Presidente da Toyota critica dependência total dos elétricos: saiba por que a montadora aposta em híbridos, hidrogênio e combustíveis sintéticos
Akio Toyoda, presidente do conselho da Toyota Motor Corporation, voltou a levantar um debate importante no mundo automotivo: será que apostar todas as fichas nos veículos 100% elétricos (BEVs) é mesmo a melhor saída para reduzir as emissões globais? Para ele, a resposta é não — e o motivo principal está longe de ser apenas uma questão de inovação.
Em entrevista recente, o executivo japonês destacou um ponto que costuma passar despercebido nas conversas sobre descarbonização: de onde vem a eletricidade que alimenta os BEVs. No Japão, por exemplo, aproximadamente 69% da energia elétrica ainda é gerada a partir de fontes termoelétricas, altamente poluentes. Ou seja, embora os carros elétricos não emitam gases do escapamento, sua pegada de carbono pode ser bem maior do que parece.
Híbridos x elétricos: os números da Toyota
Para defender seu argumento, Toyoda apresentou um comparativo interessante. Segundo ele, a Toyota já vendeu 27 milhões de veículos híbridos desde que lançou o pioneiro Toyota Prius, em 1997 — o primeiro carro híbrido de produção em série do mundo.
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Esse volume de vendas, segundo o presidente, representa uma redução de emissões equivalente à que seria alcançada com 9 milhões de BEVs circulando. Em outras palavras, a montadora japonesa já conseguiu um impacto ambiental significativo sem depender exclusivamente dos elétricos puros.
E essa não é uma visão isolada. Segundo análise da BloombergNEF, mesmo em mercados avançados, a transição completa para elétricos exige soluções complementares, como híbridos e tecnologias alternativas.
Uma estratégia tecnológica diversificada
Enquanto outras marcas apostam pesado na eletrificação total, a Toyota vem trilhando um caminho diferente. A ideia da empresa é oferecer um leque de tecnologias que se adaptem às necessidades energéticas e socioeconômicas de cada região.
Na prática, isso significa investir não só em BEVs, mas também em:
- Híbridos convencionais (HEVs)
- Híbridos plug-in (PHEVs)
- Veículos movidos a hidrogênio (FCEVs), como o Toyota Mirai
- Pesquisas com combustíveis sintéticos
Essa abordagem tem um lado pragmático. Segundo Toyoda, atender a uma demanda massiva por elétricos exigiria a construção de até 20 novas usinas térmicas apenas para cobrir picos de consumo de energia — o que, ironicamente, contraria o próprio objetivo de reduzir emissões.
E os carros elétricos? Fazem parte do plano
Embora não esteja 100% focada nos elétricos, a Toyota não pretende ficar para trás nesse segmento. A meta da empresa é vender 3,5 milhões de BEVs por ano até 2030. Em 2023, a produção ainda foi modesta, com cerca de 100 mil unidades, mas o ritmo deve acelerar nos próximos anos.
Por enquanto, os híbridos seguem como o carro-chefe da montadora, representando mais da metade das vendas globais em 2024. Já os elétricos puros, como o SUV Toyota bZ4X, ocupam uma fatia pequena, mas em crescimento.
Toyoda, no entanto, reforça que os BEVs terão seu espaço. Ele prevê que, no futuro, cerca de um terço do mercado global será ocupado por esses modelos. O executivo enfatiza que não existe uma única solução mágica para o problema climático, e que a escolha das tecnologias deve levar em conta a realidade energética de cada país.
Uma visão mais pé no chão
A mensagem final de Akio Toyoda é simples: o setor automotivo precisa de realismo tecnológico, não idealismo. Focar apenas nos BEVs, sem considerar o impacto da matriz elétrica e a viabilidade de infraestrutura, pode gerar novos problemas.
Nesse cenário, a Toyota pretende seguir liderando com soluções concretas e sustentáveis, que entreguem benefícios ambientais imediatos e respeitem as particularidades de cada mercado.
Como lembra o próprio executivo: “Não existe um único caminho para zerar as emissões. Precisamos de uma abordagem inteligente, baseada em dados e adaptada ao contexto global.”
Se você acompanha o mercado automotivo, vale ficar de olho. A guerra pelo futuro da mobilidade está só começando — e não será decidida apenas pela tomada elétrica.