O “Tarifaço” de Trump causou férias coletivas, mas a medida é diferente de uma demissão. Entenda o que a lei garante aos 800 funcionários.
Uma onda de incerteza econômica tem se espalhado pelo coração da indústria madeireira brasileira, reverberando de forma mais intensa nos estados do Sul e Centro-Oeste.
Em resposta a um “tarifaço” de 50% imposto pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos importados do Brasil, grandes e pequenas empresas do setor, localizadas em estados como Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso, estão recorrendo a uma medida drástica para minimizar o tarifaço: a concessão de férias coletivas aos seus funcionários.
A ação, que busca mitigar os prejuízos causados pela nova política comercial, acende um sinal de alerta sobre o impacto de longo prazo na economia e nos empregos.
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O alarme tocado pela indústria madeireira
A imposição da tarifa de 50%, um aumento substancial que torna os produtos brasileiros menos competitivos no mercado americano, atingiu em cheio um dos setores mais importantes para a balança comercial do país.
A indústria madeireira no Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso viu, da noite para o dia, a suspensão de contratos e o cancelamento de pedidos, levando à interrupção de parte da produção.
Diante desse cenário adverso, a estratégia adotada pelas empresas visa, em primeiro lugar, conter os estoques e evitar demissões em massa, preservando o máximo possível os empregos e a capacidade produtiva para um futuro mais promissor.
A situação é particularmente preocupante para as empresas cuja produção é fortemente voltada para a exportação, como é o caso da indústria Randa, uma gigante do setor localizada em Bituruna, no sul do Paraná.
A empresa, reconhecida por ser uma importante fabricante de portas, molduras e compensados, sentiu o impacto de forma imediata.
Com a suspensão de todos os seus pedidos para os Estados Unidos, a Randa informou que todos os 800 funcionários terão férias coletivas, uma medida emergencial para readequar a operação.
O CEO da empresa, em declaração a veículos de imprensa, destacou que a maior parte da sua produção é destinada ao mercado norte-americano, tornando a manutenção da operação inviável no atual contexto de incerteza.
O que as férias coletivas representam para o trabalhador?
A adoção das férias coletivas levanta questionamentos sobre os direitos trabalhistas e o futuro dos empregos. Legalmente, o que são férias coletivas?
De acordo com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), essa modalidade é concedida a todos os funcionários de uma empresa ou de um setor específico, e seu período de concessão deve ser comunicado ao Ministério do Trabalho e Emprego com antecedência.
O ponto crucial para o trabalhador é que, mesmo em férias coletivas, o contrato continua vigente, o que garante a manutenção do vínculo empregatício.
Além disso, o funcionário tem direito ao pagamento de férias mais o 1/3 constitucional, um adicional que eleva o valor recebido e proporciona um alívio financeiro em meio à paralisação.
O período de descanso compulsório também conta para fins de tempo de serviço, o que significa que o trabalhador não perde seu tempo de contribuição ou direitos futuros, como a aposentadoria. No entanto, o lado humano da notícia é o que mais preocupa: a insegurança.
As férias coletivas, embora garantam direitos, são um reflexo de um problema maior e a incerteza de um possível retorno ao trabalho.
O cenário macroeconômico e as expectativas para o setor
A crise gerada pelo tarifaço nos Estados Unidos não afeta apenas empresas individuais, mas toda a cadeia produtiva da madeira.
Associações do setor em todo o Brasil, incluindo as que representam o Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso, já alertam para a possibilidade de demissões em massa caso a situação não seja revertida.
O principal desafio é a realocação da produção para outros mercados, como o europeu ou o asiático, um processo que leva tempo e não é garantia de sucesso.
Além disso, a nova tarifa favorece países concorrentes, como Vietnã e Indonésia, que não estão sujeitos às mesmas restrições.
Especialistas e líderes do setor estão pressionando o governo federal a intensificar as negociações diplomáticas com os Estados Unidos em busca de uma solução.
O objetivo é reverter ou, no mínimo, flexibilizar a tarifa, permitindo que a indústria brasileira recupere sua competitividade.
Para o presidente de uma das associações de madeira, “as férias coletivas são apenas um paliativo, duram duas ou três semanas. A preocupação das empresas é quando os trabalhadores voltarem, e se não houver solução, o que terão de fazer”.
A frase resume a tensão e o medo que rondam o futuro de milhares de famílias que dependem do setor madeireiro para sua subsistência.
Apesar da sombra de demissões, a indústria brasileira mostra resiliência, buscando alternativas e cobrando ações efetivas do poder público.
A esperança é que, com diálogo e estratégias eficazes, a situação seja resolvida antes que o “tarifaço” cause danos irreversíveis ao tecido econômico e social do Brasil.