Os preços dos carros no Brasil já subiram bem acima da inflação nos últimos anos e podem acelerar ainda mais. Segundo Tiago Nigro, fatores como aumento do uso de aço, mudanças no IPI e tarifas internacionais podem provocar novos reajustes no mercado automotivo nacional.
Os preços dos carros no Brasil podem entrar em uma nova fase de alta nos próximos meses, segundo análise apresentada por Tiago Nigro. Para ele, há uma combinação de fatores que empurra os valores para cima, mesmo após anos de aumentos contínuos desde a pandemia.
Em 2016, por exemplo, um Fiat Mobi zero custava R$ 31.900. Hoje, o mesmo modelo parte de R$ 79.060, uma alta de 148%, enquanto o IPCA no período foi de 63%. Isso indica que os automóveis subiram muito acima da média da economia.
Peso maior e mais aço encarecem os veículos
Um dos principais motivos apontados é o aumento de peso dos carros, que exige mais aço e componentes tecnológicos. O Fiat Uno, por exemplo, passou de 765 kg no ano 2000 para mais de 1 tonelada em 2020. Esse acréscimo de cerca de 265 kg eleva os custos de produção.
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Segundo Nigro, isso ocorre porque os governos passaram a exigir cada vez mais equipamentos de segurança. Desde 2014, airbags duplos e freios ABS são obrigatórios no Brasil.
Em 2020, passou a ser exigido o controle eletrônico de estabilidade. Em 2021, os faróis de rodagem diurna se tornaram compulsórios, e a União Europeia incluiu mais 11 sistemas de segurança em 2022.
Para suportar essa parafernália, as montadoras reforçam a estrutura dos veículos, incorporando mais aço automotivo — material bem mais caro que o aço comum.
Enquanto o aço comum custa cerca de R$ 9 o kg, o automotivo varia entre R$ 9 e R$ 35. Assim, só os 265 kg adicionais podem representar R$ 6.625 a mais no preço final.
Além disso, de 2000 a 2020 o preço do aço triplicou, passando de R$ 200 para R$ 600 a tonelada. Com mais dispositivos, mais aço e um insumo mais caro, os veículos ficaram mais pesados e muito mais caros para o consumidor.
Mudanças no IPI podem alterar valores de mercado
Outro fator que pode pressionar os preços é o recente decreto do presidente Lula, que prevê alíquota de IPI zerada para alguns carros até 2026. O IPI, imposto cobrado na produção de bens industrializados, representa cerca de 6,3% do valor do carro.
A redução, porém, depende de critérios. Carros elétricos recebem desconto de 2%. Flex não têm alteração. Já gasolina e diesel terão aumento — de 6,5% e de 12% para 18%, respectivamente.
Também entram na conta critérios como eficiência energética, potência abaixo de 115,5 cavalos, presença de tecnologias de segurança e reciclabilidade de componentes.
Apesar disso, 76,2% da frota brasileira é flex e não sofrerá mudança, enquanto 11,5% é a gasolina e 11,7% a diesel, que terão aumento. Com isso, boa parte dos veículos pode ficar mais cara, enquanto poucos devem realmente baratear.
Nigro levanta ainda a dúvida se os eventuais descontos seriam repassados ao consumidor.
Para ele, as montadoras podem preferir incorporar essa redução como margem de lucro, mantendo os preços. Com isso, carros usados e importados tendem a ficar mais caros.
Tarifas internacionais afetam aço e carros importados
O terceiro motivo citado são as tarifas impostas por Donald Trump sobre veículos estrangeiros vendidos nos Estados Unidos, o chamado “tarifaço”. Essa medida deve encarecer os carros no mercado americano e levar montadoras a direcionar o excedente de produção para outros países, como o Brasil.
Num primeiro momento, isso pode aumentar a oferta de carros no país, mas com tarifas embutidas, o que deve elevar os preços no médio prazo. Além disso, os carros novos usam mais aço, e o Brasil é um dos países com maiores tarifas sobre o produto.
O Brasil exporta 48% de seu aço para os Estados Unidos, pagando tarifas, e depois importa carros com esse aço de volta, agora com tarifas ainda maiores. Esse ciclo faz o custo do aço subir e as montadoras repassarem o aumento aos veículos.
Quando os carros novos ficam mais caros, a procura por usados cresce. Com maior demanda, os preços dos usados também sobem, alimentando o ciclo de alta no setor automotivo.
Alívio parcial, mas pressão deve continuar
Recentemente, foi anunciado que produtos manufaturados de aço e alumínio brasileiros terão redução da alíquota de importação de 50% para 25% nos Estados Unidos. Essa mudança pode aliviar parte da pressão sobre os custos.
Mesmo assim, ainda há tarifas que não existiam antes. Para Nigro, isso continua impulsionando os preços dos veículos, mantendo a tendência de aumento no mercado automotivo brasileiro.