Com vagas sobrando e jovens recusando empregos fixos, redes recorrem a idosos, reservistas e autoatendimento para evitar colapso nas operações.
Durante décadas, trabalhar em supermercados foi o primeiro passo de muitos brasileiros rumo ao mercado formal. Empacotar compras, operar o caixa ou repor mercadorias era quase um rito de passagem uma chance de conquistar o primeiro salário. Hoje, porém, esse cenário virou de cabeça para baixo: mesmo com centenas de milhares de vagas abertas, o setor vive uma escassez histórica de mão de obra.
De acordo com o canal elementar, o problema não é falta de gente. Com o desemprego em níveis historicamente baixos, o desafio agora é encontrar quem queira preencher essas vagas. O modelo tradicional de jornada longa, baixos salários e pouco conforto perdeu apelo, especialmente entre os jovens que buscam flexibilidade, propósito e liberdade de tempo.
O primeiro emprego perdeu o sentido
Até os anos 2000, o supermercado era a principal porta de entrada para o emprego formal. Hoje, a internet e a informalidade competem diretamente com esse modelo.
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Jovens preferem vender online, prestar serviços autônomos ou fazer entregas por aplicativo, mesmo sem estabilidade.
De acordo com o setor, existem mais de 350 mil postos de trabalho abertos em todo o país. Mesmo assim, as contratações empacam.
“O perfil do trabalhador mudou”, admite o vice-presidente da Abras, Márcio Milan. “Os jovens que viam o supermercado como primeiro emprego agora preferem atividades informais por causa da flexibilidade.”
Em um cenário onde as empresas buscam o trabalhador, e não o contrário, o supermercado perdeu seu atrativo.
E quando alguém aceita a vaga, descobre que o crachá vem com “etc.”: o operador de caixa também limpa o chão, ajuda na reposição e faz o que mais aparecer sem aumento proporcional no salário.
Quando o salário não cobre o básico
Um operador de caixa em média ganha R$ 1.600, valor que mal cobre aluguel, transporte e alimentação. A cesta básica ultrapassa R$ 430, e o aluguel de um quarto simples passa de R$ 900 em várias capitais.
O resultado é previsível: o salário não compensa o esforço.
Mesmo redes tradicionais sofrem. O Hirota, em São Paulo, precisou realocar funcionários de outras lojas após não conseguir preencher 80 vagas em uma nova unidade.
Outras, como a Oxxo, chegaram a adiar inaugurações por falta de equipe. A mão de obra existe, mas ninguém quer o posto.
A Confederação Nacional do Comércio (CNC) confirma: as oito funções mais comuns do setor de açougueiro a repositor estão entre as mais afetadas pela escassez.
A solução, segundo o economista Fabio Bentes, seria elevar o salário de admissão acima da média do mercado. Mas, com margens de lucro de apenas 2% a 5%, poucas redes conseguem bancar esse ajuste.
Idosos, reservistas e o “novo perfil” do trabalhador
Diante do apagão, as redes buscam alternativas. Idosos, aposentados e reservistas do Exército passaram a ser recrutados em peso.
Segundo a Abras, 80% dos jovens egressos do serviço militar conseguem emprego logo após deixar a farda. A lógica é simples: disciplina, pontualidade e resistência à rotina.
O Carrefour, por exemplo, contratou 53 mil pessoas inscritas no CadÚnico em 2024 famílias de baixa renda, muitas delas fora do mercado há anos.
A aposta tem dado certo: menor rotatividade e maior comprometimento. O perfil “ideal” de funcionário mudou, e o setor está aprendendo isso da maneira difícil.
Plataformas de recrutamento rápido também entraram em cena. O Tauste, com a ferramenta Helppi, reduziu o tempo médio de contratação de 15 para 7 dias.
O sistema cruza distância da residência, disponibilidade e histórico profissional quase um “Tinder do varejo”, mas com hora extra em vez de romance.
Autoatendimento cresce, mas divide opiniões
Paralelamente, as redes aceleram o uso de caixas de autoatendimento. O Pão de Açúcar já tem 90% das lojas automatizadas, e o Hortifruti expandiu o modelo até para produtos pesáveis, como frutas e verduras.
Segundo a consultoria RBR, o Brasil já conta com 8 mil unidades de self-checkout, número que não para de subir.
No exterior, no entanto, a tendência dá sinais de retrocesso. Supermercados no Reino Unido e nos EUA começaram a retirar as máquinas após reclamações de lentidão, impessoalidade e aumento de furtos.
No Brasil, ainda é o oposto: as empresas enxergam na automação uma saída temporária para a falta de pessoas, mesmo que o impacto na experiência do cliente ainda gere dúvidas.
O dilema de quem fica
Contratar é fácil. Reter é que virou o grande desafio. Para a especialista em RH Evelyn Rodrigues, a alta rotatividade é reflexo de ambientes duros, pouco reconhecimento e falta de perspectiva.
Sem um plano de carreira claro e condições dignas, o trabalhador sai na primeira oportunidade.
Enquanto isso, as redes operam no limite: precisam de gente, mas não têm como pagar muito mais. E quanto maior a automação, menor o incentivo para melhorar o ambiente humano.
O risco é um ciclo de desvalorização permanente pouca motivação, baixo desempenho e alta rotatividade, de novo e de novo.
O futuro dos supermercados em xeque
A crise de contratação nos supermercados é, no fundo, um sintoma de transformação social. Os jovens não rejeitam o trabalho em si rejeitam o formato ultrapassado.
Ao mesmo tempo, o setor tenta se reinventar com idosos, tecnologia e criatividade, mas ainda sem resolver a raiz do problema: valorizar o trabalho humano.
E você? Acha que o problema está nos jovens que não querem trabalhar ou nas condições que o setor oferece? Compartilhe sua opinião nos comentários. A conversa sobre o futuro dos supermercados está só começando.