O Banco Central confirmou que o Drex será lançado em 2026 e reacendeu discussões sobre liberdade financeira e controle estatal. Thiago Nigro, do canal O Primo Rico, que explicou em detalhes como a moeda digital deve funcionar e quais riscos pode trazer
O Banco Central anunciou oficialmente que o Drex, a moeda digital brasileira, será lançado em 2026. O projeto, que começou a ser desenvolvido há alguns anos e sofreu diversas mudanças, é apontado como uma transformação profunda na forma como os brasileiros lidam com o dinheiro.
O tema divide opiniões porque levanta questionamentos sobre privacidade, liberdade e o papel do Estado no sistema financeiro.
As informações reunidas neste artigo têm como base uma análise publicada pelo influenciador financeiro Thiago Nigro, do canal O Primo Rico no YouTube. Em seu vídeo, ele detalha o funcionamento do Drex.
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O que é o Drex
O Drex é uma CBDC (Central Bank Digital Currency), ou moeda digital de banco central.
Trata-se de uma versão oficial e digital da moeda de um país, emitida e controlada diretamente pela autoridade monetária.
Na prática, isso significa que todas as transações passam pelo Banco Central, que tem a capacidade de supervisionar e registrar os movimentos financeiros em tempo real.
Hoje, o cidadão mantém sua conta em bancos de varejo, como Itaú, Bradesco ou Santander, enquanto o Banco Central atua como regulador.
Com o Drex, o governo passaria a ser emissor e gestor direto da moeda digital, sem depender dos bancos tradicionais como intermediários.
Modelos de CBDC
Existem dois modelos principais de CBDCs. O primeiro é o modelo direto, no qual cada pessoa teria uma conta no Banco Central.
Nesse formato, os bancos de varejo perdem relevância porque deixam de deter os depósitos, reduzindo sua capacidade de oferecer crédito.
Esse modelo já foi adotado pela China em 2020 com o Yuan Digital, que funciona em paridade com a moeda física e diminui o espaço dos bancos privados.
O segundo formato é o modelo intermediado, no qual o Banco Central continua como emissor, mas os bancos privados seguem existindo como interface para os clientes.
Assim, mantêm sua função de oferecer crédito e serviços financeiros, ainda que sob uma nova estrutura.
Onde o Drex se encaixa
O Brasil deve seguir o modelo intermediado, também chamado de atacado.
Nesse caso, o Drex não será direcionado ao uso cotidiano de pessoas físicas ou pequenos comércios, mas funcionará como ferramenta de bastidores para grandes instituições financeiras.
Isso reduz riscos de controle direto do dinheiro dos cidadãos, pelo menos na fase inicial do projeto.
Essa escolha também responde às preocupações com a liberdade individual. O modelo direto, de varejo, poderia permitir ao governo rastrear e bloquear recursos com facilidade.
Já o intermediado mantém uma barreira entre cidadão e Estado, preservando parte da autonomia financeira.
Exemplos internacionais
A adoção de moedas digitais por bancos centrais já ocorreu em outros países, com diferentes resultados. A Nigéria lançou a eNaira em 2021.
Estudos apontaram que a moeda trouxe preocupações sobre privacidade, porque o governo passou a monitorar transações de forma centralizada. A rejeição popular foi alta, e o uso permanece limitado.
Nas Bahamas, o governo criou o Sand Dollar, mas enfrentou dificuldades semelhantes.
Como a população não aderiu espontaneamente, os bancos foram obrigados a distribuir a moeda.
Esses exemplos reforçam a desconfiança de que, em alguns contextos, as CBDCs acabam centralizando poder nas mãos do governo e reduzindo a liberdade de escolha dos cidadãos.
Mudanças no projeto brasileiro
O Drex sofreu diversas alterações desde sua concepção em 2020. Inicialmente chamado de real digital, confundiu parte da população, que acreditou no fim da moeda física.
O nome foi alterado para evitar mal-entendidos. Além disso, o projeto já previa o uso de blockchain, tecnologia que garante descentralização e transparência, mas essa ideia foi abandonada.
Segundo Fábio Araújo, coordenador do projeto piloto, o Banco Central decidiu priorizar uma solução de reconciliação de garantias de crédito.
Na prática, isso permitirá que bancos verifiquem se um mesmo ativo já está comprometido em outros empréstimos. Assim, evita-se que, por exemplo, um carro seja oferecido como garantia em mais de uma operação ao mesmo tempo.
O Drex, nessa nova configuração, deixa de ser uma moeda de uso direto da população e passa a ser uma ferramenta para reduzir fraudes e aumentar a segurança do sistema de crédito.
O impacto no dia a dia
Para o cidadão comum, o Drex, ao menos em sua fase inicial, será praticamente invisível.
Ele funcionará como instrumento de bastidores para bancos e instituições financeiras, sem substituir o real físico, nem ferramentas como o Pix.
O Pix, criado para facilitar transferências instantâneas, segue funcionando de forma independente e não será substituído pelo Drex.
Apesar disso, especialistas levantam dúvidas sobre o futuro. Se no futuro o governo decidir migrar para um modelo de varejo, os riscos de centralização aumentam.
Nesse cenário, seria possível limitar gastos, bloquear recursos ou até impor prazos de validade para o dinheiro digital.
A questão da liberdade
O grande debate em torno das CBDCs gira em torno do equilíbrio entre eficiência e liberdade.
Enquanto o modelo intermediado é visto como uma solução mais segura, a possibilidade de mudança para um formato direto desperta receios.
A experiência internacional mostra que governos podem usar moedas digitais como instrumentos de controle.
Na prática, um sistema desse tipo poderia permitir bloqueios de contas de pessoas envolvidas em protestos, restrições de doações ou limites de consumo em determinados setores.
Embora o Drex não preveja isso atualmente, a tecnologia abre espaço para esse tipo de aplicação no futuro.
O Bitcoin, por exemplo, funciona de forma descentralizada e independente do governo. Desde que o usuário mantenha as chaves de sua carteira, não há como o Estado bloquear ou manipular seus saldos.
Outra opção são as stablecoins, como o USDT, que têm paridade com o dólar e oferecem mais estabilidade de preço.
Além disso, manter recursos em instituições financeiras no exterior pode ser uma alternativa, embora exija conhecimento técnico e consultoria especializada.
Futuro em aberto
Apesar do anúncio oficial de lançamento em 2026, o Drex ainda é um projeto em transformação.
Mudanças recentes, como a retirada do blockchain, mostram que a proposta pode ser ajustada de acordo com os interesses do Banco Central e do governo.
Enquanto isso, o debate público segue dividido. De um lado, defensores enxergam o Drex como ferramenta para modernizar o sistema financeiro e reduzir riscos de fraude.
De outro, críticos alertam para os perigos da centralização e da possível perda de liberdade financeira.
O Drex não é uma evolução do Pix, nem uma substituição imediata da moeda física.
Ele nasce como instrumento de bastidores, focado em grandes operações financeiras, mas traz consigo um potencial de transformação que preocupa parte da sociedade.