Arquipélago capixaba a 1.140 km do continente reúne o Vulcão do Paredão, cristais raros como hauynita, biodiversidade única e uma história de cobiça internacional no Atlântico Sul.
A Ilha da Trindade, no Espírito Santo, é pouco lembrada quando o assunto são vulcões. Mas ali, no extremo leste do Brasil, o Vulcão do Paredão marca a atividade mais recente do vulcanismo brasileiro e ajuda a explicar um território jovem, nascido há poucos milhões de anos. Segundo a Marinha do Brasil, Trindade fica a 1.140 km de Vitória e abriga a principal base científica e militar do país em mar aberto.
Estudos geológicos situam o arquipélago como a ponta oriental da Cadeia Vitória–Trindade, alinhamento de montes submarinos formado por um hotspot que perfurou a crosta oceânica. O resultado são rochas alcalinas e domos fonolíticos que esculpiram a paisagem íngreme da ilha.
No meio dessa natureza, a ilha guarda minerais raros e populações de samambaias gigantes e tartarugas-verdes, além de um passado de disputas internacionais, inclusive uma batalha naval na Primeira Guerra Mundial.
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Onde fica a Ilha da Trindade e por que ela é estratégica
Trindade integra o arquipélago Trindade e Martim Vaz, pertencente ao Espírito Santo, em plena “Amazônia Azul”. A distância do continente e a presença do Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade (POIT) ampliam a soberania brasileira sobre uma vasta Zona Econômica Exclusiva.
A Marinha do Brasil mantém ali pesquisas em geologia, oceanografia e biodiversidade, além de logística para monitoramento ambiental. Em 2018, a área foi incorporada a um dos maiores conjuntos de unidades de conservação marinhas do país, reforçando o caráter científico e de proteção.
O relevo acidentado, com picos próximos de 600 m, revela a origem vulcânica. Levantamentos morfométricos descrevem encostas íngremes, vales estreitos e praias de seixos e areias escuras, traços comuns de ilhas vulcânicas jovens. Em termos geológicos, três a quatro milhões de anos é “ontem”.
Como nasceu o Vulcão do Paredão e qual foi a última erupção
A origem de Trindade está ligada a um hotspot que edificou a Cadeia Vitória–Trindade. O Vulcão do Paredão, no sudeste da ilha, é reconhecido como o último vulcão subaéreo do Brasil, com depósitos de escórias e fluxos piroclásticos ainda preservados.
Há consenso de que a atividade mais recente é do Pleistoceno. A literatura científica reporta idades inferiores a 350 mil anos para os eventos finais; já a Marinha divulga valor aproximado de 50 mil anos para a última erupção. Em síntese, trata-se de atividade “recente” na escala geológica, porém não há erupções no Holoceno.
A paisagem do Paredão, com paredões íngremes e litoral recortado — reflete essa história. Trabalhos estratigráficos e mapeamentos recentes detalham as litofácies do cone e sua relação com domos fonolíticos da ilha.
Biodiversidade única: samambaias gigantes e o maior berçário de tartaruga-verde no Brasil
O isolamento favoreceu a presença de espécies endêmicas. Entre as plantas, destaca-se a samambaia gigante (Cyathea copelandii), que domina as áreas úmidas de altitude. É um símbolo da vegetação de Trindade.
No mar, a ilha abriga o principal sítio reprodutivo da tartaruga-verde (Chelonia mydas) no país. Dados recentes de ICMBio/Tamar confirmam a concentração recorde de ninhos em praias de Trindade, superando outras ilhas oceânicas brasileiras. Conservação e ciência caminham juntas.
A avifauna também é destaque: o arquipélago é área reprodutiva confirmada da pardela-de-trindade (Pterodroma arminjoniana), endêmica e alvo de atenção de organizações internacionais de conservação de aves.
Minerais raros, “metais preciosos” e lendas de tesouro
A geologia alcalina da ilha expõe minerais pouco comuns, como a hauynita (do grupo da sodalita), registrada historicamente em Trindade e Martim Vaz e citada em catálogos mineralógicos. É um achado raro no Brasil.
Também há registros de magnetita, cromita, piroxênios e feldspatos associados às rochas vulcânicas locais, o que sustenta o interesse científico em petrologia e geoquímica. Não há mineração ativa nem autorização de exploração na área protegida.
Menções populares a “metais preciosos” vêm, em parte, de relatos de tesouros de piratas atribuídos à ilha desde o século XIX. São lendas conhecidas, sem confirmação histórica de achados, que resistem no imaginário de navegadores.
Disputas e guerra: de Edmund Halley à Batalha de Trindade
Descoberta para os europeus em 1502 por Estêvão da Gama, Trindade atraiu interesse pela posição estratégica no Atlântico Sul. Em 1700, o astrônomo Edmund Halley tentou tomar posse da ilha em nome da Coroa Britânica; no fim do século XIX, os britânicos voltaram a reivindicar presença, contida pela diplomacia brasileira.
Durante a Primeira Guerra Mundial, a costa da ilha foi palco da Batalha de Trindade: em 14 de setembro de 1914, o HMS Carmania afundou o Cap Trafalgar, cruzador auxiliar alemão, pondo fim a uma base secreta de apoio no arquipélago. O episódio consolidou a relevância estratégica do local.
Hoje, além do valor histórico, Trindade é alvo de estudos sobre impactos modernos, como a formação de “rochas” com plástico fundido encontrado em praias, fenômeno descrito por universidades brasileiras desde 2023.
A ilha não é aberta ao turismo. O acesso é restrito a missões da Marinha e a projetos de pesquisa autorizados. Essa regra busca proteger a fauna, as formações geológicas e a segurança da guarnição. É ciência, conservação e soberania em primeiro plano.
No seu lugar, você abriria Trindade a visitações controladas para educação ambiental ou manteria o acesso restrito por segurança e conservação? Comente abaixo: o Brasil deve priorizar a pesquisa e a proteção total ou testar modelos de turismo científico bem regulado, como ocorre em outras ilhas oceânicas?