Edifício projetado por Zaha Hadid em Miami, o One Thousand Museum desafia até furacões de categoria 5 com sua engenharia bilionária — mas enfrenta um dilema: ninguém quer morar lá.
No coração de Miami, uma estrutura futurista chama atenção tanto pela estética ousada quanto pela resistência extrema. O edifício One Thousand Museum, projetado pela renomada arquiteta Zaha Hadid, foi concebido para enfrentar até mesmo os furacões de categoria 5 — os mais destrutivos do Atlântico. Com um design biomórfico e estrutura de concreto reforçado, a torre é uma das mais ambiciosas já construídas na Flórida.
Mas há um problema que nem mesmo os engenheiros ou arquitetos previram: o prédio está praticamente vazio. Apesar de ser um dos edifícios mais seguros e luxuosos da cidade, muitos apartamentos seguem sem compradores ou moradores. O motivo? Uma combinação de fatores que vão desde o preço altíssimo até questões de mercado imobiliário e perfil dos investidores.
Uma obra-prima projetada por Zaha Hadid
O edifício One Thousand Museum é uma das últimas criações assinadas pela arquiteta anglo-iraquiana Zaha Hadid antes de sua morte em 2016. Famosa por seus projetos com curvas fluidas, Hadid idealizou a torre como um ícone escultural no skyline de Miami. São 62 andares e mais de 216 metros de altura, com uma fachada curva inspirada em estruturas orgânicas e um exoesqueleto de concreto de alta performance.
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Este exoesqueleto, além de dar identidade visual única, atua como reforço estrutural para resistir a ventos de até 250 km/h, típicos de furacões de categoria 5. Essa resistência fez com que o prédio fosse apelidado de “fortaleza vertical”.
Localização privilegiada e infraestrutura milionária
Localizado na Biscayne Boulevard, o edifício One Thousand Museum oferece vista panorâmica da Baía de Biscayne e está a poucos minutos de museus, restaurantes e centros comerciais. Sua infraestrutura inclui:
- Heliponto privativo no topo do prédio
- Piscina aquecida indoor
- Spa completo com sauna e sala de massagens
- Salão de eventos com vista 360º
- Academia com equipamentos de última geração
- Cofres blindados individuais no subsolo
Cada apartamento ocupa meio andar ou andar inteiro, com áreas que variam entre 430 m² e mais de 1.100 m². Os interiores foram pensados para atender ao mercado de altíssimo padrão, com acabamentos importados da Europa e automação de última geração.
Por que ninguém quer morar no edifício projetado para resistir a furacões?
Apesar de sua arquitetura inovadora e segurança ímpar, o edifício One Thousand Museum enfrenta dificuldades para atrair compradores. De acordo com registros públicos e reportagens da Bloomberg, The Real Deal e The Wall Street Journal, o índice de ocupação segue muito abaixo do esperado mesmo anos após sua inauguração.
Entre os principais motivos, destacam-se:
Preço exorbitante
As unidades do edifício custam entre US$ 5 milhões e US$ 25 milhões, e o apartamento triplex no topo, conhecido como “penthouse presidencial”, foi anunciado por mais de US$ 45 milhões. Esse valor o coloca entre os imóveis mais caros da cidade, o que restringe o público a um nicho de ultrarricos que já possuem outras propriedades de luxo.
Altos custos de manutenção
Além do valor de aquisição, os condôminos precisam arcar com altas taxas mensais de manutenção, que podem ultrapassar os US$ 10 mil por mês, segundo dados divulgados em registros imobiliários locais. O custo elevado tem espantado investidores que preferem imóveis de alto padrão com menor despesa recorrente.
Oferta superior à demanda
Miami tem visto um boom de arranha-céus de luxo nos últimos anos, como os edifícios Aston Martin Residences, Elysee e Missoni Baia. Com tanta oferta no segmento ultraluxo, há mais imóveis de alto padrão do que compradores efetivamente interessados em residir na cidade, resultando em estoque encalhado.
Perfil de investimento, não de moradia
Boa parte dos compradores desses imóveis são estrangeiros ou bilionários que usam as unidades como investimento — e não como residência. Isso faz com que os apartamentos fiquem desocupados por longos períodos, transformando o prédio em um “fantasma do luxo”.
O marketing não faltou: One Thousand Museum – a torre que “desafia a natureza”
Quando foi lançado, o edifício projetado por Zaha Hadid foi apresentado como um símbolo de engenharia e luxo. O marketing apostava na narrativa de ser uma das poucas estruturas do mundo preparadas para sobreviver a um furacão de categoria 5 — algo que nem todos os condomínios de Miami podem garantir.
Essa promessa, somada ao nome de Hadid, atraiu atenção global. Inclusive, celebridades como David Beckham e bilionários da América Latina chegaram a visitar o empreendimento. No entanto, a adesão não se converteu em vendas sustentáveis.
Zaha Hadid: a arquiteta que virou marca global
A assinatura de Zaha Hadid já foi suficiente para transformar prédios em ícones da arquitetura mundial. Seus projetos incluem:
- Heydar Aliyev Center, no Azerbaijão
- MAXXI Museum, em Roma
- Galaxy SOHO, em Pequim
- Estádio Al Wakrah, no Catar
A torre One Thousand Museum foi o primeiro edifício residencial de grande porte da arquiteta nos Estados Unidos. A própria Hadid descreveu o projeto como um dos mais ousados de sua carreira, justamente pela complexidade do exoesqueleto estrutural.
Tecnologia de construção única no mundo presente na torre do edifício One Thousand Museum
A construção do edifício utilizou concreto de ultra performance (UHPC), material raramente empregado em arranha-céus residenciais devido ao alto custo e complexidade logística. Segundo o CTBUH (Council on Tall Buildings and Urban Habitat), o sistema estrutural usado no One Thousand Museum é inédito em torres dessa tipologia, e exige conhecimento técnico especializado até para pequenas manutenções.
A obra também exigiu a importação de materiais da Europa, e grande parte da estrutura foi moldada sob medida no local, o que elevou o custo da construção para aproximadamente US$ 300 milhões, conforme dados da Forbes e da Construction Dive.
Miami: luxo em excesso e vizinhança concorrida
O edifício está situado em uma das áreas mais valorizadas de Miami, o Biscayne Corridor, cercado por outras torres de altíssimo padrão. O problema é que a concentração de imóveis de luxo no mesmo perímetro gerou saturação no mercado, com muitos edifícios disputando os mesmos poucos compradores.
Além disso, alguns moradores da cidade alegam que preferem prédios com espaços comuns mais abertos ou menos rígidos em termos de regras de segurança e acesso, enquanto o One Thousand Museum tem restrições severas de acesso e operação por conta do heliponto e da estrutura militarizada.
O edifício One Thousand Museum resiste ao vento, mas não ao mercado?
Mesmo sendo um dos edifícios mais seguros dos Estados Unidos contra furacões, com certificações avançadas de resistência estrutural, o One Thousand Museum não escapa das leis da oferta e da procura. O que se vê é uma torre monumental que virou ponto turístico, mas que continua com várias unidades à venda ou para alugar por valores astronômicos.
A pergunta que se impõe é: vale a pena investir tanto em um prédio inabitado? Enquanto alguns acreditam que o imóvel ganhará valorização com o tempo, outros enxergam um símbolo da exuberância exagerada do mercado imobiliário de Miami, onde nem mesmo uma obra de Zaha Hadid consegue garantir liquidez.
O edifício One Thousand Museum é, sem dúvida, um marco da engenharia contemporânea. Projetado para resistir às forças da natureza mais destrutivas e assinado por uma das mentes mais brilhantes da arquitetura mundial, o prédio representa uma fusão entre arte, ciência e segurança.
Mas também é um alerta: nem sempre a beleza, a resistência e o luxo garantem sucesso de vendas ou ocupação. O mercado imobiliário é influenciado por fatores econômicos, sociais e até psicológicos. E, por enquanto, o que se vê no alto da Biscayne Boulevard é uma torre bilionária que resiste aos furacões — mas ainda busca resistir à rejeição do público.