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Tensão geopolítica: Brasil constrói parque eólico em território que o Uruguai afirma ser seu; uruguaios se revoltam e exigem a devolução de 22 mil hectares

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 25/06/2025 às 09:44
Uruguai
Foto: Reprodução
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Parque Eólico Coxilha Negra é construído pelo Brasil em área que o Uruguai contesta há décadas, reacendendo disputa diplomática histórica.

A construção de um grande parque eólico brasileiro em uma área disputada com o Uruguai reacendeu uma antiga tensão territorial entre os dois países. A região conhecida como Coxilha Negra, ou Rincón de Artigas, localizada entre os departamentos uruguaios de Artigas e Rivera, é reivindicada por Montevidéu desde o século XIX.

Mesmo assim, o governo brasileiro iniciou e avançou com as obras sem notificar oficialmente o país vizinho.

Obras seguem sem consulta

A estatal Eletrobras está implantando o Parque Eólico Coxilha Negra, no município de Santana do Livramento (RS), em uma área de mais de 8 mil hectares, dentro da zona considerada contestada.

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De acordo com a Telemundo, emissora uruguaia que visitou o local, estruturas já estão instaladas, incluindo diversos moinhos de vento.

O projeto prevê 72 aerogeradores distribuídos em três usinas – Coxilha Negra 2, 3 e 4 – com capacidade total de 302,4 MW, suficiente para abastecer 1,5 milhão de consumidores. A obra, iniciada em 2022, envolve um investimento estimado em 2,4 bilhões de reais.

Apesar da magnitude do empreendimento, o governo brasileiro não solicitou autorização nem manteve diálogo com as autoridades uruguaias.

Isso porque considera a área como parte integral do território nacional e não precisa prestar esclarecimentos e nenhum outro país.

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Disputa centenária

Em 1934, o Uruguai questionou oficialmente, pela primeira vez, parte do tratado de limites firmado com o Brasil em 1851.

Segundo o governo uruguaio, o riacho indicado como referência de fronteira estava incorreto, e, por isso, a região deveria pertencer ao Uruguai.

Na época, o Brasil rebateu afirmando que confiava na demarcação feita no século 19 e demonstrou surpresa com o fato de o país vizinho só ter levantado a questão décadas depois.

Mais adiante, em 1974, durante a ditadura militar, o Uruguai passou a incluir em seus mapas oficiais duas áreas classificadas como “zonas de limites contestados”. O Brasil, por sua vez, nunca reconheceu essa reivindicação.

Com isso, uma área de cerca de 22 mil hectares ficou sob controle do Brasil, embora o Uruguai a considere sua.

A primeira contestação formal só foi feita em 1931, com nova comunicação em 1933 e reforço em 1934. Desde então, o Brasil reafirma sua soberania sobre a região, ignorando os protestos uruguaios.

Reações e silêncio diplomático

Apesar da situação delicada, até recentemente não havia movimentações efetivas por parte do Uruguai. O especialista em direito internacional Edison González Lapeyre afirmou que o país deveria ter agido de forma mais firme. “Deveria apresentar uma nota diplomática explicando como esse erro foi gerado e insistir na solução”, declarou.

Entretanto, a Telemundo confirmou que não houve qualquer protesto formal por parte das embaixadas, chancelarias ou da estatal UTE nos últimos anos. Isso mudou com o avanço das obras.

O Ministério das Relações Exteriores do Uruguai enviou uma nota verbal ao Brasil, reforçando que a construção do parque eólico não significa, em nenhuma hipótese, o reconhecimento da soberania brasileira sobre o território disputado.

O comunicado faz referência à nota diplomática de 17 de agosto de 1988, quando o Uruguai já havia expressado preocupação com a situação. Segundo o texto, o país espera que o tema possa ser retomado em um futuro próximo, “nos foros apropriados”, dentro do espírito de justiça e amizade entre os povos.

Projeto antigo, retomado em novo governo

O plano para erguer um parque eólico na região não é recente. Em 2011, ainda durante os governos de José Mujica e Dilma Rousseff, o estado do Rio Grande do Sul apresentou um projeto semelhante, que também alcançava a área contestada. No entanto, naquele momento, os dois presidentes optaram por suspender o empreendimento, em respeito à relação bilateral.

Mais de uma década depois, o projeto foi reativado sem consulta ao Uruguai. A retomada ocorreu em 2021, e as obras começaram efetivamente em agosto de 2022, com forte investimento público. O empreendimento é atualmente o maior da CGT Eletrosul, subsidiária da Eletrobras, e abrange três conjuntos de usinas.

Região extensa e estratégica

A área em questão abrange aproximadamente 22 mil hectares, com algumas fontes apontando até 25 mil hectares. O local é considerado de grande potencial eólico, o que justifica o interesse do governo brasileiro em investir na instalação das turbinas.

Para os uruguaios, trata-se do território conhecido como Rincón de Artigas, e sua posse legítima é defendida com base na leitura original do tratado de 1851.

No entanto, a presença brasileira ali é consolidada há décadas. O marco 49, colocado em local considerado errado pelo Uruguai, marca o início da linha de fronteira rumo ao norte, tomando como referência o arroio Maneco. O Uruguai, por sua vez, argumenta que essa referência deveria ter sido o arroyo Moiroes.

Sem previsão de negociação concreta

Até o momento, não há previsão de abertura de diálogo concreto entre os dois países sobre o tema. A nota diplomática uruguaia é vista mais como um gesto simbólico do que como um passo efetivo para a resolução da disputa. A ausência de protestos formais durante décadas enfraquece a posição uruguaia do ponto de vista internacional.

Ao mesmo tempo, o avanço do parque eólico reforça a ocupação brasileira na região, dificultando ainda mais qualquer reversão do controle territorial.

A presença de estruturas fixas, como as torres eólicas, tende a consolidar ainda mais a soberania de fato exercida pelo Brasil sobre a área contestada.

A construção do parque segue em ritmo acelerado. A CGT Eletrosul afirma que o Coxilha Negra já conta com parte dos aerogeradores instalados e que as três usinas estarão plenamente operacionais em breve.

O empreendimento se tornou uma peça central da transição energética na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul.

Por enquanto, o Uruguai aposta no diálogo diplomático e em possíveis negociações futuras. Mas o cenário aponta para uma ocupação consolidada pelo Brasil, num território cuja disputa, mesmo silenciosa, atravessa séculos.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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