Em meio ao tarifaço imposto pelos Estados Unidos, exportações brasileiras recuam 18,5% em agosto e o país registra maior déficit mensal do ano com os norte-americanos. No acumulado de 2025, rombo já passa de US$ 3,48 bilhões.
O comércio entre Brasil e Estados Unidos vive um dos momentos mais tensos da última década. De acordo com dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento (MDIC), as exportações brasileiras para os norte-americanos caíram 18,5% em agosto, somando US$ 2,76 bilhões. Ao mesmo tempo, as importações de produtos dos EUA cresceram 4,6%, alcançando US$ 3,99 bilhões.
Esse movimento resultou em um déficit de US$ 1,23 bilhão no mês — o maior resultado negativo do ano nas transações bilaterais. A queda coincide diretamente com os efeitos do tarifaço decretado pelo presidente Donald Trump, que passou a sobretaxar 36% das exportações brasileiras com tarifas de até 50%.
Déficit acumula salto de 370% em 2025
A sequência de resultados negativos não é um episódio isolado. No acumulado entre janeiro e agosto de 2025, o déficit brasileiro com os Estados Unidos já chega a US$ 3,48 bilhões. Esse rombo representa um salto de 370% em relação ao mesmo período do ano passado, quando o saldo negativo havia sido de US$ 745 milhões.
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Os números reforçam um padrão preocupante: desde 2009, o Brasil fecha todos os anos com déficit na balança comercial frente a Washington. No total, os norte-americanos venderam ao país US$ 88,61 bilhões a mais do que importaram nesse período de 16 anos.
Tarifaço amplia tensões políticas e econômicas
O tarifaço imposto pelos Estados Unidos foi implementado de forma gradual ao longo de 2025 e atingiu seu ápice em agosto, com sobretaxa de 50% em diversos produtos brasileiros. Trump justificou a medida mencionando um suposto déficit americano com o Brasil — dado que não encontra respaldo em estatísticas oficiais.
Além da alegação econômica, o presidente norte-americano citou razões políticas. Ele mencionou investigações no Brasil envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e questionou o que chamou de “direitos de liberdade de expressão de cidadãos americanos”.
Esse conjunto de fatores aumentou a pressão sobre exportadores brasileiros, que agora enfrentam não apenas barreiras alfandegárias, mas também um ambiente de incerteza diplomática.
Governo reage com pacote de socorro às empresas
Diante da escalada das perdas, o governo brasileiro lançou um pacote de medidas emergenciais para tentar conter os danos do tarifaço. O destaque foi a criação de uma linha de crédito de R$ 30 bilhões para companhias diretamente atingidas pelas sobretaxas. O benefício, no entanto, está condicionado à manutenção de empregos.
Outras ações anunciadas incluem:
- Seguro à exportação: proteção contra inadimplência e cancelamento de contratos.
- Diferimento de impostos: autorização para adiar tributos de empresas afetadas.
- Isenção de insumos: prorrogação de um ano no prazo de uso do regime drawback.
- Novo Reintegra: crédito tributário para aliviar custos de exportação.
- Compras públicas: governos federal, estaduais e municipais poderão adquirir produtos nacionais para programas de merenda e hospitais.
- Diversificação de mercados: incentivo para abertura de novos destinos além dos EUA.
Essas medidas demonstram a tentativa de Brasília de minimizar os impactos imediatos e, ao mesmo tempo, reposicionar o Brasil no comércio global.
Comércio com outros parceiros mostra reação positiva
Apesar das dificuldades no mercado norte-americano, o Brasil ampliou suas vendas externas para outros grandes parceiros. Em agosto, as exportações para a China cresceram 29,9%, para o México avançaram 43,8% e para a Argentina subiram 40,4% em comparação com o mesmo mês do ano passado.
Esse desempenho ajudou a equilibrar a balança comercial geral. No total, o Brasil registrou um superávit de US$ 6,13 bilhões em agosto, resultado 35,8% maior do que em 2024. Foi o melhor agosto desde 2023, quando o saldo havia alcançado US$ 9,63 bilhões.
Ainda assim, o rombo com os Estados Unidos segue como principal ponto de atenção, já que pressiona o desempenho agregado e ameaça setores inteiros da indústria nacional.
Superávit global esconde fragilidades estruturais
Os números mostram que, mesmo com saldo positivo no comércio global, o Brasil depende de maneira significativa do mercado americano. Em agosto, o país exportou US$ 29,86 bilhões e importou US$ 23,72 bilhões. No acumulado do ano, o superávit é de US$ 42,81 bilhões, mas 20,2% menor que em 2024.
A concentração de perdas nos Estados Unidos levanta questionamentos sobre a necessidade de maior diversificação de destinos e produtos. Economistas avaliam que a guerra tarifária pode se prolongar, reforçando a urgência de novas estratégias de inserção internacional.
Exportadores pressionam por soluções duradouras
Empresas brasileiras afetadas pelo tarifaço destacam que as medidas emergenciais são bem-vindas, mas insuficientes. O setor produtivo cobra negociações diplomáticas mais firmes com Washington e busca alternativas em acordos comerciais com países da Ásia, América Latina e União Europeia.
Para especialistas, a disputa evidencia a vulnerabilidade da economia brasileira diante de mudanças bruscas na política comercial dos EUA. A aposta agora é que o governo consiga transformar a crise em oportunidade de reestruturação das exportações e abertura de novos mercados.