Montadora ítalo-francesa, dona de Fiat, Jeep e Peugeot, aposta em expansão industrial nos Estados Unidos para contornar tarifas de importação e recuperar espaço no mercado global
A Stellantis vai investir US$ 10 bilhões nos Estados Unidos para fortalecer sua produção local e reduzir o impacto do tarifaço imposto pelo governo de Donald Trump, que ameaça a competitividade de veículos fabricados no México e na Europa. O movimento marca uma mudança estratégica da montadora ítalo-francesa, que busca aumentar a lucratividade em um de seus principais mercados e recuperar o desempenho de marcas icônicas como Jeep, Dodge e Chrysler.
Segundo fontes ligadas à companhia, o plano inclui reabertura de fábricas, contratações e novos modelos que serão produzidos nos estados de Illinois e Michigan, com foco em veículos de médio porte e picapes Ram. A iniciativa também reflete a pressão política e comercial para que grandes montadoras invistam dentro do território americano, em meio à crescente tensão comercial entre EUA, China e México.
Uma estratégia bilionária para contornar o tarifaço americano
O anúncio da Stellantis ocorre em um contexto de recalibragem global de investimentos e de pressão direta do governo Trump, que pretende impor tarifas de até 25% sobre veículos importados.
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O plano de US$ 10 bilhões, que será aplicado ao longo de vários anos, deve ser anunciado oficialmente após as tratativas com o governo e com o sindicato United Auto Workers (UAW).
Parte desse investimento também busca cumprir promessas políticas feitas durante encontros entre John Elkann, presidente do conselho da montadora, e Donald Trump, que exigiu um aumento da produção doméstica.
Uma das medidas previstas é a reabertura da fábrica de Belvidere (Illinois), onde cerca de 1.500 trabalhadores devem ser recontratados para produzir uma nova picape de porte médio.
Reestruturação global sob nova liderança
Desde maio, a Stellantis está sob o comando de Antonio Filosa, executivo ítalo-brasileiro e ex-líder da Fiat Chrysler na América Latina.
Seu desafio é reorganizar os investimentos da empresa, após anos de foco na Europa e no México.
A gestão anterior, chefiada por Carlos Tavares, havia priorizado a transferência de parte da engenharia e da produção para regiões de menor custo, decisão que acabou reduzindo a presença da empresa nos Estados Unidos.
Filosa vem conduzindo uma revisão profunda dos planos de produção e das marcas do grupo.
Ele já cancelou investimentos na Europa e iniciou a avaliação de unidades menos lucrativas, como o negócio de carros compartilhados Free2move.
Além disso, contratou a consultoria McKinsey para definir o futuro das marcas Maserati e Alfa Romeo, pressionadas pela queda nas vendas e pela concorrência crescente de fabricantes chineses.
Jeep no centro da retomada e foco em rentabilidade
A Jeep será o pilar da nova fase da Stellantis. A marca, que já foi sinônimo de sucesso nos EUA, perdeu participação de mercado nos últimos anos.
Com o novo aporte, a montadora pretende lançar modelos híbridos e elétricos adaptados ao gosto americano, além de reforçar a produção de picapes Ram para atender à demanda interna.
Segundo fontes próximas à empresa, parte dos recursos poderá ser direcionada também para Dodge e Chrysler, duas marcas históricas que a Stellantis tenta revitalizar com foco no mercado norte-americano.
“O CEO está liderando uma revisão detalhada de todos os investimentos futuros”, afirmou um porta-voz da empresa, sem dar mais detalhes.
Reação na Europa e risco de tensões trabalhistas
A decisão de priorizar o mercado americano gerou apreensão entre sindicatos europeus, especialmente na Itália e na França, onde a Stellantis enfrenta excesso de capacidade produtiva e baixa demanda por carros como o Fiat Panda e o Alfa Romeo Tonale.
A empresa já suspendeu temporariamente a produção em oito fábricas europeias, o que intensificou as críticas de líderes sindicais e autoridades locais.
Filosa deve se reunir com representantes trabalhistas ainda este mês, em meio a protestos e cobranças por garantias de manutenção de empregos.
“A Europa teme perder relevância industrial dentro do grupo, enquanto os EUA se tornam o novo eixo estratégico”, avaliam analistas do setor automotivo.
Contexto geopolítico e o novo jogo das montadoras
A aposta bilionária da Stellantis segue uma tendência observada em várias multinacionais que tentam se adaptar às políticas protecionistas de Trump.
Empresas como Hyundai e grandes farmacêuticas europeias também anunciaram aumentos de investimento nos EUA, buscando preservar acesso ao mercado americano e reduzir custos de importação.
Ao mesmo tempo, a concorrência chinesa segue pressionando a indústria ocidental, com marcas como BYD e Chery ampliando sua presença global com veículos elétricos de menor custo.
Nesse cenário, o investimento da Stellantis é visto como uma estratégia de sobrevivência e reposicionamento geopolítico, capaz de redefinir o equilíbrio entre EUA, Europa e Ásia na indústria automotiva.
O investimento de US$ 10 bilhões da Stellantis nos Estados Unidos representa mais do que uma expansão industrial: é um movimento político, econômico e simbólico para manter relevância no maior mercado automotivo do mundo.
Ao tentar driblar o tarifaço de Trump e retomar sua produção local, a montadora aposta em uma reconciliação com o governo americano e com o próprio consumidor dos EUA.
Você acha que essa decisão vai fortalecer a Stellantis nos Estados Unidos ou enfraquecer a produção na Europa? O investimento bilionário é uma jogada estratégica ou uma resposta forçada à pressão política? Deixe sua opinião nos comentários — queremos ouvir quem acompanha de perto o setor automotivo.