Negociação bilionária agita o setor petroquímico brasileiro, envolvendo decisões estratégicas de bancos, governo e desafios ambientais, enquanto o futuro do controle da Braskem é disputado por grandes players nacionais.
A Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou, sem restrições, nesta quinta‑feira (17), a proposta do empresário Nelson Tanure para adquirir a participação da Novonor (antiga Odebrecht) na Braskem — controladora de 50,1% das ações com direito a voto — por meio do fundo Petroquímica Verde.
No entanto, a operação avança apenas se mantidos os termos submetidos ao Cade por Tanure, e permanece sujeita a um prazo de 15 dias para manifestações e eventuais contestações.
Por ora, o aval concedido não representa fechamento definitivo. Qualquer alteração relevante na estrutura ou no grupo comprador pode exigir nova análise.
-
Após BYD, GWM e outras, Brasil se prepara para receber mais uma marca chinesa com SUVs robustos, motor de Tiggo 7 e visual estilo Land Rover
-
Opções de crédito alternativas ganham espaço entre empreendedores com baixo score e dificuldade de aprovação em instituições financeiras comuns
-
Regras da aposentadoria que impedem você de trabalhar são aplicadas pelo INSS e podem cortar pagamentos sem aviso prévio
-
Brasil, Rússia e China se unem nos bastidores do BRICS e acendem alerta global com acordos bilionários para dominar infraestrutura, controlar o meio ambiente e desafiar a hegemonia dos EUA
De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, o Cade ainda condicionou a concretização do negócio ao cumprimento de três exigências: respeito ao acordo de acionistas que concede à Petrobras direito de preferência, consenso com os bancos credores sobre garantias e resoluções do passivo ambiental em Maceió.
Estratégia política e influência da Petrobras
O governo federal e a Petrobras veem o avanço da proposta com simpatia, sobretudo por manter o controle da Braskem em mãos brasileiras, após tentativas frustradas de venda a grupos internacionais como a Adnoc (Abu Dhabi) e a LyondellBasell (Holanda).
A estatal busca reforçar sua capacidade de gestão na petroquímica — por meio do aumento do número de assentos no conselho e da pressão por mais influência estratégica —, sem, porém, retomar o controle acionário direto.
Em maio, fontes revelaram que a Petrobras pretende renegociar o acordo de acionistas para ampliar sua presença no conselho — atuando de forma semelhante ao que ocorre na Eletrobras — e que a executiva Magda Chambriard elogiou o movimento como “um passo na direção certa”.
Atualmente, a Petrobras detém 36,1% do capital total da Braskem e 47% das ações com direito a voto, elegendo quatro conselheiros e o diretor de Investimentos e Portfólio.
A Novonor indica seis membros do conselho, incluindo presidente e diretor financeiro.
Condições para a compra por Tanure
Para que Tanure assuma o controle da Braskem, três fatores são determinantes:
- Acordo com bancos credores
Os principais credores — BNDES, Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil — detêm, em garantia de empréstimos à Novonor, ações da Braskem avaliadas em cerca de R$ 15 bilhões.
Fontes relatam que os bancos mantêm cautela e chegam a preferir uma reestruturação via fundo de private equity antes de liberar o controle das ações.
- Passivo ambiental de Maceió
A Braskem enfrenta um passivo judicial e ambiental decorrente do afundamento de bairros na capital alagoana, ocasionado por antigas operações de extração de sal-gema.
Estimativas atuais apontam reservas superiores a R$ 14 bilhões, mas esse valor pode aumentar conforme o andamento dos processos.
O Cade exigiu que esse tema seja resolvido ou adequadamente provisionado antes do fechamento da operação.
- Direito de preferência da Petrobras
O acordo societário garante à Petrobras a preferência na compra da fatia da Novonor.
O Cade reforçou que qualquer descumprimento desse acordo poderá anular a aprovação atual.
Perfil de Nelson Tanure e estratégia de aquisição
Nelson Sequeiros Rodriguez Tanure, 73 anos, nasceu em Salvador e se consolidou como um executivo de perfil arrojado em reestruturações, atuando em empresas como Oi, Light, Gafisa, além do setor de telecomunicações e mídia.
Seu fundo, Petroquímica Verde, propõe colocar em prática uma visão de “reindustrialização verde”, apoiada no gás natural do pré-sal e em novas tecnologias sustentáveis, sobretudo nos polos de Camaçari e Rio de Janeiro.
Ele contratou o banco de investimentos Rothschild & Co. em meados de junho para conduzir negociações com os bancos credores da dívida da Novonor, e visa manter parte da Novonor como acionista minoritária, cerca de 3,5%, segundo o fato relevante da Braskem.
No entanto, críticas surgem sobre o modelo agressivo de gestão de Tanure e o potencial desalinhamento com os planos expansionistas da Petrobras, que aposta num crescimento sustentável e integração maior com a cadeia petrolquímica nacional.
Situação atual da Braskem no mercado petroquímico
Atualmente, a Braskem ocupa a sexta posição entre as maiores petroquímicas do mundo, com operações em dez países.
No entanto, seu parque industrial opera com cerca de 30% de ociosidade, reflexo da queda global nos preços de matérias-primas e da competição com importados, especialmente dos EUA.
O recente anúncio da Petrobras de um novo ciclo de investimentos no setor petroquímico — incluindo a expansão da unidade da Braskem no Rio de Janeiro e o Complexo Boaventura (antigo Comperj), voltado à moléculas derivadas do gás natural — reforça a relevância estratégica da petroquímica no plano de reindustrialização nacional.
Andamento da negociação e próximos passos
Aprovação do Cade: concedida sem restrições (17/jul/2025), com prazo para contestação.
Bancos credores: em negociação; constituição de garantia e aval ainda pendentes.
Passivo ambiental: requisição de resolução ou provisionamento antes da transferência.
Acordo de acionistas: direito de preferência da Petrobras deve ser respeitado.
Renegociação com a Petrobras: em andamento para ampliar influência sem aumento de participação acionária.
O próximo marco será o alinhamento de Tanure com os bancos credores.
Caso haja consenso, a transação poderá ser concluída ainda neste segundo semestre de 2025.
Porém, se surgirem impasses — especificamente em relação ao passivo de Maceió ou à governança —, novos entraves poderão atrasar ou mesmo inviabilizar o negócio.
A expectativa é de que a negociação entre Tanure, a Novonor, os bancos e a Petrobras seja acompanhada de perto pelo mercado, por tratar-se de uma das maiores transações já realizadas no setor petroquímico nacional.