Um submersível chinês registrou imagens inéditas no fundo do Oceano Pacífico. As crateras gigantes reveladas guardam um sistema hidrotermal impressionante, repleto de hidrogênio e vida marinha surpreendente
Pesquisadores chineses identificaram um sistema hidrotermal inédito no fundo do Oceano Pacífico. Batizado de Kunlun, o campo surpreendeu pela dimensão, complexidade e pela vida marinha encontrada em suas crateras.
Crateras imensas repletas de hidrogênio
O sistema Kunlun fica a nordeste de Papua-Nova Guiné e possui 20 crateras. A maior delas tem cerca de 1.800 metros de largura e 130 metros de profundidade. Essas crateras se agrupam em um “enxame tubular” e liberam grandes quantidades de hidrogênio.
Segundo o estudo publicado na revista Science Advances em 8 de agosto, esse campo cobre uma área de 11 quilômetros quadrados, tornando-se centenas de vezes maior que o sistema atlântico conhecido como Cidade Perdida. Portanto, os cientistas destacam que se trata de um achado único.
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Hidrogênio e origem da vida
O processo de serpentinização é central para o fenômeno. Nele, a água do mar reage com rochas do manto, gerando minerais esverdeados e liberando hidrogênio.
Como o hidrogênio pode ser fonte de energia para organismos, os pesquisadores acreditam que Kunlun pode ajudar a entender como a vida surgiu na Terra.
De acordo com a Academia Chinesa de Ciências, os fluidos ricos em hidrogênio lembram o ambiente químico da Terra primitiva.
Além disso, a diversidade de espécies observadas impressionou. Camarões, lagostas, anêmonas e vermes tubulares prosperam na região, provavelmente alimentados pela quimiossíntese.
Vida sem luz solar
Nas profundezas oceânicas, a luz do sol não alcança. Por isso, as formas de vida não utilizam fotossíntese.
Em vez disso, recorrem à quimiossíntese, processo que transforma substâncias químicas, como o hidrogênio, em energia.
Uma equipe chinesa já havia filmado comunidades semelhantes a 9.500 metros de profundidade no Pacífico noroeste. Esses registros, raros até hoje, reforçam como a maioria do fundo marinho continua inexplorada.
Expedição submarina
No novo estudo, os cientistas usaram um submersível tripulado para mapear Kunlun e investigar quatro das maiores crateras.
As medições indicaram que o sistema produz mais de 5% de todo o hidrogênio submarino não vivo no planeta. Esse número chama atenção porque é resultado de um único campo.
Segundo a análise, o enxame tubular se formou em etapas. Primeiro, o acúmulo de hidrogênio provocou explosões subterrâneas.
Depois, fraturas surgiram nas bordas das crateras, liberando fluidos ricos em hidrogênio. Com o tempo, minerais bloquearam essas fissuras, permitindo novo acúmulo e possíveis explosões menores.
Diferenças em relação a outros sistemas
Kunlun se distingue dos sistemas hidrotermais comuns, formados por atividade vulcânica em limites de placas.
Esses, muitas vezes, apresentam chaminés negras, onde a água pode chegar a 400 graus Celsius. Já os sistemas de serpentinização, como Kunlun e a Cidade Perdida, são mais frios, com temperaturas abaixo de 90 graus.
Outro fator notável é a localização. A Cidade Perdida está próxima a uma dorsal meso-oceânica, onde placas tectônicas se afastam.
Kunlun, porém, fica dentro de uma placa, distante de dorsais, o que desafia concepções tradicionais sobre a formação de campos desse tipo.
Desafio às suposições antigas
O coautor do estudo, Weidong Sun, ressaltou que Kunlun se destaca pelo fluxo elevado de hidrogênio, pela escala e pelo cenário geológico.
Para ele, a descoberta prova que a geração de hidrogênio pela serpentinização pode ocorrer longe de dorsais oceânicas, contrariando hipóteses aceitas por décadas.
Portanto, Kunlun abre novas perspectivas para pesquisas sobre a vida em condições extremas. Além disso, oferece um campo natural único para investigar as ligações entre processos químicos submarinos e a origem da vida.
O achado reforça como os oceanos ainda escondem mistérios fundamentais. Kunlun não é apenas um sistema hidrotermal gigante, mas também um laboratório vivo no fundo do mar. Cada detalhe, desde as crateras colossais até os organismos que nelas habitam, ajuda a recontar a história da vida em nosso planeta.