Medida protecionista dos EUA impacta exportações, mas aumenta a oferta interna de alimentos, resultando em queda de até 6,7% nos preços para o consumidor, aponta estudo.
O tarifaço de Trump, que impôs novas barreiras comerciais a produtos brasileiros, começa a mostrar um efeito duplo na economia nacional. Se por um lado a medida prejudica diretamente os exportadores, por outro, tem gerado um alívio inesperado no bolso do consumidor. Com a redução dos envios para os Estados Unidos, a oferta de alimentos como carne vermelha e legumes aumentou no mercado interno, provocando uma queda significativa nos preços em agosto, conforme revela um estudo da Neogrid, divulgado com exclusividade pelo portal InfoMoney.
Este cenário ilustra a complexa dinâmica das relações comerciais globais e seu impacto direto na vida cotidiana da população. A maior disponibilidade de produtos que antes eram destinados à exportação forçou uma readequação de preços no varejo. Itens essenciais na mesa dos brasileiros, como cortes bovinos e uma variedade de legumes, registraram as quedas mais expressivas, refletindo uma consequência imediata da política comercial norte-americana que, indiretamente, beneficiou o poder de compra local.
Impacto no agronegócio: exportador sente o peso das taxas
A imposição de uma taxa de 50% sobre importações brasileiras por parte dos EUA atingiu em cheio setores estratégicos do agronegócio nacional. Produtores de carnes e legumes, que contavam com o mercado americano como um de seus principais destinos, viram o volume de exportações despencar. Essa barreira comercial representa um desafio financeiro e logístico, forçando as empresas a buscarem mercados alternativos ou a redirecionar sua produção para o consumo doméstico, muitas vezes com margens de lucro menores.
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Segundo Anna Carolina Fercher, líder de Dados Estratégicos na Neogrid, em análise para o InfoMoney, a conexão é direta. “Como os Estados Unidos são um dos maiores compradores de carnes e derivados de soja do Brasil, o ‘tarifaço’ reduziu o volume exportado, o que elevou a oferta interna e pressionou os preços para baixo nessas categorias”, explica a especialista. O fenômeno evidencia a vulnerabilidade dos exportadores brasileiros às políticas protecionistas, que podem alterar drasticamente a rentabilidade do setor de um mês para o outro.
Alívio no carrinho de compras: a queda nos preços ao consumidor
O efeito mais sentido pela população foi a redução de preços no supermercado. De acordo com os dados da Neogrid, detalhados pelo InfoMoney, a categoria de legumes apresentou a maior queda, com recuo de 6,7% em agosto. Fatores climáticos favoráveis já contribuíam para uma boa safra, mas o aumento da oferta interna, provocado pelo tarifaço de Trump, foi decisivo para essa retração expressiva nos valores.
No setor de proteínas, o alívio também foi notável. O quilo dos cortes bovinos caiu 3,4%, passando de R$ 38,07 em julho para R$ 36,77 em agosto. A carne suína seguiu a mesma tendência, com uma baixa de 3,0%, caindo de R$ 19,45 para R$ 18,87. Até mesmo os ovos, outro item básico na alimentação, registraram uma queda de 4,0% no mesmo período. A farinha de mandioca, por sua vez, também apresentou um recuo de 2,5%, completando a lista de produtos impactados positivamente para o consumidor.
Nem tudo caiu: outros produtos registram alta e inflação persiste
Apesar da queda em alimentos-chave, o estudo da Neogrid, conforme reportado pelo InfoMoney, mostra que a inflação ainda pressiona outras categorias de produtos. Itens de higiene e consumo diário registraram alta, como o creme dental (+1,9%) e a margarina (+1,7%). Óleo de soja (+1,6%) e sal (+1,6%) também ficaram mais caros em agosto. A cerveja, um item de grande consumo, acompanhou a tendência de alta com um aumento de 1,2%, atingindo o preço médio de R$ 13,21.
O grande vilão da inflação acumulada, no entanto, continua sendo o café. Analisando o período de dezembro de 2024 a agosto de 2025, o preço médio por quilo do café (em pó e grãos) saltou de R$ 53,58 para R$ 73,75, uma variação impressionante de 37,6%. Este dado mostra que, embora o tarifaço de Trump tenha gerado um efeito deflacionário localizado em alguns setores, outros fatores macroeconômicos, como safra, logística e câmbio, continuam a influenciar o custo de vida geral do brasileiro.
Você concorda com essa mudança? Acha que isso impacta o mercado? Deixe sua opinião nos comentários, queremos ouvir quem vive isso na prática.