Em meio a 13 meses seguidos de queda nas cotações internacionais, a Suzano passou a falar em colapso global da celulose, afirmando que os preços atuais são economicamente insustentáveis e que parte relevante da capacidade produtiva mundial já opera abaixo do custo de caixa, especialmente na Europa
A leitura da Suzano sobre o momento da indústria é direta: a combinação de demanda mais fraca em algumas regiões, excesso de capacidade e custos crescentes de insumos criou as condições para um colapso global da celulose na forma de margens comprimidas e pressão intensa sobre produtores com estruturas menos eficientes. Em sua avaliação, cerca de 15% da capacidade global de fibra curta já opera abaixo do custo de caixa, o que significa produzir sistematicamente no prejuízo.
Ao mesmo tempo em que descreve um cenário de estresse prolongado no mercado, com tonelada de fibra curta negociada abaixo de 600 dólares por mais de um ano, a companhia reforça que o ajuste virá pela oferta, com paralisações de fábricas menos competitivas, enquanto busca atravessar o ciclo adverso com disciplina financeira, redução estrutural de custos e diversificação em negócios de maior valor agregado
Por que a Suzano fala em colapso global da celulose

Quando a Suzano usa a expressão colapso global da celulose, o foco não está em uma ruptura física da cadeia, mas em um colapso econômico de parte da indústria.
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Os preços abaixo de 600 dólares por tonelada de fibra curta por 13 meses seguidos comprimiram margens a um ponto em que diversas fábricas passaram a operar abaixo do custo de caixa, sinal claro de que o modelo de negócios nessas unidades deixou de ser sustentável no curto prazo.
Esse desequilíbrio reflete um descompasso entre oferta e demanda em escala global.
De um lado, o setor conviveu com anos de expansão de capacidade em diferentes regiões.
De outro, a desaceleração econômica em mercados desenvolvidos, ajustes de consumo e mudanças regulatórias em países como a China reduziram o ritmo de absorção da celulose.
O resultado é um ambiente em que os produtores mais eficientes conseguem atravessar o ciclo, enquanto os menos competitivos se aproximam de paralisações forçadas.
Preços insustentáveis e o impacto regional
A companhia classifica os preços atuais como completamente insustentáveis, sobretudo quando observada a realidade europeia.
Em algumas regiões, o aumento dos custos de energia, logística e matérias primas elevou o patamar de despesas a ponto de corroer qualquer margem residual.
Estimativas internas apontam que até um quarto da capacidade produtiva de celulose na Europa já se tornou inviável economicamente, reforçando o risco de desativação de linhas ou de unidades inteiras.
Na Ásia, o quadro é diferente, mas não menos desafiador. A alta recente no preço dos cavacos de madeira na China, na faixa de 25 a 40 dólares adicionais por tonelada, pressiona a estrutura de custos das fábricas locais e de players que dependem desse insumo.
Ao mesmo tempo, novas restrições ao uso de fibras recicladas em aplicações específicas aumentam a demanda por celulose virgem, criando um ambiente em que a oferta precisa ser ajustada de forma coordenada para evitar um agravamento do colapso global da celulose.
Ajustes de oferta como resposta ao ciclo de queda
Diante de 13 meses consecutivos de cotações deprimidas, a avaliação da Suzano é que o ajuste necessário ocorrerá principalmente pelo lado da oferta.
A empresa projeta cortes relevantes de capacidade nos próximos trimestres, seja por paralisações temporárias, seja por desligamentos definitivos em fábricas que não conseguem competir em custo.
A lógica é clara: se uma parcela do setor vende abaixo do custo de caixa, essa parcela tende a sair do mercado.
Esse movimento tende a ser mais intenso em regiões onde os custos estruturais são mais altos e a escala de produção é menor.
Operações com acesso limitado a florestas de alta produtividade, logística cara ou ativos antigos e menos eficientes são as primeiras candidatas a reduzir produção.
No limite, o próprio processo de ajuste de oferta, ao longo do tempo, é o que pode aliviar o quadro de colapso global da celulose, abrindo espaço para uma recuperação gradual de preços em patamares mais compatíveis com a sustentabilidade econômica da indústria.
Estratégia de custos: como a Suzano busca atravessar o ciclo
Enquanto descreve um ambiente adverso para o conjunto do setor, a Suzano destaca que vem atuando para manter sua posição entre os produtores de menor custo do mundo.
No terceiro trimestre, o custo caixa recuou cerca de 4 por cento, para 801 reais por tonelada, e já se situa abaixo de 800 reais no quarto trimestre, no menor nível em anos.
Redução de custo, nesse contexto de colapso global da celulose, passa a ser tão estratégica quanto qualquer recuperação de preço.
Esse resultado foi impulsionado por menores custos de madeira e energia, ganhos logísticos e economia no uso de insumos químicos.
A companhia também fechou um novo contrato de fornecimento de madeira com a Eldorado, que deve reduzir o consumo por tonelada em aproximadamente 4 por cento a partir de 2026.
A meta declarada é manter custos estruturalmente baixos até 2027, consolidando uma posição de resiliência em relação a concorrentes mais pressionados pelos custos regionais.
Disciplina financeira em meio à pressão de preços
No campo financeiro, a estratégia da Suzano é combinada com cautela.
A empresa registrou aumento da alavancagem para cerca de 3,3 vezes o Ebitda, reflexo direto da queda nas cotações internacionais da celulose, mas manteve a dívida líquida estável e ainda entregou fluxo de caixa livre positivo, mesmo após cerca de 1 bilhão de reais em despesas extraordinárias associadas a operações com a Eldorado e resgates antecipados de títulos.
A companhia emitiu 1 bilhão de dólares em títulos de dez anos, com o menor spread de sua história, ampliando o prazo médio da dívida para algo próximo de 80 meses, a um custo em torno de 5 por cento ao ano.
Além disso, o portfólio de hedge cambial tem potencial de gerar até 2,5 bilhões de reais em ganhos de caixa até 2026.
Em um ambiente descrito como de colapso global da celulose, alongar prazos, reduzir custos de financiamento e preservar liquidez passa a ser parte essencial do plano de sobrevivência e de posicionamento para o próximo ciclo.
Embalagens e diversificação além da celulose de mercado
Uma frente importante para reduzir a exposição direta ao colapso global da celulose é a diversificação em negócios de maior valor agregado.
A unidade de embalagens registrou seu primeiro Ebitda positivo, atingindo 542 milhões de reais, alta de 11 por cento em relação ao trimestre anterior.
A fábrica de Pine Bluff, nos Estados Unidos, tornou se lucrativa pela primeira vez, marcando um ponto de virada na estratégia de internacionalização do portfólio.
Executivos indicam que a divisão de embalagens deve seguir ampliando margens e produção em 2026, apoiada pelo aumento da demanda doméstica e por melhorias operacionais na unidade de Mucuri, na Bahia.
Nos Estados Unidos, a intenção é expandir a presença em papéis voltados ao setor alimentício, reduzindo a dependência do segmento de embalagens para líquidos.
Ao construir uma base de receita menos atrelada exclusivamente ao preço da celulose de mercado, a Suzano tenta amortecer os efeitos do ciclo negativo e capturar valor em cadeias mais próximas do consumidor final.
Foco em projetos já contratados e limitação de novos investimentos
Apesar de manter um plano de longo prazo para o negócio, a empresa adotou tom prudente em relação a novos projetos.
A prioridade declarada é extrair valor dos investimentos já realizados, incluindo as operações de Aracruz, no Espírito Santo, a parceria com a Kimberly Clark e as unidades de embalagem nos Estados Unidos.
A companhia não pretende lançar grandes empreendimentos no curto prazo, evitando ampliar capacidade em um momento em que o discurso dominante é o de colapso global da celulose e necessidade de cortes de oferta.
No segmento de celulose solúvel, a Suzano sinaliza que a participação na austríaca Lenzing seguirá em cerca de 15 por cento, em um contexto de margens comprimidas por excesso de oferta na Ásia.
A expectativa é que a empresa apresente uma atualização estratégica em seu Investor Day, com detalhamento de metas de redução de custos, de alavancagem e planos de integração da joint venture com a Kimberly Clark, sempre com ênfase em disciplina de capital.
O que o colapso global da celulose indica para os próximos anos
O alerta de colapso global da celulose emitido pela Suzano funciona como um termômetro de estresse para toda a cadeia, dos produtores de fibra às indústrias de papel, embalagens e higiene.
Se o diagnóstico estiver correto, o próximo período deve ser marcado por fechamento de capacidade em regiões de custo elevado, consolidação de players mais eficientes e reequilíbrio gradual entre oferta e demanda, possivelmente acompanhado de uma recuperação lenta dos preços em patamares mais sustentáveis.
Para investidores, clientes industriais e formuladores de política industrial, o cenário descrito pela maior produtora mundial de celulose de eucalipto indica que a fase atual não é apenas um ponto fora da curva, mas um ciclo que exige decisões de médio prazo.
Eficiência operacional, disciplina financeira e diversificação aparecem como respostas chave a esse ambiente de forte pressão sobre margens.
Diante disso, na sua visão, o diagnóstico de colapso global da celulose tende a acelerar uma consolidação saudável do setor ou ainda pode gerar riscos de desorganização na oferta e impacto em cadeia sobre preços de papel, embalagens e produtos de higiene nos próximos anos?



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