México lidera novas aberturas comerciais para o agronegócio brasileiro, com 22 produtos liberados desde 2023 e forte presença de carnes, em meio ao impacto das tarifas impostas pelos Estados Unidos.
O México tornou-se, desde 2023, o principal vetor de expansão de mercados para o agronegócio brasileiro.
Com a liberação de 22 produtos antes não importados do Brasil, as vendas somaram US$ 870 milhões, mais da metade do total gerado por novas aberturas comerciais no período, estimado em US$ 1,73 bilhão.
O movimento ocorre enquanto os Estados Unidos elevam barreiras de importação, pressionando cadeias regionais e abrindo espaço para a aproximação entre Brasília e Cidade do México, segundo informações originalmente publicadas pelo portal CNN Brasil.
-
Agro brasileiro se reinventa com robôs solares, genômica e inteligência artificial para enfrentar extremos climáticos e reduzir químicos nas lavouras
-
Fazenda quatro vezes maior que Nova York tem 3.708 km², rios, lagos e operação de gado é colocada à venda por R$ 430 milhões
-
Novo trator movido a água não precisa de motorista, tem controle remoto e carrega em 5 minutos
-
Safra de grãos 2024/25 supera todas as projeções e registra novo recorde histórico para a agricultura brasileira
Exportações ao México lideram expansão do agro brasileiro
Entre os destinos que mais absorveram produtos recém-habilitados, o México responde por 50,4% do montante adicional.
Na sequência, aparecem Egito, Vietnã, Turquia e Argélia, que somados contribuem com parcela relevante, mas inferior ao avanço observado no mercado mexicano.
A fotografia reflete uma estratégia do governo brasileiro de diversificar destinos após a escalada tarifária norte-americana.
Proteínas animais impulsionam vendas
As proteínas animais ilustram a intensidade da entrada brasileira.
Em 2024, as exportações de carne bovina renderam US$ 214 milhões e as de carne suína US$ 102,6 milhões ao México.
Ambos os mercados foram abertos recentemente e hoje estão entre os carros-chefe da pauta.
Esses números reforçam um padrão: a categoria de proteínas foi a que mais acumulou novas habilitações desde 2023, alavancando o faturamento adicional com produtos que antes não tinham acesso.
Tarifaço dos EUA cria janela de oportunidade
A guinada tarifária dos Estados Unidos sob a gestão do presidente Donald Trump redesenhou rotas do comércio regional e acendeu alertas entre exportadores do hemisfério.
Em 2025, Washington passou a aplicar medidas de caráter amplo — inclusive com ordem executiva prevendo tarifas recíprocas e uma linha de base de 10% —, alterando custos e previsibilidade para fornecedores, especialmente do México.
A redistribuição de fluxos nesse ambiente favoreceu a leitura de oportunidade por parte do Brasil e acelerou a busca por alternativas para absorver produção que poderia ser afetada nos EUA.
Missão comercial ao México
Diante do novo cenário, os dois países sinalizaram intenção de estreitar laços.
O governo brasileiro cogita enviar uma missão oficial à Cidade do México em 27 e 28 de agosto, liderada pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, para negociar facilitação de comércio e alinhamento regulatório.
A iniciativa dá continuidade a reuniões técnicas realizadas há pouco mais de um mês no território mexicano, quando negociadores exploraram caminhos para ampliar o intercâmbio, segundo apuração divulgada pela CNN Brasil.
Lula e Sheinbaum discutem tarifas
No mês passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou por telefone com a presidente do México, Claudia Sheinbaum, sobre a conjuntura tarifária e seus desdobramentos.
Segundo relato oficial, Lula defendeu aprofundar laços econômicos em um “atual momento de incertezas” e propôs retomar negociações para um acordo comercial mais amplo que o vigente Acordo de Complementação Econômica (ACE), ainda considerado limitado.
As tratativas, no entanto, permanecem em estágio inicial.
Pacic reduz barreiras mexicanas
Historicamente, produtos agropecuários brasileiros enfrentaram no México alíquotas que, segundo técnicos do setor, poderiam chegar a 60%.
A partir de 2022, porém, a adoção do Paquete Contra la Inflación y la Carestía (Pacic) pelo governo mexicano zerou ou reduziu tarifas de uma cesta de alimentos, conferindo alívio temporário de preços e facilitando a entrada de diversos produtos estrangeiros, inclusive brasileiros.
A combinação de demanda doméstica, ajustes tarifários e oferta competitiva contribuiu para o salto recente das vendas do Brasil.
Abertura sanitária para carnes
O avanço comercial foi acompanhado de decisões sanitárias.
Em março de 2023, o México publicou requisitos para a carne bovina brasileira, liberando embarques de Santa Catarina e, no caso de outros estados, de cortes maturados e desossados conforme normas zoossanitárias.
Em fevereiro do mesmo ano, o país ampliou a abertura para carne suína in natura, eliminando a exigência de processamento térmico anterior.
Essas mudanças destravaram negócios que hoje aparecem entre os principais destaques da pauta bilateral.
Por que o México virou prioridade para o Brasil
Além da proximidade geográfica e do tamanho do mercado, o México oferece complementaridades à indústria brasileira do agro.
O país é grande consumidor de proteínas, depende de importações para equilibrar oferta e, sob o Pacic, buscou atenuar pressões inflacionárias com compras externas.
Para o Brasil, a previsibilidade de demanda e as habilitações sanitárias recentes reduziram incertezas e sustentaram contratos em 2024 e 2025.
Ao mesmo tempo, o peso do México nas novas aberturas cria um colchão para oscilações ligadas ao mercado norte-americano, sujeito a mudanças rápidas de tarifas por decisão executiva nos EUA.
Próximos passos na relação bilateral
A pauta em discussão contempla ampliar a cobertura do acordo comercial atual e avançar em temas regulatórios que afetam custos, como procedimentos sanitários e certificações.
O objetivo declarado por Brasília é diversificar destinos e diluir riscos, mantendo o México como âncora recente do crescimento de mercados abertos.
Em paralelo, o governo brasileiro afirma que seguirá buscando novas habilitações em outros países para evitar concentração excessiva.
Pontos de atenção
Dois vetores merecem acompanhamento. Primeiro, a evolução das tarifas dos Estados Unidos, que podem ser ajustadas por atos do Executivo e impactar diretamente parceiros como México e Brasil.
Segundo, a permanência ou ajustes no Pacic e em medidas mexicanas de facilitação de importações, que afetarão o custo de entrada e a competitividade de itens brasileiros.
A depender dessas variáveis, a receita adicional observada desde 2023 pode ganhar tração ou exigir reposicionamento.
Diante desse quadro, qual será o próximo produto brasileiro a ganhar escala no México e consolidar essa janela aberta pelo novo tabuleiro tarifário?