Tarifas de 50% dos EUA e juros altos no Brasil derrubam planos de investimento no campo. Deere prevê queda histórica nas vendas de máquinas agrícolas em 2026.
O anúncio de tarifas recordes pelos Estados Unidos contra exportações brasileiras já gerou reações diplomáticas, mas seus efeitos vão muito além da mesa de negociação. No campo, a combinação de um Tarifas de 50% dos EUA sobre produtos estratégicos e juros altos no Brasil ameaça travar o investimento em mecanização agrícola. A Deere & Co., maior fabricante de máquinas agrícolas do mundo, emitiu um alerta contundente: espera queda significativa nas vendas no Brasil em 2026, sinalizando que a crise pode atingir em cheio o coração do agronegócio nacional.
Como tarifas e juros afetam o agro brasileiro
O Brasil é líder mundial em exportação de soja, milho, café, carne bovina e açúcar. Esse protagonismo depende não apenas da terra fértil e do clima, mas também do uso intensivo de tecnologia, máquinas e implementos. Tratores, colheitadeiras e pulverizadores são a espinha dorsal da produtividade agrícola.
Com os Estados Unidos aplicando tarifas de 50% sobre parte das exportações brasileiras, a expectativa de receita do produtor cai, e o apetite por novos investimentos em máquinas despenca. A isso se soma a política monetária brasileira, que mantém os juros ainda elevados, encarecendo o crédito rural.
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O resultado é um duplo estrangulamento: menos dinheiro entra com as exportações e mais caro fica captar recursos para modernizar a frota.
O alerta da Deere & Co. para 2026
Em conferência com investidores, executivos da Deere & Co. apontaram que o Brasil, que nos últimos anos vinha sendo o mercado mais promissor da América Latina, agora deve sofrer retração.
Segundo projeções internas, as vendas de tratores e colheitadeiras podem cair a partir de 2026, refletindo o ambiente de incerteza e os custos de financiamento.
O recado é claro: se o Brasil continuar fora da lista de “parceiros alinhados” da Casa Branca e não encontrar alternativas de crédito, o setor de máquinas agrícolas verá uma queda histórica na demanda, afetando fornecedores, concessionários e milhares de empregos.
Produtores adiam compras e apostam na manutenção
No interior de estados como Mato Grosso, Goiás e Paraná, o discurso é parecido: muitos produtores estão adiando a compra de novas colheitadeiras e optando por prolongar a vida útil das máquinas já existentes.
Oficinas de manutenção e empresas de peças de reposição registram aumento na procura, enquanto concessionárias relatam queda no fechamento de contratos de maquinário novo.
Esse movimento tem efeito em cadeia. A menor renovação da frota pode reduzir a produtividade no médio prazo, já que máquinas antigas consomem mais combustível, exigem mais tempo de operação e têm eficiência menor em grandes áreas de cultivo.
Crédito rural sob pressão
Outro fator que trava a modernização do campo é o crédito. Com a Selic ainda em patamares elevados, financiamentos de longo prazo para tratores e colheitadeiras se tornam caros demais.
Mesmo os programas oficiais de crédito rural, como o Plano Safra, enfrentam limites, já que a demanda por linhas subsidiadas supera a oferta.
Essa escassez empurra muitos produtores para o crédito comercial, com taxas proibitivas, o que inviabiliza o investimento. Em um cenário em que a margem de lucro já está pressionada pelo tarifaço americano, o efeito é devastador: o produtor prefere segurar o caixa a se endividar.
Impactos no agronegócio brasileiro
A queda na venda de máquinas agrícolas não é apenas um problema para a Deere ou para os concessionários. Ela pode afetar diretamente a produtividade do agronegócio brasileiro, que é um dos pilares da economia nacional.
Se o campo deixa de investir em tecnologia, a eficiência na colheita e no plantio pode cair, reduzindo a competitividade internacional.
Além disso, o setor de máquinas agrícolas gera dezenas de milhares de empregos diretos e indiretos no Brasil. Uma retração nesse mercado pode significar desemprego em polos industriais e perda de arrecadação fiscal em estados produtores.
A resposta do governo e possíveis saídas
O governo brasileiro estuda medidas para aliviar a pressão. Entre elas estão linhas emergenciais de crédito subsidiado, com juros abaixo do mercado, e incentivos fiscais para renovação de frota.
Outra frente é diplomática: negociar com os EUA a inclusão de mais produtos brasileiros no rol de exceções tarifárias, o que ajudaria a recuperar parte da confiança no setor.
Especialistas também defendem que o Brasil intensifique acordos comerciais com outros países, como China e União Europeia, para diversificar mercados e reduzir a dependência dos EUA.
No entanto, essas alternativas levam tempo e não resolvem a urgência dos produtores que precisam investir agora.
O campo como termômetro da crise
O alerta da Deere & Co. serve como um termômetro da crise que se desenha no agronegócio brasileiro. Se o maior fabricante de máquinas agrícolas do mundo prevê queda nas vendas, isso significa que o otimismo do setor produtivo diminuiu drasticamente.
O risco é que o Brasil, que construiu sua reputação como potência agrícola global graças à tecnologia, veja parte dessa vantagem se perder em meio a disputas comerciais e políticas de crédito restritivas.
No fim, o que está em jogo não são apenas máquinas ou tarifas, mas a capacidade do Brasil de manter sua liderança no agronegócio mundial em um cenário de competição cada vez mais dura e instável.