Empresa de armamentos anuncia transferência estratégica da montagem de sua principal linha para os Estados Unidos em resposta a novas tarifas, ajustando logística e produção entre Brasil e exterior.
A Taurus anunciou em 8 de agosto de 2025 que vai transferir a montagem das armas da família G para os Estados Unidos (EUA) em resposta às tarifas aplicadas a produtos brasileiros.
Segundo a companhia, a mudança começa em setembro e faz parte de um plano emergencial para reduzir o impacto da taxação.
Na prática, a Taurus transfere produção para os EUA concentrando a montagem de parte de sua principal linha de pistolas no parque fabril da empresa na Geórgia.
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O que muda a partir de setembro
A empresa informou que passará a montar cerca de 900 armas por dia nos EUA, volume que hoje sai do Brasil para o mercado norte-americano.
Atualmente, 2.100 armas produzidas por dia no Brasil são direcionadas aos Estados Unidos, número que sinaliza o tamanho do ajuste logístico que a fabricante pretende executar.
A mudança da produção da Taurus busca preservar cronogramas de entrega e margens, diante de um cenário tarifário mais pesado.
Tarifas e resposta da empresa
A direção da companhia relaciona o movimento à política comercial norte-americana.
De acordo com a nota, desde o início das discussões sobre tarifação, a Taurus vem adotando medidas para amortecer os efeitos financeiros.
Entre as ações, a fabricante disse ter reforçado o estoque de produtos acabados no exterior e manter cerca de 90 dias de estoque nos Estados Unidos.
Em comunicado, a empresa afirmou: “A Taurus também antecipou as exportações de algumas peças e partes, para os Estados Unidos, em especial carregadores das armas, visando se antecipar à taxação de 50%.”
Esse conjunto de iniciativas se soma ao redesenho do fluxo industrial, no qual a Taurus transfere produção para os EUA para reduzir exposição cambial e tributária ligada às exportações.
Dependência do mercado norte-americano
O CEO global, Salesio Nuhs, destacou em julho que as vendas para os Estados Unidos respondem por 82,5% do faturamento da companhia.
O dado evidencia a centralidade do mercado norte-americano na estratégia da fabricante.
Em 2024, a Taurus reportou receita líquida de R$ 1,6 bilhão, refletindo o peso das exportações na composição de receitas.
Quando os planos de reconfiguração logística foram mencionados pela primeira vez, as ações chegaram a cair 7,87% no pregão daquele dia, espelhando a incerteza do investidor com a trajetória das margens.
Esse contexto ajuda a entender por que a mudança da produção da Taurus foi tratada como prioridade executiva.
Onde a Taurus produz hoje
A fabricante mantém três unidades produtivas. A sede industrial está em São Leopoldo (RS), responsável por grande parte do volume global.
No exterior, a companhia opera uma fábrica na Geórgia (EUA) e outra na Índia, que iniciou operações e comercialização em 2024.
A capacidade instalada no Brasil é de 7.000 armas por dia, enquanto a planta norte-americana tem capacidade para 3.000 armas por dia.
Com a nova configuração, a Taurus transfere produção para os EUA dentro do espaço ocioso dessa capacidade, priorizando a família G, descrita pela empresa como sua principal linha de produtos.
Por que a família G é estratégica
A família G é a linha de pistolas que concentra alto volume de vendas e forte aceitação no varejo norte-americano, segundo comunicações da própria empresa.
Trata-se do portfólio de maior giro, o que torna a mudança da produção da Taurus nessa categoria uma ação de impacto imediato no atendimento de pedidos.
Ao deslocar a montagem dessa família para a Geórgia, a companhia pretende encurtar prazos de distribuição dentro dos Estados Unidos e evitar incidência tarifária sobre itens acabados exportados do Brasil.
Logística, estoques e peças
Para atravessar a transição sem ruptura nas entregas, a empresa informou ter iniciado, desde abril, um reforço preventivo de estoques nos Estados Unidos.
Esse colchão de aproximadamente 90 dias tem a função de sustentar o giro de vendas enquanto a linha de montagem local escala de forma gradual.
Outro eixo do plano foi antecipar o envio de peças e partes, com ênfase em carregadores, com o objetivo de mitigar os efeitos da taxação de 50%.
Nessa mesma linha, a Taurus transfere produção para os EUA para reduzir a dependência do despacho de armas completas a partir do Brasil, que estaria mais suscetível às tarifas.
E os empregos e fornecedores no Brasil?
A companhia não informou, até o momento, mudanças em quadro de funcionários no Brasil relacionadas a este anúncio.
Também não há informação pública sobre eventuais ajustes em contratos com fornecedores brasileiros decorrentes da realocação de montagem.
Sem esses dados, não é possível quantificar impactos trabalhistas ou regionais em São Leopoldo, além do já divulgado sobre o redirecionamento da montagem da família G.
Como fica a relação com investidores?
A volatilidade observada no mercado quando os planos foram divulgados em julho sugere atenção de analistas ao efeito das tarifas sobre custos e margens.
Com 82,5% do faturamento atrelado ao mercado norte-americano, a mudança da produção da Taurus funciona como uma tentativa de proteger participação e rentabilidade naquele país.
Resta acompanhar como a execução operacional da transferência e o nível de estoques no varejo norte-americano irão se refletir no desempenho trimestral.
Até aqui, o que está confirmado pela empresa é que a Taurus transfere produção para os EUA com foco na família G, operando dentro da capacidade instalada na Geórgia.
Diante da transferência da montagem da família G para os EUA e da taxação de 50% mencionada pela empresa, você acredita que a mudança da produção da Taurus deve se manter temporária ou tende a se tornar um novo padrão industrial da companhia?