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Toyota TS010: o carro brutal que quebrava os ossos dos próprios pilotos

Escrito por Bruno Teles
Publicado em 04/05/2025 às 10:51
Toyota TS010: O carro de Le Mans tão brutal que quebrava ossos dos pilotos. Conheça a história do 'Bone Crusher' e sua dolorosa jornada ao pódio
Toyota TS010: O carro de Le Mans tão brutal que quebrava ossos dos pilotos. Conheça a história do ‘Bone Crusher’ e sua dolorosa jornada ao pódio
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Rápido, avançado, mas perigoso. Conheça a história do Toyota TS010, o carro que machucou seus pilotos rumo ao pódio em Le Mans.

Existe um carro que não precisou bater para ferir seus pilotos. Ele quebrou ossos. Deixou marcas permanentes. Esse foi o Toyota TS010. A resposta agressiva da Toyota, antes vista como piada no mundo do Endurance. Um carro brutalmente rápido. Tecnologicamente avançado.

Mas que cobrou um preço físico extremo de quem ousou domá-lo. Suas suspensões duras e forças G extremas transformavam cada curva numa luta.

A ascensão da Toyota: do fracasso à ameaça no endurance

No final dos anos 80 e início dos 90, o cenário das corridas de Endurance era dominado por gigantes europeus. Porsche, Jaguar e Mercedes reinavam. A Toyota, apesar de gigante no mercado automotivo, era coadjuvante nas pistas. Seus protótipos anteriores, como o Toyota 88C, enfrentavam problemas técnicos. Raramente chegavam ao pódio. Eram considerados uma “catástrofe” por muitos.

Enquanto isso, a Porsche acumulava vitórias (1981-1987). A Jaguar quebrou essa sequência em 1988 e 1990. A Mercedes venceu em 1989. A Toyota assistia, acumulando experiência com seus motores turbo de quatro cilindros. Para os japoneses, essas derrotas eram um “aprendizado estratégico”. Eles sabiam que precisavam de uma abordagem mais agressiva. A filosofia era de paciência e persistência.

Novas regras e a oportunidade de ouro

O início dos anos 90 trouxe uma mudança radical nos regulamentos da FIA para corridas de resistência. A principal alteração foi a adoção obrigatória de motores aspirados de 3.5 litros, similares aos da Fórmula 1. Isso eliminou a era dos motores turbo dominantes. Novos limites de peso (750 kg) incentivaram o uso de fibra de carbono. A aerodinâmica se tornou crucial.

Para muitas fabricantes, como Mercedes e Jaguar, essas mudanças foram um obstáculo. Elas abandonaram a competição citando custos e complexidade. Mas para a Toyota, que tinha pouco a perder, foi uma “oportunidade de ouro”. As novas regras nivelaram o campo. A Toyota contratou Tony Southgate, renomado designer britânico. Ele já havia projetado carros vencedores em Le Mans, como o Jaguar XJR9. Southgate trouxe conhecimento técnico e mentalidade vencedora.

Nasce uma fera: engenharia e desafios do Toyota TS010

Toyota TS010: O carro de Le Mans tão brutal que quebrava ossos dos pilotos. Conheça a história do 'Bone Crusher' e sua dolorosa jornada ao pódio

Com Southgate e outros nomes como André de Cortanze (engenheiro francês especialista em aerodinâmica), a Toyota decidiu criar um carro explorando todas as brechas técnicas. O tempo era curto: menos de dois anos. O coração do TS010 era o Toyota RV10, um motor V10 aspirado de 3.5 litros. Ele girava a 11.000 RPM e produzia cerca de 650 cavalos.

A engenharia focou em eficiência térmica e lubrificação avançada (cárter seco). Materiais como ligas de titânio foram usados nas válvulas. O carro adotou fibra de carbono em larga escala. Testes em túnel de vento foram intensos para otimizar a aerodinâmica de efeito solo. Durante os testes iniciais, o piloto Geoff Lees notou instabilidade e pediu melhorias urgentes.

“Quebrador de ossos”: o preço físico da velocidade extrema

O TS010 era brutalmente rígido devido à construção em fibra de carbono. Isso gerava forças G absurdas. Em fevereiro de 1992, durante testes na Austrália, o lado sombrio do carro apareceu. Numa curva de alta velocidade (contornada a 315 km/h), havia um pequeno desnível. A combinação da ondulação, rigidez extrema e downforce (estimado entre 2200 a 3200 kg) criou uma pressão violenta nos pilotos.

O piloto Andy Wallace sentiu um estalo. Duas costelas quebradas instantaneamente. No dia seguinte, o japonês Ryōtarō Ogawa sofreu a mesma lesão, no mesmo ponto. O carro não absorvia impacto algum. O banco inflexível transmitia 100% das forças G. O TS010 ganhou o apelido de “Bone Crusher” (Quebrador de Ossos). Ajustes foram feitos para mitigar o problema sem perder performance.

A batalha em Le Mans e o legado do TS010

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A estreia oficial foi em Autópolis, com desafios mecânicos. Mas a prova real foi o Campeonato Mundial de Resistência de 1992, especialmente as 24 Horas de Le Mans. A Peugeot, com o 905 Evo 1B, era a favorita. O TS010 mostrou velocidade, classificando-se em segundo lugar com Geoff Lees.

Na corrida, o TS010, pilotado por Lees, Ogawa e David Brabham, liderou em alguns momentos, desafiando a Peugeot. O maior problema era o consumo de combustível mais alto do V10 japonês. A Peugeot administrava melhor as paradas. A batalha foi intensa durante a noite, com diferenças mínimas. Ao amanhecer, a Peugeot abriu vantagem. No final, o Peugeot 905 venceu. O Toyota TS010 chegou em um honroso segundo lugar. Foi o melhor resultado da Toyota em Le Mans até então.

O TS010 competiu em 1993, mas a era 3.5L estava acabando. A Toyota já planejava o TS020 (GT-One). Embora de vida curta, o legado do TS010 foi profundo. Serviu de base para futuros programas híbridos, como o TS050 Hybrid, que finalmente venceu Le Mans em 2018. O “Quebrador de Ossos” provou que a Toyota podia competir com os melhores e mudou a mentalidade da fábrica. Curiosamente, enquanto a Toyota lutava com o TS010, a Mazda tornou-se a primeira japonesa a vencer Le Mans em 1991, com o motor rotativo 787B, que depois foi banido.

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Bruno Teles

Falo sobre tecnologia, inovação, petróleo e gás. Atualizo diariamente sobre oportunidades no mercado brasileiro. Com mais de 7.000 artigos publicados nos sites CPG, Naval Porto Estaleiro, Mineração Brasil e Obras Construção Civil. Sugestão de pauta? Manda no brunotelesredator@gmail.com

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