Durante séculos, o Rio Danúbio marcou o limite do poder romano na Europa. Ao longo de suas margens, os romanos ergueram fortificações para conter avanços inimigos. Agora, uma descoberta na Croácia revela detalhes inéditos dessa estratégia defensiva. Uma torre de vigia com 1.800 anos foi desenterrada em Mohovo, lançando nova luz sobre a atuação do exército de Marco Aurélio na proteção do império.
Arqueólogos descobriram os restos de uma torre de vigia romana de 1.800 anos na vila de Mohovo, na Croácia. A estrutura foi construída durante o reinado do imperador Marco Aurélio, com o objetivo de reforçar a proteção do “limes”, fronteira natural do Império Romano ao longo do Rio Danúbio.
O local escolhido para a construção não foi por acaso. Segundo Marko Dizdar, líder da pesquisa e membro do Instituto de Arqueologia de Zagreb, a torre ficava em uma travessia importante do rio.
A posição elevada permitia o controle visual de uma ampla área e garantia proteção natural em três lados, graças a ravinas profundas.
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Função militar e sistema de comunicação
A torre fazia parte de uma rede de observação. Estava a uma distância de 2 a 3 quilômetros de outras torres, possibilitando comunicação visual rápida.
Em caso de ameaça, os soldados ali posicionados podiam alertar guarnições próximas, como as de Ilok e Sotin, situadas a cerca de 12 quilômetros.
Esse sistema reforçava a resposta defensiva do império contra invasões de tribos ao norte do Danúbio.
Durante as Guerras Marcomânicas, entre 166 e 180 d.C., os romanos enfrentaram diversos povos, incluindo os marcomanos germânicos e os sármatas nômades, o que levou à construção de estruturas militares na região.
Achados arqueológicos e vestígios militares
A escavação em Mohovo revelou objetos que confirmam a origem romana da torre.
Foram encontrados equipamentos militares, broches e vasos de cerâmica.
Esses itens indicam que a estrutura foi construída no final do século II d.C. e continuou em uso no século III.
Dizdar explicou que a torre possuía cerca de 40 por 30 metros. Ela era cercada por valas profundas e uma paliçada de madeira, com uma construção central também de madeira.
Esse tipo de defesa dificultava o acesso de invasores e dava tempo para os soldados se prepararem para possíveis ataques.
Descoberta gradual e confirmação recente
A torre foi localizada após anos de pesquisas no leste da Croácia.
Os arqueólogos identificaram o sítio arqueológico pela primeira vez em levantamentos realizados entre 2003 e 2023, durante os quais foram mapeados cerca de 10 locais com possíveis estruturas defensivas.
Em 2020, um levantamento geomagnético indicou a presença de construções subterrâneas. No entanto, apenas em 2024 escavações experimentais confirmaram a existência da torre.
A escavação completa, realizada em abril de 2025, trouxe à luz as principais características da estrutura e confirmou sua importância estratégica.
Mudanças ao longo dos séculos
A torre de Mohovo passou por pelo menos três fases de construção, mostrando que ela foi reforçada ao longo do tempo.
No século IV, ela provavelmente foi substituída por um forte menor com uma torre, de acordo com Dizdar. A equipe planeja investigar essa transição em escavações futuras.
Essa alteração coincidiu com mudanças na política e nas ameaças da época.
Durante o século IV, os romanos, que até então mantinham comércio com os sármatas, passaram a enfrentar novas incursões germânicas na região do Danúbio. Isso exigiu o fortalecimento da fronteira e o aumento das tropas.
O projeto de escavação faz parte de um esforço maior para incluir os sítios arqueológicos da região na lista de Patrimônios Mundiais da UNESCO. A descoberta em Mohovo é considerada a primeira torre de vigia do Limes sistematicamente escavada na Croácia.
Além da torre romana, os pesquisadores encontraram estruturas que remontam à Idade do Cobre, Idade do Bronze, Idade do Ferro e até à Idade Média. Isso mostra que o local foi habitado por diferentes povos ao longo de milênios, o que amplia ainda mais seu valor histórico e arqueológico.