Uma crise global sem precedentes ameaça o sabor do tradicional suco de laranja engarrafado. Problemas climáticos, doenças nas plantações e aumento nos preços indicam uma transformação duradoura no produto que faz parte da rotina de milhões de pessoas.
O suco de laranja engarrafado, ícone do café da manhã, enfrenta uma crise sem precedentes: queda histórica na produção global, adoção crescente de aromatizantes e acréscimo de aditivos naturais, tudo para manter sabor e consistência.
No Brasil, maior produtor e exportador mundial, a safra 2024/25 despenca e pressionará ainda mais os estoques e consumidores.
Produção global de suco de laranja em colapso
A produção global de suco de laranja atingiu o menor patamar em cerca de quatro décadas, devido ao avanço da doença greening e às condições climáticas extremas.
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No Brasil, estimativas da CitrusBR apontam safra com apenas 8,8 milhões de toneladas na temporada 2024/25 — contra 12,5 milhões no ciclo anterior, conforme o USDA.
Caso se confirme, será a menor colheita em 30 anos.
Nos Estados Unidos, a Flórida enfrenta a pior safra desde 1930, com queda de cerca de 30%, agravada por furacões e tarifas comerciais.
Esse cenário de oferta reduzida inflacionou os preços.
A tonelada de laranja na Bolsa de Nova York passou de US$ 1.119 em 2019 para US$ 5.364 em 2024 – alta superior a 380%.
No Brasil, o preço da caixa subiu de R$ 58,70 em janeiro para R$ 136,51 em novembro de 2024, segundo o Cepea/Esalq.
Indústria do suco de laranja aposta em flavor packs e aditivos naturais
Para manter o sabor do suco, indústrias como Kerry Group e IFF aumentaram o uso de flavor packs, compostos aromáticos concentrados reaproveitados da laranja.
Essa técnica, criada durante a Segunda Guerra Mundial, permite padronizar o aroma mesmo com baixa qualidade da fruta.
Devido à escassez, muitos desses flavor packs já não utilizam derivados de cítricos.
A empresa PeelPioneers, por exemplo, transforma cascas de laranja descartadas por restaurantes em insumo aromático.
A Kerry lançou o programa JuiceXcel, que usa aditivos naturais para manter o sabor com menor quantidade de suco concentrado.
Exportações e consumo mundial em queda
A crise reduziu drasticamente o volume exportado pelo Brasil.
Na safra 2024/25, o país embarcou 430 mil toneladas de suco — queda de 19,7% em relação ao mesmo período anterior.
A União Europeia, maior compradora, diminuiu suas importações em quase 12%.
Mesmo com a queda no volume, a receita subiu 42,7%, atingindo US$ 1,88 bilhão, impulsionada pelos preços elevados.
Com o produto mais caro, o consumo global também recuou.
Na Europa, o volume caiu entre 15% e 20% em 2024.
Nos Estados Unidos, o consumo per capita de suco caiu mais da metade desde os anos 1990.
O concentrado congelado, que antes custava menos de R$ 33 por quilo, chegou a quase R$ 55 em fevereiro de 2025.
Marcas adotam estratégias para segurar mercado
Empresas brasileiras estão adaptando seus produtos para reduzir custos.
Entre as medidas estão:
- Misturas com suco de manga.
- Diluição com água para criar bebidas do tipo néctar.
- Redução das embalagens de 1 litro para 700 mililitros, mantendo o preço final mais acessível.
Perspectivas para 2025/26: melhora moderada
A previsão para a safra 2025/26 é de recuperação.
Segundo o Fundecitrus, a produção pode chegar a 314,6 milhões de caixas, alta de 36% em relação à temporada anterior.
Esse crescimento se deve a clima mais favorável e manejo aprimorado dos pomares.
Mesmo assim, os estoques ainda permanecem baixos.
Doenças como o greening e eventos climáticos continuam ameaçando a estabilidade da produção.
Alta dos preços pode se manter
Nos EUA, uma garrafa de 350 ml custava US$ 2,30 em 2020 e chegou a US$ 4,50 em março de 2025.
Analistas apontam que, mesmo com leve reequilíbrio, os preços continuarão pressionados por baixos estoques e altos custos.
Risco de abandono definitivo pelo consumidor
Especialistas alertam que a crise pode provocar uma mudança definitiva nos hábitos de consumo.
Mesmo que a produção se recupere, a perda de consumidores pode ser irreversível.
Kees Cools, presidente da IFU, afirmou: “O suco de laranja faz parte do estilo de vida saudável de muitos consumidores, mas precisa ser acessível e, no momento, não é”.
E você, sente diferença no sabor do suco que compra? Acredita que vale pagar mais ou prefere buscar alternativas?