Disputa internacional por chips entre Holanda e China ameaça interromper a produção de veículos no Brasil, acendendo alerta em montadoras e no governo sobre possível crise semelhante à enfrentada durante a pandemia.
Montadoras instaladas no país passaram a trabalhar com o cenário de interrupção no fornecimento de semicondutores em até três semanas, após o agravamento de uma disputa entre Holanda e China que já provoca impactos na Europa e ameaça as linhas de Toyota, Volkswagen, Fiat e outras fabricantes no Brasil.
A Anfavea informou que há risco de paralisações por “escassez crítica de semicondutores” e pede ação rápida do governo para evitar a falta de componentes.
Como o impasse começou e por que afeta o Brasil
Segundo reportagem publicada pelo Jornal Nacional nesta sexta-feira (24), o impasse teve início após o governo holandês assumir o controle da Nexperia, fabricante de chips sediada na Holanda e pertencente ao grupo chinês Wingtech.
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A decisão foi justificada por motivos de segurança econômica.
Ainda conforme o telejornal, a China respondeu restringindo a exportação de semicondutores, itens essenciais para várias indústrias, inclusive a automotiva.
De acordo com analistas do setor, essa medida afeta diretamente países que dependem das cadeias globais de suprimentos, como o Brasil.
Embora o país não produza chips automotivos em escala, as montadoras locais utilizam esses componentes em praticamente todos os sistemas eletrônicos dos veículos.
A Anfavea destaca, em nota, que um carro moderno utiliza entre mil e 3 mil chips e que, sem esses componentes, “as fabricantes não conseguem manter a linha de produção em andamento”.
Sinal amarelo das montadoras e alerta da Anfavea

De acordo com apuração do Jornal Nacional, a associação das fabricantes está “atenta e preocupada” com o risco de desabastecimento em poucas semanas e compara a situação atual aos gargalos registrados no auge da pandemia, quando houve falta de componentes e paralisação de fábricas em vários países.
Representantes da entidade afirmam que é necessário um diálogo diplomático imediato entre o governo brasileiro e o chinês para garantir a continuidade do fornecimento.
O setor avalia que a escassez decorre de um contexto geopolítico que, segundo especialistas, envolve pressões internacionais sobre o controle da produção e do comércio de semicondutores.
Produção ainda cresce, mas cenário pode mudar
Os dados até setembro mostram aumento de 6% na produção de veículos em relação ao mesmo período de 2024, sustentado principalmente por um avanço de 51,6% nas exportações.
Segundo a Anfavea, o crescimento foi impulsionado pelo mercado externo, especialmente pela demanda da Argentina.
Apesar do desempenho positivo, especialistas afirmam que o ritmo pode ser afetado caso o fornecimento de semicondutores seja interrompido.
Conforme o Jornal Nacional, montadoras já registram filas de espera para entrega de veículos a partir de janeiro e fevereiro, reflexo da alta demanda e do receio de atrasos na produção.
O que dizem governo e setor
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços informou que monitora os efeitos da interrupção na cadeia global de semicondutores e mantém diálogo com o setor automotivo para minimizar possíveis prejuízos a empresas e empregos.
Ainda segundo o Jornal Nacional, o presidente em exercício Geraldo Alckmin convocou uma reunião com representantes do setor automotivo para a próxima terça-feira, com o objetivo de discutir alternativas para evitar impactos nas fábricas.
Especialistas em comércio internacional avaliam que o endurecimento dos controles de exportação holandeses sobre equipamentos de fabricação de chips, vigente desde abril, aumentou a instabilidade do mercado global de semicondutores.
Entenda a importância dos semicondutores no carro
Os chips são responsáveis por controlar sistemas eletrônicos e de segurança dos veículos.
Segundo engenheiros da indústria automotiva, eles funcionam como “neurônios” dentro do carro, permitindo o funcionamento coordenado de mecanismos como motor, frenagem, airbag e conectividade.
Por isso, qualquer interrupção no fornecimento pode afetar rapidamente a produção.
Quando um componente específico falta, parte da linha de montagem precisa ser suspensa até a reposição.

Em entrevista concedida ao Jornal Nacional, representantes do setor afirmaram que a ausência dos chips pode paralisar as fábricas brasileiras em menos de um mês, caso não sejam liberadas novas remessas vindas da Ásia.
O risco de uma nova crise global
Durante a pandemia de COVID-19, entre 2020 e 2021, a escassez de semicondutores causou paralisações generalizadas em montadoras de todo o mundo.
Agora, segundo especialistas em economia internacional, o risco é de que o conflito político e comercial entre países produtores provoque uma nova onda de desabastecimento, com impacto direto sobre a indústria automotiva.
Analistas lembram que a produção global de chips é altamente concentrada em poucos países e empresas.
Qualquer restrição em um elo da cadeia pode gerar efeito cascata em diversas regiões, especialmente nas economias dependentes de importação de tecnologia, como o Brasil.
O que observar nas próximas semanas
Técnicos da indústria e representantes do governo acompanham três fatores principais:
- A duração das restrições chinesas após a intervenção na Nexperia;
- Eventuais novas medidas europeias sobre o comércio de semicondutores;
- E a capacidade das montadoras de ajustar temporariamente a produção para modelos com menor conteúdo eletrônico, caso a escassez se confirme.
Por enquanto, os indicadores seguem positivos, mas o cenário pode mudar rapidamente se a disputa comercial se intensificar.



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