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Tacada de mestre da Petrobras: o insano estaleiro da estatal para fabricar navios no Brasil

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 25/10/2025 às 15:40
Retomada industrial da Petrobras no Estaleiro Enseada (BA) com R$ 2,58 bi em seis navios de apoio, geração de mais de 5 mil empregos e impulso à indústria naval brasileira.
Retomada industrial da Petrobras no Estaleiro Enseada (BA) com R$ 2,58 bi em seis navios de apoio, geração de mais de 5 mil empregos e impulso à indústria naval brasileira.
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Em Maragogipe, na Bahia, um dos maiores estaleiros da América Latina volta à ativa com apoio da Petrobras. O projeto promete movimentar a indústria naval e gerar milhares de empregos em uma nova fase de produção de embarcações no país.

A Petrobras confirmou a contratação de seis navios do tipo ORSV para resposta a vazamentos de óleo, com investimento estimado em R$ 2,58 bilhões.

As embarcações serão construídas no Estaleiro Enseada, em Maragogipe (BA), sob regime de quatro anos de construção e 12 anos de operação por unidade, com afretamento pela CMM Offshore Brasil.

Segundo a companhia, os contratos incluem exigência de 40% de conteúdo local e projeção de 5,4 mil empregos diretos e indiretos, números citados por autoridades federais e confirmados em comunicados recentes.

Localizado às margens do rio Paraguaçu, a aproximadamente 130 km de Salvador, o Enseada abriga um parque industrial de cerca de 1,6 milhão de m², com pátios modulares, oficinas de corte e soldagem e cais de integração.

Segundo reportagem publicada pelo canal Construction Time, o complexo foi concebido para atender projetos de grande porte da cadeia de petróleo e gás, com arranjo fabril voltado à construção naval e à integração de módulos offshore.

Origem do projeto e hiato operacional

Vista aérea do Estaleiro Enseada em Maragogipe destacando pátios modulares da indústria naval brasileira. (Imagem: Divulgação Estaleiro Enseada)
Vista aérea do Estaleiro Enseada em Maragogipe destacando pátios modulares da indústria naval brasileira. (Imagem: Divulgação Estaleiro Enseada)

O estaleiro nasceu no ciclo de expansão do pré-sal, no início da década de 2010, quando foi estruturado como Estaleiro Enseada do Paraguaçu (EEP) por um consórcio que incluía Odebrecht/Novonor, OAS, UTC Engenharia e parceria tecnológica com a Kawasaki Heavy Industries.

De acordo com apuração do Construction Time, o planejamento inicial previa atender encomendas vinculadas à Sete Brasil, com contratos de seis navios-sonda destinados às operações da Petrobras.

A trajetória foi interrompida com a crise econômica, a queda do preço do petróleo e os efeitos da Operação Lava Jato, que atingiram empresas do consórcio e a própria Sete Brasil.

Houve suspensão de contratos e redução do ritmo de obras, deixando a planta com baixa utilização por vários anos.

Especialistas lembram que a experiência expôs riscos de projetos de alta complexidade contratual e financeira quando não há estabilidade de demanda e financiamento.

Retomada com foco em apoio offshore

A nova carteira prioriza embarcações de apoio em vez de navios-sonda.

Conforme destacou o Construction Time, essa estratégia é considerada por analistas mais aderente à demanda operacional contínua da Petrobras e às capacidades atuais da cadeia local.

Os ORSVs são navios especializados em contenção e coleta de óleo em alto-mar, parte do sistema de segurança ambiental da companhia.

Os contratos preveem produção no próprio Enseada, afretamento pela CMM Offshore Brasil e cláusulas de conteúdo local mínimo de 40%.

Segundo fontes do setor, a padronização do escopo reduz incertezas industriais, melhora a previsibilidade de cronogramas e facilita a formação de fornecedores, pontos frequentemente citados em estudos sobre reindustrialização.

Capacidade instalada e estrutura do estaleiro

Infraestrutura do Estaleiro Enseada com área de 1,6 milhão m² e acesso direto ao rio Paraguaçu no estado da Bahia. (Imagem: Divulgação Estaleiro Enseada)
Infraestrutura do Estaleiro Enseada com área de 1,6 milhão m² e acesso direto ao rio Paraguaçu no estado da Bahia. (Imagem: Divulgação Estaleiro Enseada)

O parque do Enseada reúne pátios de fabricação simultânea de blocos, oficinas automatizadas e áreas de integração e acabamento com dimensões adequadas a séries de navios de apoio e módulos para plataformas.

Engenheiros consultados ressaltam que o arranjo fabril permite sequenciamento de etapas e ganho de produtividade, aspecto visto como determinante para custos e prazos.

Há menções públicas a um dique seco de grandes dimensões no projeto original do estaleiro; porém, especificações detalhadas atualizadas não são consensuais entre documentos disponíveis.

Por cautela, este texto não reproduz medidas sem respaldo técnico recente.

O canal Construction Time também apontou essa característica em materiais de contexto, sem fixar números na configuração atual.

Diversificação e efeitos econômicos

Antes da nova carteira de apoio marítimo, o estaleiro buscou diversificação industrial.

Em 2024 e 2025, a planta passou a fabricar barcaças metálicas para projetos logísticos, em consórcio com a Tenenge, com previsão de dezenas de unidades e investimentos públicos associados ao financiamento setorial.

Segundo especialistas, essa frente ajudou a reocupar capacidade, manter mão de obra e preservar certificações, enquanto a demanda de óleo e gás se recomponha.

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Para a etapa dos seis ORSVs, a expectativa de 5,4 mil postos de trabalho diretos e indiretos inclui contratações no estaleiro e em empresas fornecedoras de aço, válvulas, cabos, sistemas elétricos, pintura industrial, tubulação, automação e testes.

Técnicos do setor avaliam que a exigência de conteúdo local tende a estimular certificações, treinamento e adensamento da base de fornecedores do Recôncavo Baiano.

Relação com a Petrobras e lições do ciclo anterior

A encomenda atual representa uma reaproximação operacional entre a Petrobras e a indústria naval no país, com foco em embarcações de apoio de complexidade técnica moderada e uso direto nas rotinas offshore.

Segundo analistas da indústria naval, a ênfase em séries padronizadas reduz exposição financeira e melhora a curva de aprendizado.

Em materiais de referência, o Construction Time também apontou que o estaleiro tem condições de operar como base de integração para demandas de óleo e gás e de energias renováveis, a depender de novas carteiras.

Especialistas observam que a continuidade após os ORSVs dependerá de pipeline adicional e governança contratual, além de financiamento competitivo.

A agenda pública recente inclui metas de conteúdo local para embarcações de apoio, o que pode ampliar previsibilidade da demanda e incentivar investimentos em qualificação de fornecedores.

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas e também editor do portal CPG. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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