1. Início
  2. / Economia
  3. / Tacada de mestre? Petrobras e governo apoiam a venda da Braskem, sexta maior petroquímica do mundo, e o real motivo foi revelado
Tempo de leitura 5 min de leitura Comentários 0 comentários

Tacada de mestre? Petrobras e governo apoiam a venda da Braskem, sexta maior petroquímica do mundo, e o real motivo foi revelado

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 18/07/2025 às 15:15
Venda da Braskem avança com aval do Cade, apoio da Petrobras e governo, e impasses envolvendo bancos credores e passivo ambiental em Maceió.
Venda da Braskem avança com aval do Cade, apoio da Petrobras e governo, e impasses envolvendo bancos credores e passivo ambiental em Maceió.
  • Reação
3 pessoas reagiram a isso.
Reagir ao artigo

Negociação bilionária agita o setor petroquímico brasileiro, envolvendo decisões estratégicas de bancos, governo e desafios ambientais, enquanto o futuro do controle da Braskem é disputado por grandes players nacionais.

A Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou, sem restrições, nesta quinta‑feira (17), a proposta do empresário Nelson Tanure para adquirir a participação da Novonor (antiga Odebrecht) na Braskem — controladora de 50,1% das ações com direito a voto — por meio do fundo Petroquímica Verde.

No entanto, a operação avança apenas se mantidos os termos submetidos ao Cade por Tanure, e permanece sujeita a um prazo de 15 dias para manifestações e eventuais contestações.

Por ora, o aval concedido não representa fechamento definitivo. Qualquer alteração relevante na estrutura ou no grupo comprador pode exigir nova análise.

De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, o Cade ainda condicionou a concretização do negócio ao cumprimento de três exigências: respeito ao acordo de acionistas que concede à Petrobras direito de preferência, consenso com os bancos credores sobre garantias e resoluções do passivo ambiental em Maceió.

Estratégia política e influência da Petrobras

O governo federal e a Petrobras veem o avanço da proposta com simpatia, sobretudo por manter o controle da Braskem em mãos brasileiras, após tentativas frustradas de venda a grupos internacionais como a Adnoc (Abu Dhabi) e a LyondellBasell (Holanda).

A estatal busca reforçar sua capacidade de gestão na petroquímica — por meio do aumento do número de assentos no conselho e da pressão por mais influência estratégica —, sem, porém, retomar o controle acionário direto.

Em maio, fontes revelaram que a Petrobras pretende renegociar o acordo de acionistas para ampliar sua presença no conselho — atuando de forma semelhante ao que ocorre na Eletrobras — e que a executiva Magda Chambriard elogiou o movimento como “um passo na direção certa”.

Atualmente, a Petrobras detém 36,1% do capital total da Braskem e 47% das ações com direito a voto, elegendo quatro conselheiros e o diretor de Investimentos e Portfólio.

A Novonor indica seis membros do conselho, incluindo presidente e diretor financeiro.

Condições para a compra por Tanure

Para que Tanure assuma o controle da Braskem, três fatores são determinantes:

  1. Acordo com bancos credores
    Os principais credores — BNDES, Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil — detêm, em garantia de empréstimos à Novonor, ações da Braskem avaliadas em cerca de R$ 15 bilhões.

Fontes relatam que os bancos mantêm cautela e chegam a preferir uma reestruturação via fundo de private equity antes de liberar o controle das ações.

  1. Passivo ambiental de Maceió
    A Braskem enfrenta um passivo judicial e ambiental decorrente do afundamento de bairros na capital alagoana, ocasionado por antigas operações de extração de sal-gema.

Estimativas atuais apontam reservas superiores a R$ 14 bilhões, mas esse valor pode aumentar conforme o andamento dos processos.

O Cade exigiu que esse tema seja resolvido ou adequadamente provisionado antes do fechamento da operação.

  1. Direito de preferência da Petrobras
    O acordo societário garante à Petrobras a preferência na compra da fatia da Novonor.

O Cade reforçou que qualquer descumprimento desse acordo poderá anular a aprovação atual.

YouTube Video

Perfil de Nelson Tanure e estratégia de aquisição

Nelson Sequeiros Rodriguez Tanure, 73 anos, nasceu em Salvador e se consolidou como um executivo de perfil arrojado em reestruturações, atuando em empresas como Oi, Light, Gafisa, além do setor de telecomunicações e mídia.

Seu fundo, Petroquímica Verde, propõe colocar em prática uma visão de “reindustrialização verde”, apoiada no gás natural do pré-sal e em novas tecnologias sustentáveis, sobretudo nos polos de Camaçari e Rio de Janeiro.

Ele contratou o banco de investimentos Rothschild & Co. em meados de junho para conduzir negociações com os bancos credores da dívida da Novonor, e visa manter parte da Novonor como acionista minoritária, cerca de 3,5%, segundo o fato relevante da Braskem.

No entanto, críticas surgem sobre o modelo agressivo de gestão de Tanure e o potencial desalinhamento com os planos expansionistas da Petrobras, que aposta num crescimento sustentável e integração maior com a cadeia petrolquímica nacional.

Situação atual da Braskem no mercado petroquímico

Atualmente, a Braskem ocupa a sexta posição entre as maiores petroquímicas do mundo, com operações em dez países.

No entanto, seu parque industrial opera com cerca de 30% de ociosidade, reflexo da queda global nos preços de matérias-primas e da competição com importados, especialmente dos EUA.

O recente anúncio da Petrobras de um novo ciclo de investimentos no setor petroquímico — incluindo a expansão da unidade da Braskem no Rio de Janeiro e o Complexo Boaventura (antigo Comperj), voltado à moléculas derivadas do gás natural — reforça a relevância estratégica da petroquímica no plano de reindustrialização nacional.

Andamento da negociação e próximos passos

Aprovação do Cade: concedida sem restrições (17/jul/2025), com prazo para contestação.

Bancos credores: em negociação; constituição de garantia e aval ainda pendentes.

Passivo ambiental: requisição de resolução ou provisionamento antes da transferência.

Acordo de acionistas: direito de preferência da Petrobras deve ser respeitado.

Renegociação com a Petrobras: em andamento para ampliar influência sem aumento de participação acionária.

O próximo marco será o alinhamento de Tanure com os bancos credores.

Caso haja consenso, a transação poderá ser concluída ainda neste segundo semestre de 2025.

Porém, se surgirem impasses — especificamente em relação ao passivo de Maceió ou à governança —, novos entraves poderão atrasar ou mesmo inviabilizar o negócio.

A expectativa é de que a negociação entre Tanure, a Novonor, os bancos e a Petrobras seja acompanhada de perto pelo mercado, por tratar-se de uma das maiores transações já realizadas no setor petroquímico nacional.

Inscreva-se
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais recente
Mais antigos Mais votado
Feedbacks
Visualizar todos comentários
Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x