Em Maragogipe, na Bahia, um dos maiores estaleiros da América Latina volta à ativa com apoio da Petrobras. O projeto promete movimentar a indústria naval e gerar milhares de empregos em uma nova fase de produção de embarcações no país.
A Petrobras confirmou a contratação de seis navios do tipo ORSV para resposta a vazamentos de óleo, com investimento estimado em R$ 2,58 bilhões.
As embarcações serão construídas no Estaleiro Enseada, em Maragogipe (BA), sob regime de quatro anos de construção e 12 anos de operação por unidade, com afretamento pela CMM Offshore Brasil.
Segundo a companhia, os contratos incluem exigência de 40% de conteúdo local e projeção de 5,4 mil empregos diretos e indiretos, números citados por autoridades federais e confirmados em comunicados recentes.
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Localizado às margens do rio Paraguaçu, a aproximadamente 130 km de Salvador, o Enseada abriga um parque industrial de cerca de 1,6 milhão de m², com pátios modulares, oficinas de corte e soldagem e cais de integração.
Segundo reportagem publicada pelo canal Construction Time, o complexo foi concebido para atender projetos de grande porte da cadeia de petróleo e gás, com arranjo fabril voltado à construção naval e à integração de módulos offshore.
Origem do projeto e hiato operacional

O estaleiro nasceu no ciclo de expansão do pré-sal, no início da década de 2010, quando foi estruturado como Estaleiro Enseada do Paraguaçu (EEP) por um consórcio que incluía Odebrecht/Novonor, OAS, UTC Engenharia e parceria tecnológica com a Kawasaki Heavy Industries.
De acordo com apuração do Construction Time, o planejamento inicial previa atender encomendas vinculadas à Sete Brasil, com contratos de seis navios-sonda destinados às operações da Petrobras.
A trajetória foi interrompida com a crise econômica, a queda do preço do petróleo e os efeitos da Operação Lava Jato, que atingiram empresas do consórcio e a própria Sete Brasil.
Houve suspensão de contratos e redução do ritmo de obras, deixando a planta com baixa utilização por vários anos.
Especialistas lembram que a experiência expôs riscos de projetos de alta complexidade contratual e financeira quando não há estabilidade de demanda e financiamento.
Retomada com foco em apoio offshore
A nova carteira prioriza embarcações de apoio em vez de navios-sonda.
Conforme destacou o Construction Time, essa estratégia é considerada por analistas mais aderente à demanda operacional contínua da Petrobras e às capacidades atuais da cadeia local.
Os ORSVs são navios especializados em contenção e coleta de óleo em alto-mar, parte do sistema de segurança ambiental da companhia.
Os contratos preveem produção no próprio Enseada, afretamento pela CMM Offshore Brasil e cláusulas de conteúdo local mínimo de 40%.
Segundo fontes do setor, a padronização do escopo reduz incertezas industriais, melhora a previsibilidade de cronogramas e facilita a formação de fornecedores, pontos frequentemente citados em estudos sobre reindustrialização.
Capacidade instalada e estrutura do estaleiro

O parque do Enseada reúne pátios de fabricação simultânea de blocos, oficinas automatizadas e áreas de integração e acabamento com dimensões adequadas a séries de navios de apoio e módulos para plataformas.
Engenheiros consultados ressaltam que o arranjo fabril permite sequenciamento de etapas e ganho de produtividade, aspecto visto como determinante para custos e prazos.
Há menções públicas a um dique seco de grandes dimensões no projeto original do estaleiro; porém, especificações detalhadas atualizadas não são consensuais entre documentos disponíveis.
Por cautela, este texto não reproduz medidas sem respaldo técnico recente.
O canal Construction Time também apontou essa característica em materiais de contexto, sem fixar números na configuração atual.
Diversificação e efeitos econômicos
Antes da nova carteira de apoio marítimo, o estaleiro buscou diversificação industrial.
Em 2024 e 2025, a planta passou a fabricar barcaças metálicas para projetos logísticos, em consórcio com a Tenenge, com previsão de dezenas de unidades e investimentos públicos associados ao financiamento setorial.
Segundo especialistas, essa frente ajudou a reocupar capacidade, manter mão de obra e preservar certificações, enquanto a demanda de óleo e gás se recomponha.
Para a etapa dos seis ORSVs, a expectativa de 5,4 mil postos de trabalho diretos e indiretos inclui contratações no estaleiro e em empresas fornecedoras de aço, válvulas, cabos, sistemas elétricos, pintura industrial, tubulação, automação e testes.
Técnicos do setor avaliam que a exigência de conteúdo local tende a estimular certificações, treinamento e adensamento da base de fornecedores do Recôncavo Baiano.
Relação com a Petrobras e lições do ciclo anterior
A encomenda atual representa uma reaproximação operacional entre a Petrobras e a indústria naval no país, com foco em embarcações de apoio de complexidade técnica moderada e uso direto nas rotinas offshore.
Segundo analistas da indústria naval, a ênfase em séries padronizadas reduz exposição financeira e melhora a curva de aprendizado.
Em materiais de referência, o Construction Time também apontou que o estaleiro tem condições de operar como base de integração para demandas de óleo e gás e de energias renováveis, a depender de novas carteiras.
Especialistas observam que a continuidade após os ORSVs dependerá de pipeline adicional e governança contratual, além de financiamento competitivo.
A agenda pública recente inclui metas de conteúdo local para embarcações de apoio, o que pode ampliar previsibilidade da demanda e incentivar investimentos em qualificação de fornecedores.



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