Sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos reduziu preços de frango, café e carnes no Brasil em menos de um mês, segundo levantamento divulgado pela CNN Brasil nesta segunda-feira (1º). Pescados destoaram e registraram alta no período.
Menos de um mês após a sobretaxa de 50% às exportações brasileiras entrar em vigor em 6 de agosto, preços de itens sensíveis caíram nas gôndolas do país.
Levantamento da Scanntech, divulgado pela CNN Brasil nesta segunda-feira (1º), aponta recuo no varejo entre julho e agosto em quatro categorias: frango (-5,7%), café (-4,6%), suínos (-1,3%) e bovinos (-0,8%).
Pescados foram a única exceção, com alta de 2% no período. A variação foi medida a partir de 13,5 bilhões de tíquetes de compra analisados em mais de 60 mil pontos de venda.
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Os preços médios praticados no intervalo ficaram em R$ 17,33/kg para o frango, R$ 76,40/kg para o café, R$ 23,05/kg para a carne suína e R$ 34,58/kg para a carne bovina. No caso dos pescados, o valor médio observado foi de R$ 34,43/kg.
Queda já aparece nas gôndolas
Os dados indicam que a correção de preços chegou rapidamente ao varejo. Ainda que a magnitude seja distinta entre as categorias, a direção é a mesma para as proteínas de frango, suíno e bovina, além do café.
Na prática, o consumidor encontra reduções mais visíveis no frango e no café, enquanto a queda é mais moderada em suínos e bovinos. No mesmo período, pescados destoaram.
A variação positiva de 2% sugere dinâmica específica do segmento, que não acompanhou o alívio observado nas demais proteínas.
O levantamento, detalhado pela CNN Brasil, não traz informações adicionais sobre os fatores desse movimento.
Como a tarifa redesenhou oferta e preços
Com a medida adotada pelos Estados Unidos a partir de 6 de agosto, setores não contemplados por isenções interromperam embarques para o mercado norte-americano.
Quando a exportação encolhe de forma abrupta, dois caminhos se abrem: buscar novos destinos — a indústria de carne, por exemplo, tem direcionado volumes ao México — ou manter a produção no país, disputando espaço nas prateleiras com marcas focadas no mercado interno.
Esse redirecionamento eleva a oferta doméstica.
Sem mudança equivalente na demanda, a queda de preços tende a aparecer, em linha com a lógica básica de mercado.
Segundo a Scanntech, a compressão de valores já foi captada em milhões de compras registradas entre julho e agosto, período imediatamente anterior e posterior à entrada em vigor da sobretaxa.
Voz do mercado
Para Thomaz Machado, CEO da Scanntech, a conexão entre o novo cenário comercial e os preços ao consumidor é direta.
“O aumento da oferta interna começa a pressionar os preços no varejo brasileiro. O consumidor sente alívio no curto prazo, mas isso gera uma preocupação em cadeia para produtores e indústrias”, afirmou à CNN Brasil.
A avaliação reforça que a etapa atual é de repasse de oferta, com efeitos positivos para o bolso do consumidor e pressão sobre margens ao longo da cadeia.
O que pesa em cada cesta
No frango, a queda de 5,7% foi a mais acentuada entre os itens avaliados.
O produto é um dos mais sensíveis a variações de oferta e costuma responder com rapidez a mudanças no escoamento externo.
No café, o recuo de 4,6% aparece em linha com a redução de envios ao mercado norte-americano e com a necessidade de reencaixe de grãos no mercado interno.
A carne suína registrou baixa de 1,3%, movimento moderado. A carne bovina cedeu 0,8%.
Em ambos os casos, o ajuste tende a ser mais lento em razão de calendários produtivos, contratos e composição de custos. Já os pescados ficaram 2% mais caros, destoando do conjunto.
Impactos para a cadeia produtiva
Embora o barateamento alivie o orçamento das famílias, a indústria e o campo enfrentam um quadro mais desafiador.
Com estoques maiores e espaço reduzido para exportar, frigoríficos, cooperativas e torrefadoras precisam recalibrar produção, renegociar contratos e buscar novos mercados.
O processo pode envolver custos adicionais de logística, certificações e adaptação a exigências sanitárias e tarifárias de cada destino.
Essa redistribuição de fluxos, ainda que necessária, não se dá de imediato.
Enquanto isso, preços domésticos mais baixos comprimem margens e podem adiar investimentos, sobretudo em segmentos com maior ciclo produtivo, como a pecuária de corte.
O resultado é um equilíbrio delicado entre o ganho do consumidor e a sustentabilidade da cadeia.
Estratégia de reversão: negociação em Washington
Setores diretamente atingidos, como café e carne, mantêm a negociação com os Estados Unidos como estratégia central para mitigar o tarifaço.
O Cecafé, que representa os exportadores de café, tem trabalhado junto à indústria cafeeira norte-americana e ao Departamento de Estado para buscar isenção ao produto brasileiro.
A aposta é reduzir o custo de entrada e preservar a participação do Brasil em um mercado relevante. Na carne bovina, a avaliação é semelhante.
Em entrevista ao CNN Money, braço econômico da CNN Brasil, Roberto Perosa, presidente da Abiec, afirmou que o setor defende a continuidade das tratativas do governo brasileiro com a administração de Donald Trump para normalizar o fluxo comercial.
O objetivo é reabrir espaço para as exportações, evitando distorções prolongadas no mercado interno.
Redirecionamento e prioridades
Enquanto as conversas avançam, empresas reorganizam destinos e priorizam mercados com barreiras menores ou acordos vigentes.
O México surge como alternativa para parte dos embarques de carne, reduzindo o impacto da tarifa norte-americana.
Outras origens também podem absorver volumes, mas a acomodação depende de preços competitivos, câmbio e logística.
No café, exportadores ajustam contratos e avaliam mix de destinos para compensar a perda de margem no acesso aos EUA.
A manutenção de qualidade e a reputação do grão brasileiro seguem como trunfos, mas a viabilidade depende do custo total até o comprador final.
O que acompanhar nas próximas semanas
Os próximos indicadores devem mostrar se a queda de preços observada entre julho e agosto se manterá.
Fatores como estoques, câmbio, demanda interna e avanço das negociações tendem a determinar o fôlego do movimento.
Em paralelo, mudanças na lista de exceções tarifárias ou novos canais de escoamento podem acelerar o reequilíbrio entre oferta e consumo no país.
Você já percebeu diferença no preço de frango, café ou carnes no seu supermercado desde o início da sobretaxa norte-americana?