralhas e moradias em regiões de clima seco.

No Egito Antigo, o adobe foi amplamente utilizado em vilas, depósitos e muralhas defensivas, embora algumas construções especiais já mostrassem sinais do uso de tijolos queimados.

Nas Américas pré-colombianas, culturas como maias e incas também adotaram a técnica, adaptando-a aos recursos locais.

Com o tempo, uma inovação transformou a história da arquitetura: a queima do barro em fornos rudimentares.

Esse processo endurecia o material, tornando-o impermeável e resistente à chuva, e assim surgia o tijolo cozido, que se espalhou pelo Império Romano e depois por toda a Europa.

No Brasil, trazido pelos portugueses, o adobe foi comum em áreas rurais e cidades coloniais, mas com a urbanização do século XIX o tijolo cozido dominou, especialmente no Nordeste.

Até hoje, em algumas regiões secas e quentes como o Nordeste, tijolo cozido ainda é fabricado. Sendo uma forma barata de fazer construções.

Construções com terra: economia e sustentabilidade

A construção com terra nunca perdeu relevância. Ela garante economia financeira, já que utiliza recursos abundantes do próprio terreno, e ainda oferece sustentabilidade ambiental.

O processo dispensa grandes quantidades de energia e o resultado final é resistente e confortável.

A temperatura de uma casa de terra tende a ser estável, fresca nos dias quentes e aconchegante em períodos frios.

O que é o tijolo de adobe

O adobe consiste na mistura de terra, palha e água, moldada em formas de madeira. Depois de secos ao sol, os blocos são empilhados como tijolos comuns e dispensam pilares, já que suportam coberturas inteiras.

Ele se assemelha ao tijolo ecológico, mas com diferenças marcantes: não leva cimento e é moldado manualmente, sem máquinas.

O tijolo ecológico costuma apresentar furos internos, que facilitam a passagem de canos e conduítes. O adobe, mais rústico, mantém a simplicidade de um bloco sólido.

Como se faz o tijolo de adobe

A técnica tradicional permanece quase inalterada desde a Antiguidade. Mistura-se a terra e a palha, e depois adiciona-se água gradualmente até que a massa atinja o ponto ideal.

Quando a mistura não está nem molhada demais nem seca em excesso, coloca-se no molde e desenforma-se. Os blocos então secam ao sol por alguns dias.

A qualidade da terra é decisiva: se for muito arenosa, o bloco se desfaz; se for argilosa demais, perde resistência. O equilíbrio está numa terra levemente úmida, com pequenos grãos de areia perceptíveis ao toque.

Não há fórmula exata para a quantidade de água. O ponto ideal é perceber que a marca do pé fica bem definida na massa, sem escorrer nem esfarelar.

Um exemplo de molde tem medidas internas de 30 cm de comprimento por 14 cm de largura e altura, dimensões que resultam no tamanho final do tijolo.

Exemplos históricos no Brasil

Até hoje, cidades históricas brasileiras guardam construções de adobe. Em Ouro Preto (MG) e Pirenópolis (GO), casarões coloniais erguem-se sobre essa técnica ancestral.

O adobe se destaca como material ecológico e econômico, que regula a temperatura interna e pode ser reciclado: basta triturar e umedecer para voltar ao estado original.

Contudo, ele exige cuidados. Em regiões úmidas, o tijolo cru se desintegra com facilidade, o que limita seu uso a locais secos.

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Vantagens e desvantagens do adobe

Entre os pontos positivos estão a sustentabilidade, a economia e o conforto térmico. O adobe absorve até 30 vezes mais umidade que o tijolo cozido, criando ambientes naturalmente equilibrados.

O lado negativo é sua fragilidade diante da chuva e da umidade constante. Além disso, não é adequado para construções com mais de um pavimento e pode sofrer fissuras durante a secagem. Manter os blocos levemente úmidos ajuda a reduzir esse problema.

Do adobe ao tijolo cozido

A passagem do adobe cru ao cozido foi uma resposta prática às limitações do barro cru em regiões chuvosas. Ao queimar os blocos em fornos, o material se transformava em cerâmica, garantindo maior durabilidade.

Na Mesopotâmia e no Vale do Indo, registros datados de cerca de 3.000 a.C. já mostram tijolos cozidos em templos e sistemas de drenagem. No Egito, ainda que o adobe predominasse, alguns edifícios especiais foram erguidos com tijolos queimados.

O Império Romano levou a técnica a outro nível, padronizando medidas e espalhando seu uso por aquedutos, termas e muralhas. Após a queda de Roma, o método perdeu força, mas retornou no Renascimento em regiões pobres em pedra, como Holanda e Alemanha.

Expansão para o Brasil

Os portugueses introduziram os tijolos cozidos no Brasil, mas por muito tempo o adobe seguiu como principal material em áreas rurais e vilas.

A consolidação do cozido veio apenas no século XIX, quando a urbanização exigiu maior resistência e regularidade.

No Nordeste, a transição foi ainda mais marcante. As chuvas repentinas do sertão rapidamente mostraram a superioridade do barro queimado, que passou a substituir o adobe em muitas comunidades.

Processo do tijolo cozido

A fabricação artesanal mantém etapas bem definidas:

  1. Preparação da argila – extraída de várzeas e margens de rios, deixada em descanso, amassada manualmente ou em máquinas, com adição de areia.
  2. Moldagem – formas de madeira recebem a massa, que é prensada e desenformada, resultando no “tijolo cru”.
  3. Secagem ao sol – de 3 a 10 dias, com viradas periódicas para evitar rachaduras.
  4. Queima em fornos – blocos empilhados queimam por dias a temperaturas de 800 °C a 1.000 °C, transformando o barro em cerâmica.

No Nordeste, predominam três tipos de fornos:

  • Caieira: rústico, barato, mas menos uniforme.
  • Abóbada ou colmeia: fechado, com melhor controle térmico.
  • Hoffmann: contínuo e moderno, mas usado apenas em fábricas maiores.

O tijolo cozido superou o adobe em pontos decisivos. Ele resiste à chuva, suporta maior peso estrutural, apresenta medidas padronizadas e pode ser usado tanto aparente quanto com reboco.

A produção artesanal traz desafios ambientais. A queima consome grande volume de lenha, muitas vezes proveniente de matas nativas. Além disso, libera fumaça e partículas, aumentando o custo energético em comparação ao adobe.

O tijolo cozido domina a construção civil brasileira, mas cresce o movimento de resgate do adobe cru e da bioconstrução. A busca por alternativas sustentáveis recoloca a terra no centro do debate, equilibrando tradição e inovação.

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Becker
Becker
25/09/2025 22:30

enquanto outros países se esforçam para ter novas tecnologias, o Brasil faz o inverso.

Rangel
Rangel
24/09/2025 18:37

Na verdade, esse modelo não é o Adobe, que têm formato retangular, no caso, é maior.

Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor.

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