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Terraços de arroz em Banaue escalam montanhas a 1.500 m de altura: a paisagem esculpida à mão pelo povo Ifugao revela engenharia social e ecológica únicas

Escrito por Carla Teles
Publicado em 03/11/2025 às 14:07
Terraços de arroz em Banaue escalam montanhas a 1.500 m de altura a paisagem esculpida à mão pelo povo Ifugao revela engenharia social e ecológica únicas
Como os terraços de arroz de Banaue foram feitos? Veja a engenharia social e ecológica do povo Ifugao para esculpir montanhas a 1.500m sem ferramentas modernas.
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Entenda como o povo Ifugao esculpiu os terraços de arroz de Banaue de 1.500m sem ferramentas modernas, usando uma “tecnologia” social e ecológica.

Nas remotas montanhas das Filipinas, os terraços de arroz de Banaue representam uma das mais espetaculares proezas da engenharia humana. Frequentemente aclamados como a “Oitava Maravilha do Mundo“, estes degraus verdes que atingem 1.500 metros de altitude foram esculpidos nas encostas íngremes. Segundo a UNESCO, que os classifica como Património Mundial, eles não são uma ruína estática, mas uma “paisagem cultural viva“, moldada há cerca de 2.000 anos por um conhecimento ancestral profundo.

Esta monumental obra, que se alinhada se estenderia por metade da circunferência da Terra, foi construída inteiramente à mão. O segredo do povo Ifugao não residia em ferramentas avançadas, mas sim em um engenhoso sistema de irrigação captada de florestas no topo das montanhas e, acima de tudo, em uma poderosa organização social cooperativa que mobilizou gerações de trabalho comunitário para transformar um ambiente hostil em um celeiro produtivo.

Uma engenharia social

A criação dos terraços de Ifugao é uma façanha de engenharia que dispensou tecnologia moderna. O processo consistiu em escavar as encostas íngremes, deslocar meticulosamente terra e rochas, e construir muros de contenção com pedras retiradas da própria montanha ou com lama compactada. A UNESCO destaca que este trabalho colossal foi realizado com “equipamento mínimo“, provavelmente usando apenas ferramentas rudimentares como pás de madeira, alavancas e cestos de vime.

A verdadeira “tecnologia” empregue pelo povo Ifugao foi, na verdade, social. A força motriz por trás da construção e, crucialmente, da manutenção incessante, foi um sistema profundamente enraizado de cooperação comunitária, baseado em laços de parentesco. Como detalhado pela Encyclopædia Britannica, a sociedade Ifugao é estruturada em clãs, sem um governo político centralizado. A capacidade de mobilizar, organizar e coordenar centenas de pessoas ao longo de gerações, coordenada por obrigações mútuas, funcionou como a “megamáquina” humana que ergueu os muros.

A fonte da vida: o sistema de irrigação Muyong

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A produtividade e a sustentabilidade dos terraços de arroz de Banaue dependem inteiramente de um fornecimento constante de água, um desafio formidável num ambiente montanhoso. A solução desenvolvida pelo povo Ifugao, descrita pela UNESCO, é um sistema de irrigação sofisticado que capta água diretamente da sua fonte mais fiável: as florestas tropicais que coroam os picos das montanhas, acima dos terraços.

Estas florestas, conhecidas localmente como muyong, são geridas pela comunidade como bacias hidrográficas protegidas. Elas funcionam como esponjas naturais, absorvendo a água da chuva e libertando-a gradualmente, garantindo um fluxo constante para os canais. Uma vez captada no muyong, a água é habilmente guiada inteiramente por gravidade através de uma rede complexa de canais, diques e comportas de pedra ou bambu. A água é introduzida no terraço mais alto e flui de forma controlada para os níveis inferiores, irrigando toda a encosta num exemplo perfeito de gestão ecológica.

O Baki e o Hudhud: o “software” cultural que opera os terraços

A manutenção dos terraços não é guiada apenas pela necessidade física, mas por um profundo e complexo ciclo espiritual que sincroniza a comunidade. Conforme documentado pelas Ifugao Heritage Galleries, o cultivo do arroz tradicional (Tinawon) é governado por pelo menos dezassete rituais anuais, conhecidos como Baki. Estes rituais, conduzidos por líderes religiosos (mumbaki) e agrícolas (tumonak), marcam cada fase do cultivo, desde a preparação do solo até a celebração da colheita, pedindo bênçãos e proteção às divindades.

Estes rituais funcionam como uma tecnologia social vital. Numa sociedade sem calendários escritos ou gestão de projetos centralizada, o Baki serve como um sinal para a ação coletiva, garantindo que toda a comunidade plante, repare os canais e colha em perfeita sincronia. Este conhecimento complexo é transmitido oralmente através dos cantos épicos Hudhud, reconhecidos pela UNESCO como Património Imaterial da Humanidade. Cantados por mulheres, estes épicos são a biblioteca viva, o código legal e o manual técnico do povo Ifugao, detalhando as práticas agrícolas e os valores sociais que sustentam os terraços.

Um legado vivo sob ameaça

Apesar da sua impressionante resiliência, os terraços de arroz de Banaue enfrentam hoje um conjunto de ameaças complexas que colocam em risco a sua própria existência. A maior ameaça não é a erosão física do solo, mas a erosão do sistema de valores e conhecimentos que os sustenta. O êxodo rural é intenso, pois os jovens Ifugao migram para as cidades em busca de educação e empregos menos árduos e mais lucrativos, quebrando a cadeia de transmissão intergeracional do conhecimento ancestral.

O turismo, embora seja uma fonte vital de rendimento, apresenta um paradoxo: muitos jovens podem achar mais lucrativo trabalhar como guias turísticos do que cultivar os campos dos seus antepassados. Paralelamente, as alterações climáticas representam um desafio direto, com secas mais severas (como a que secou os terraços em 2010) e tufões mais intensos, que aumentam o risco de deslizamentos de terra. Quando uma família abandona seu campo, a falta de manutenção compromete todo o sistema de irrigação abaixo, criando um efeito de dominó destrutivo.

Os terraços de arroz de Banaue são a prova viva de que a engenharia social, a cooperação comunitária e o profundo respeito ecológico podem criar maravilhas duradouras, mais resilientes que muitas estruturas modernas. Eles são um modelo de sustentabilidade holística.

Mas será que este conhecimento ancestral consegue sobreviver à pressão económica moderna, ao êxodo rural e às alterações climáticas? Na sua opinião, como podemos, globalmente, valorizar e ajudar a proteger um Património Mundial que depende de pessoas e de uma cultura viva, e não apenas de pedras? Queremos saber o que você pensa sobre este desafio. Deixe sua opinião nos comentários.

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Carla Teles

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