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Tesouros do Brasil vivem no exterior: parte da nossa história artística foi levada para longe, e hoje encanta estrangeiros enquanto o País vê seu legado se dispersar

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 10/11/2025 às 09:53
Obras de arte brasileiras em museus estrangeiros, como Abaporu de Tarsila do Amaral e o busto de Dom Pedro I, representando o legado cultural do Brasil no exterior
O Brasil exportou parte de sua história artística: pinturas, esculturas e murais de nomes como Tarsila do Amaral e Portinari hoje integram coleções em Nova York, Paris e Londres
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Grande parte da arte brasileira está fora do País. Obras que nasceram aqui hoje pertencem a museus e coleções estrangeiras, simbolizando tanto o reconhecimento mundial quanto a perda de um patrimônio nacional

A arte brasileira é celebrada por sua originalidade e riqueza cultural, mas grande parte de seu legado permanece fora do País. Seja por encomendas internacionais, vendas em leilões ou doações diplomáticas, várias obras que representam o Brasil em sua essência estão hoje em museus e coleções estrangeiras.

De Tarsila do Amaral a Candido Portinari, o patrimônio artístico nacional atravessou fronteiras e conquistou espaço em instituições de prestígio mundial.

O busto de Dom Pedro I e o maior acervo brasileiro fora do País

Entre os exemplos mais notáveis está o busto de Dom Pedro I, esculpido em 1826 pelo francês Marc Ferrez, que vivia no Brasil. Criado quando o imperador tinha apenas 27 anos, o busto foi moldado inicialmente em gesso e depois fundido em bronze em Paris. Hoje, faz parte da coleção da Biblioteca Oliveira Lima, na Universidade Católica da América, em Washington.

O acervo, doado pelo diplomata pernambucano Manuel de Oliveira Lima, é considerado o maior conjunto de obras e documentos brasileiros no exterior. São cerca de 40 mil volumes, mais de 200 mil páginas de correspondências e 600 obras de arte, entre pinturas, gravuras e mapas históricos. Ali, estão manuscritos e cartas de figuras como Machado de Assis, Lima Barreto, Gilberto Freyre e Joaquim Nabuco, que ajudam a contar a história do Brasil através de seus protagonistas intelectuais.

Abaporu: o ícone do modernismo brasileiro que vive em Buenos Aires

Poucas obras sintetizam tanto o modernismo nacional quanto o “Abaporu”, de Tarsila do Amaral. Pintado em 1928 como presente a Oswald de Andrade, o quadro passou por uma longa jornada antes de chegar à Argentina. Depois de ser vendido a Pietro Maria Bardi e, mais tarde, a outros colecionadores, a pintura foi leiloada em 1995 em Nova York.

O comprador foi o empresário argentino Eduardo Costantini, que pagou cerca de US$ 1,4 milhão — um valor modesto se comparado à estimativa atual de mais de US$ 18 milhões. A aquisição gerou polêmica, já que o governo paulista tentou impedir a saída do quadro do Brasil, considerando-o patrimônio histórico. Costantini declarou na época que não era um estudioso do modernismo, mas que desejava reunir as obras mais importantes da arte latino-americana.

Em 2001, ele fundou o Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (MALBA) e doou mais de 200 obras de seu acervo, incluindo o Abaporu, que hoje é uma das peças mais visitadas do museu, ao lado de obras de Frida Kahlo, Diego Rivera e Candido Portinari.

O olhar brasileiro em Paris: Di Cavalcanti e “Danse Populaire Brésilienne”

Em 1937, Di Cavalcanti se mudou para Paris e criou uma de suas pinturas mais emblemáticas: “Danse Populaire Brésilienne”. A obra foi adquirida pelo governo francês após uma exposição e faz parte hoje do acervo do Museu de Arte Moderna de Paris.

O quadro reflete o estilo vibrante de Cavalcanti, que retratava a vida cotidiana das mulheres brasileiras, inspirando-se nas cores e nas formas populares do País. A influência do artista francês Fernand Léger, de quem Cavalcanti era amigo, é visível nas linhas geométricas e na harmonia cromática da composição. Sua visão de um Brasil sensual e popular atravessou fronteiras e consolidou seu nome entre os grandes da arte latino-americana.

Os Bólides de Hélio Oiticica: quando o público vira parte da obra

Nos anos 1960, Hélio Oiticica reinventou a arte brasileira com sua série “Bólides”, um conjunto de caixas feitas de madeira, vidro e plástico que convidavam o público à interação. Dentro delas, havia elementos naturais e simbólicos como terra, água, espelhos e poemas.

A proposta era romper a barreira entre obra e espectador, transformando a arte em experiência. Hoje, os Bólides estão espalhados por museus de todo o mundo. O MoMA e o Metropolitan Museum, em Nova York, possuem exemplares; a Tate Modern, em Londres, e o Reina Sofía, em Madri, também abrigam diferentes versões dessa série que redefiniu os limites da arte contemporânea.

“A Lua”, de Tarsila do Amaral: a consagração definitiva no MoMA

Outra joia da arte brasileira que cruzou o oceano é “A Lua”, também de Tarsila do Amaral. Pintado em 1928, o quadro foi adquirido em 2019 pelo Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) por cerca de US$ 20 milhões, segundo estimativas não confirmadas.

A tela pertenceu por décadas à família Feffer, fundadora da Suzano, e sua venda consolidou Tarsila como a artista brasileira mais valorizada da história. Para a sobrinha-neta da pintora, também chamada Tarsila do Amaral, a compra simbolizou o reconhecimento internacional da artista e da arte moderna nacional, colocando-a no mesmo patamar de nomes como Picasso e Matisse.

Babel: o som da diversidade segundo Cildo Meireles

A escultura “Babel”, criada por Cildo Meireles, é uma das obras brasileiras mais emblemáticas do século XXI. Trata-se de uma torre de cinco metros de altura construída inteiramente com rádios empilhados, todos sintonizados em estações diferentes, em volume baixo.

A peça representa uma metáfora moderna da Torre de Babel bíblica, evocando a ideia de comunicação e caos. Iniciada em 1990 e concluída apenas em 2001, “Babel” foi adquirida em definitivo pela Tate Modern, de Londres, em 2013, e tornou-se um símbolo da multiplicidade cultural e da força poética da arte brasileira contemporânea.

Guerra e Paz: o legado universal de Candido Portinari

Entre os maiores legados da arte brasileira no exterior estão os murais “Guerra e Paz”, de Candido Portinari, instalados na sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York. Encomendados na década de 1950, os painéis representam a contribuição do Brasil à cultura universal e foram doados à ONU em 1957.

Em 2015, os murais passaram por uma grande restauração. Na cerimônia de reinauguração, o então Secretário-Geral Ban Ki-moon destacou que as obras de Portinari não eram apenas arte, mas um chamado à reflexão sobre o preço da guerra e o valor da paz. “Todos os líderes que entram nas Nações Unidas veem nelas o sonho universal pela paz”, afirmou.

Um patrimônio brasileiro espalhado pelo mundo

Essas obras, criadas por artistas que definiram a identidade estética do Brasil, hoje pertencem ao acervo global da humanidade. Embora fora do território nacional, elas continuam a representar o espírito criativo e a profundidade cultural do País, lembrando que a arte brasileira, mesmo distante, segue viva e inspirando o mundo.

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Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, vivendo no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Escrevo artigos sobre temas complexos em uma linguagem acessível, mantendo rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico

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