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Submarino nuclear volta aos planos da Coreia do Sul após avanço da Coreia do Norte

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 20/07/2025 às 12:31
Coreia do Sul, submarino
Foto: Reprodução
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Diante da crescente ameaça da Coreia do Norte e da disputa estratégica no Pacífico, a Coreia do Sul quer mais autonomia em sua defesa. O país volta a discutir submarinos com propulsão nuclear e pode até renegociar o tratado atômico com os Estados Unidos para viabilizar o projeto.

A Coreia do Sul pode estar perto de um avanço significativo em sua política de defesa. Em 18 de julho de 2025, Cho Hyun, indicado para o cargo de Ministro das Relações Exteriores, declarou que pretende renegociar o Acordo 123 com os Estados Unidos. O objetivo: permitir o desenvolvimento ou aquisição de submarinos com propulsão nuclear.

A proposta marca uma possível reviravolta na cooperação atômica entre os dois países e reacende a discussão sobre autonomia militar sul-coreana diante da crescente ameaça do Norte.

Submarino nuclear como estratégia de dissuasão

Atualmente, o Acordo EUA-Coreia do Sul 123, que rege a cooperação nuclear pacífica entre os países, proíbe o enriquecimento e reprocessamento de combustível para fins militares.

A intenção de Cho Hyun é justamente abrir espaço dentro desse tratado para viabilizar submarinos de propulsão nuclear, o que daria à Coreia do Sul maior capacidade de dissuasão e menos dependência da marinha americana.

Cho afirmou que, após revisão interna e coordenação com os EUA, o país poderá considerar a introdução desses submarinos como ferramenta de fortalecimento estratégico.

Além disso, o ministro destacou que a recente resolução de uma disputa bilateral sobre propriedade intelectual removeu um dos principais entraves à retomada da cooperação tecnológica de alto nível com os americanos. Com isso, torna-se viável desenvolver urânio de baixo e alto enriquecimento para pequenos reatores modulares.

Apoio parlamentar e cenário internacional

A ideia ganhou força com o apoio de parlamentares sul-coreanos. Kim Gunn citou relatos de que a Coreia do Norte está tentando obter submarinos nucleares da Rússia e acredita-se que já esteja desenvolvendo os seus. Para ele, submarinos de propulsão nuclear são a única forma de manter o equilíbrio estratégico na região.

Yu Yong-weon, do Partido do Poder Popular, defendeu que a Coreia do Sul negocie concessões com os EUA em troca da flexibilização do acordo. Cho Hyun concordou, afirmando que seria possível convencer Washington de que as atividades permaneceriam estritamente civis.

Com a disputa resolvida, o país poderia seguir adiante no desenvolvimento de combustível para pequenos reatores e buscar capacidade doméstica para enriquecer urânio até 20%, dentro dos limites permitidos pela versão revisada do Acordo 123.

Limites do Acordo 123 e posição dos EUA

A versão de 2015 do Acordo EUA-Coreia do Sul 123 proíbe o enriquecimento de urânio acima de 20% e o uso de material de origem americana para fins militares, incluindo propulsão naval.

Qualquer mudança exigiria autorização formal do poder executivo americano e, possivelmente, aprovação do Congresso, conforme determina a Lei de Energia Atômica dos Estados Unidos.

Autoridades americanas, como o Secretário de Defesa Lloyd Austin, já sinalizaram que a cooperação com a Coreia do Sul nessa área seria difícil. O principal motivo seria o compromisso com o pacto AUKUS, que envolve o fornecimento de submarinos nucleares para a Austrália em parceria com o Reino Unido.

Além disso, os Estados Unidos mantêm reservas por causa do histórico da Coreia do Sul em relação à pesquisa nuclear. Um experimento secreto de enriquecimento revelado em 2004 ainda gera desconfiança sobre uma possível expansão militar dessa tecnologia.

A ameaça da Coreia do Norte acelera debates

O avanço norte-coreano no setor nuclear intensificou os debates na Coreia do Sul. Há indícios de que o país vizinho esteja prestes a concluir seu primeiro submarino balístico com propulsão nuclear. A embarcação, observada durante visita de Kim Jong Un a um estaleiro, tem cerca de 100 metros de comprimento e 12 metros de diâmetro.

Essas dimensões sugerem que ela pode ser equipada com mísseis Pukguksong-6, comparáveis ao sistema Trident dos EUA. Especialistas acreditam que a Rússia pode ter ajudado a Coreia do Norte com tecnologia de reator e sonar, embora o projeto em si ainda seja considerado rudimentar.

Mesmo assim, o progresso do Norte elevou o tom das discussões no Sul. A propulsão nuclear é vista por muitos analistas como peça-chave para a dissuasão futura do país, sobretudo em um cenário de instabilidade regional crescente.

Experiência anterior e cancelamento do Projeto 362

A Coreia do Sul já tentou, no passado, desenvolver um submarino nuclear. Em junho de 2003, o governo do presidente Roh Moo-hyun iniciou o chamado Projeto 362. O plano era construir três submarinos de ataque baseados na classe francesa Barracuda, com reatores BANDI-60 de estilo russo.

Esses reatores seriam abastecidos com urânio enriquecido entre 21% e 45%. A iniciativa contou com apoio da Marinha, do Instituto Coreano de Pesquisa de Energia Atômica e da Administração do Programa de Aquisição de Defesa. Até 2004, o projeto básico do reator já havia sido concluído.

Porém, o plano foi interrompido após o vazamento das informações e o início de uma revisão pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

Outras razões para o cancelamento foram disputas internas no setor de defesa, escassez de recursos e priorização de outros programas, como os contratorpedeiros Aegis.

Mesmo descontinuado, o Projeto 362 mostrou que a Coreia do Sul tem capacidade técnica para construir um reator naval e integrá-lo a uma plataforma submarina. Especialistas acreditam que o projeto pode ser retomado, caso haja condições políticas e diplomáticas adequadas.

Perfil de Cho Hyun e nomeação recente

Cho Hyun tem uma longa carreira diplomática. Atuou como representante permanente adjunto na ONU entre 2006 e 2008. Também foi embaixador na Áustria e representante em diversas organizações internacionais em Viena entre 2011 e 2014. Depois, serviu como embaixador na Índia de 2015 a 2017.

Em 2017, foi nomeado segundo vice-ministro e depois primeiro vice-ministro das Relações Exteriores, função que exerceu até 2019. De 2019 a 2022, ocupou o cargo de representante permanente da Coreia do Sul nas Nações Unidas.

Recentemente, em 23 de junho de 2025, o presidente Lee Jae-myung o indicou para chefiar o Ministério das Relações Exteriores, integrando o novo gabinete com outros dez indicados.

Com a resolução do impasse de propriedade intelectual e a crescente pressão estratégica no Leste Asiático, a Coreia do Sul parece determinada a reavaliar sua posição nuclear.

A possível renegociação do Acordo 123 com os EUA pode se tornar o primeiro passo concreto para reativar ambições antigas — agora, com apoio político e justificativa de segurança nacional mais fortes do que nunca.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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