Inflação nos Estados Unidos avança com tarifas de importação, afetando itens básicos e de luxo e levando a maiores custos para famílias. Produtos como café, joias, bananas, televisores e brinquedos registraram altas expressivas em poucos meses.
A inflação nos Estados Unidos acelerou após o anúncio, em abril, de novas tarifas de importação pelo presidente Donald Trump.
Em agosto, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) avançou 2,9% em relação ao mesmo mês do ano anterior, acima dos 2,7% registrados em junho e julho.
Segundo o Times Brasil, no corte que exclui alimentos e energia, o núcleo subiu 0,3% no mês e está 3,1% acima do nível de um ano atrás, sinalizando custos mais elevados para os consumidores.
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Os dados mostram que a inflação se distancia da meta de 2% do Federal Reserve.
Embora o movimento não seja uniforme entre os itens, produtos com forte participação de importados passaram a registrar aumentos fora do padrão recente, com destaque para café, joias, bananas e televisores.
Estimativas independentes calculam que a tarifa média efetiva paga pelos americanos chegou a 17,4% em 2025, a maior desde 1935, com impacto anual de cerca de US$ 2.300 por domicílio.
Tarifas e seus efeitos na inflação
Em 2 de abril, a Casa Branca editou uma ordem executiva sob a International Emergency Economic Powers Act (IEEPA) que instituiu uma tarifa-base de 10% sobre a maioria das importações a partir de 5 de abril, seguida, em 9 de abril, por sobretaxas diferenciadas por país.
Na prática, a alíquota varia conforme a relação comercial com os EUA e o saldo de negociações bilaterais.
Os efeitos aparecem em velocidades distintas ao longo das cadeias de suprimentos.
Parte das empresas conseguiu adiar repasses de curto prazo, mas o Livro Bege do Fed, publicado em agosto, já registrou aumentos de preços associados às tarifas em diversas regiões e setores.
O documento cita repasse parcial aos consumidores e alta nos custos de insumos.
Enquanto isso, decisões judiciais questionam a legalidade da medida, mas a cobrança segue em vigor.
Café tem maior alta em décadas
Entre abril e agosto, os preços do café ao consumidor acumularam alta de 9,8%, com avanço de 3,6% apenas em agosto.
Colheitas fracas no início do ano já restringiam a oferta, e a aplicação das tarifas acelerou esse movimento.
Os EUA produzem menos de 1% do café que consomem, o que torna o mercado interno sensível a tributos de importação.
Em 6 de agosto, entrou em vigor uma tarifa de 50% sobre produtos do Brasil, maior fornecedor de arábica para o país.
Exportadores do Vietnã e da Indonésia também passaram a enfrentar alíquotas mais altas, segundo dados oficiais, o que deve manter os preços pressionados.
Joias e relógios sofrem impacto direto
Em agosto, os preços de joias e relógios subiram 5,5% na comparação mensal, variação acima do padrão histórico.
O setor depende de importações de peças e produtos acabados, e por isso foi diretamente impactado pelas novas taxas.
No dia 7 de agosto, Washington elevou para 39% a tarifa sobre importações da Suíça, país que concentra a maior parte dos relógios de metais preciosos vendidos nos EUA.
A medida também alcançou a Índia (diamantes lapidados e sintéticos) e o Japão (relógios mecânicos premium).
A expectativa é de que os preços continuem refletindo esses custos adicionais à medida que novas remessas entrem no país.
Bananas registram reajuste incomum
Entre abril e agosto, o preço médio da banana avançou 4,9% nos EUA, movimento considerado atípico para essa fruta, que historicamente apresenta variação mais estável.
Quase todo o abastecimento nacional vem da América Central e do Sul, agora sujeito à tarifa-base de 10%.
Ainda assim, o preço da banana permanece inferior ao de outras frutas e hortaliças.
Um exemplo é a rede Trader Joe’s, que manteve o valor unitário em US$ 0,19 por mais de duas décadas, alterando para US$ 0,23 apenas no início de 2024.
Televisores quebram padrão de queda
Em agosto, os televisores registraram aumento de preços e acumulam alta desde abril.
O movimento chama atenção porque, desde o fim dos anos 1990, o setor apresentava queda contínua devido a ganhos de escala na produção global e ao modelo de smart TVs, que gera receita paralela com publicidade e dados.
Quase todas as TVs vendidas nos EUA são importadas, principalmente do México, China e Vietnã.
Remessas mexicanas podem enfrentar tarifas de até 25% dependendo do enquadramento no USMCA.
Já as importações da China pagam até 30%, e as do Vietnã, cerca de 20%.
Esses percentuais explicam a recente elevação nos preços ao consumidor.
Brinquedos também ficam mais caros
Os brinquedos também mostraram variação positiva.
Entre abril e agosto, os preços subiram 2,5%, no maior aumento em quatro meses desde 2021.
O setor é altamente dependente de importações: cerca de 70% das compras externas vêm da China, sujeitas a tarifas de aproximadamente 30%.
Alguns embarques do Vietnã enfrentam alíquotas ainda maiores.
A trajetória contrasta com a tendência de redução observada em anos anteriores.
Tarifa média atinge maior nível desde 1935
A combinação da tarifa-base e das sobretaxas por país elevou a tarifa média efetiva nos EUA a 17,4%, patamar sem registro desde 1935.
Cálculos acadêmicos estimam impacto de aproximadamente US$ 2.300 por família em 2025, considerando bens de consumo e insumos.
A chamada Lei da Reciprocidade, usada politicamente pelo governo, corresponde a esse modelo de alíquotas diferenciadas definido por ordem executiva sob a IEEPA, sem aprovação legislativa específica.
O núcleo do IPC mantém avanço anual de 3,1%, ainda acima da meta do Fed.
Itens ligados a importações, como café e bens duráveis, aparecem entre os fatores que sustentam a aceleração inflacionária.