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Tarifa de 50% dos EUA no café do Brasil pode tirar dos americanos um negócio de US$ 343 bilhões, alerta setor

Escrito por Geovane Souza
Publicado em 20/08/2025 às 16:34
Tarifa de 50% dos EUA no café do Brasil pode tirar dos americanos um negócio de US$ 343 bilhões, alerta setor
Os americanos importam 99% do café que consomem e o Brasil responde por cerca de um terço desse volume.
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Os EUA importam 99% do café que consomem e o Brasil responde por cerca de um terço desse volume. A nova tarifa de 50% encarece o grão brasileiro e pode desviar embarques para China e Europa.

A decisão do governo dos Estados Unidos de aplicar 50% de tarifa ao café verde do Brasil acende um alerta inédito no maior mercado consumidor do mundo. Entidades do setor nos EUA afirmam que a medida pode corroer um negócio de US$ 343 bilhões, hoje sustentado pela torra, distribuição e varejo domésticos.

A dependência é total, pois os americanos importam 99% do café que consomem e o Brasil responde por cerca de um terço desse volume. Ao encarecer o grão brasileiro, a tarifa pressiona custos, mexe nos blends e ameaça a padronização que sustenta cafeterias e grandes redes.

Há ainda o risco de desvio de comércio. Com o Brasil mais caro para os EUA, parte dos embarques tende a migrar para China e Europa, enquanto torrefadores americanos enfrentam margens comprimidas e repasses ao consumidor.

Impacto econômico, o tamanho do negócio do café nos EUA

O café movimenta uma cadeia gigantesca dentro dos EUA. Segundo a National Coffee Association (NCA), o setor teve impacto econômico de US$ 343,2 bilhões em 2022, sustentando mais de 2,2 milhões de empregos e mais de US$ 100 bilhões em salários.

Em carta bipartidária enviada ao USTR, parlamentares do Congressional Coffee Caucus reforçam o argumento do setor: cada US$ 1 em café importado gera cerca de US$ 43 em valor em toda a cadeia (da importação à torra, distribuição, varejo e marketing). É um valor agregado de 4.200% que se espalha por cafeterias independentes, grandes redes e indústrias correlatas.

Além disso, o café é, de longe, a bebida favorita dos norte-americanos e a economia do café é moldada por um dado estrutural: mais de 99% do café consumido nos EUA é importado, pois a produção doméstica se limita basicamente ao Havaí e Porto Rico, volumes incapazes de suprir a demanda nacional.

Dependência externa e risco de ruptura de abastecimento

Na atual configuração do mercado, o Brasil é a principal origem do café que chega aos EUA. Levantamentos acadêmicos e do mercado estimam que o Brasil responde por cerca de um terço do consumo/entradas de café no país, uma participação que torna difícil substituir rapidamente o produto brasileiro sem impactos de preço e qualidade.

A nova tarifa já começou a reverberar na logística. Exportadores relatam que compradores americanos pediram o adiamento de embarques de café brasileiro após a alta de 50%, aguardando definições políticas e avaliando estoques de curto prazo.

No plano jurídico-diplomático, o Brasil levou a disputa à OMC e os EUA aceitaram o pedido de consultas em 19 de agosto de 2025, embora o governo americano argumente que a medida deriva de motivos de segurança nacional. Esse rito abre uma via formal de negociação, mas não suspende automaticamente as tarifas.

Efeito no preço: cafeterias e torrefadores sentem o tranco

Para o consumidor, o elo visível são as cafeterias e os torrefadores. Em centros como Nova York, donos de cafés relatam pressão de custos e risco de repasses de preços por causa do salto tarifário sobre o Brasil, movimento que se soma a outras pressões (frete, clima, commodities) já presentes em 2025.

A cadeia de torrefação também enfrenta apertos de caixa: um contêiner de café verde vale centenas de milhares de dólares, e mudanças repentinas no custo de importação podem bagunçar planejamento, blends e contratos. Alguns importadores e torrefadores descrevem, inclusive, adiamentos de compras e renegociação de prazos até haver mais clareza regulatória.

Para um mercado no qual o café ficou historicamente isento ou com tarifas mínimas por razões de política alimentar e de consumo, a mordida adicional de 50% em um fornecedor dominante tende a reprecificar o varejo, sobretudo em cafés especiais e marcas que dependem de perfis sensoriais associados a origens brasileiras. Resultado provável: xícaras mais caras e margens espremidas no curto prazo.

Desvio de comércio: China e outros destinos entram no radar

Se os EUA encarecem o café do Brasil, outros mercados correm para preencher o vácuo. Em 30 de Julho, a China autorizou 183 empresas brasileiras a exportar café para seu mercado por cinco anos, medida anunciada dias antes da vigência do tarifaço americano. Isso facilita redirecionar volumes que tradicionalmente iriam aos EUA.

Esse desvio de comércio pode redesenhar fluxos globais: compradores americanos tenderiam a ampliar compras de Colômbia, Vietnã, América Central e outros, enquanto embarques brasileiros ganhariam espaço na Ásia e na Europa. No curto prazo, analistas do agronegócio já projetam essa redistribuição como uma das consequências diretas do novo custo relativo.

Há também um debate técnico sobre origem aduaneira: precedentes da CBP (alfândega dos EUA) reconhecem que torrar o café pode configurar “transformação substancial”, alterando a origem do produto para o país de torra (relevante em determinadas normas), ao passo que agentes do trade vêm informando que, na prática recente, a tarifa tem sido cobrada pelo país de origem do grão, ainda que haja processamento em terceiros mercados.

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Geovane Souza

Geovane Souza é especialista em criação de conteúdo na internet, ações de SEO e marketing digital. Nas horas vagas é Universitário de Sistemas de Informação no IFBA Campus de Vitória da Conquista.

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