Uma startup da Califórnia pode estar mudando as regras da indústria elétrica ao eliminar totalmente as terras raras de seus motores elétricos. Com uma proposta simples, barata e escalável, a empresa aposta em ímãs de ferro e um design em forma de disco para reduzir custos e a dependência da China.
A dependência mundial de terras raras sempre foi um problema estratégico para a indústria. Mas uma startup da Califórnia pode estar mudando esse cenário com uma proposta ousada e funcional: motores elétricos sem terras raras, mais baratos e escaláveis.
Foco em motores livres de terras raras
A Conifer Motors, com sede na Califórnia, desenvolveu uma tecnologia inovadora que elimina completamente a necessidade de elementos como neodímio, disprósio e térbio — minerais amplamente utilizados em motores elétricos, mas controlados quase que exclusivamente pela China.
A proposta da startup é clara: substituir as terras raras por ímãs de ferrite de ferro, um material abundante e barato.
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Com isso, os motores se tornam menos dependentes de cadeias de suprimento internacionais e muito mais fáceis de fabricar localmente.
Design em formato de disco e fluxo axial
O segredo da Conifer está na adoção de um projeto em fluxo axial. Ao contrário dos motores radiais — que são os mais comuns — o motor de fluxo axial tem um formato de disco. Isso permite que o fluxo magnético se mova ao longo do eixo, o que gera mais torque em menos espaço.
Por muito tempo, esse modelo foi considerado inviável. Havia problemas com aquecimento, montagem complexa e falta de precisão.
Mas os avanços recentes em gerenciamento térmico, materiais compósitos e usinagem de precisão tornaram o projeto viável.
A Conifer aproveitou essa oportunidade para desenvolver motores que funcionam com ímãs de ferrite, mesmo sendo menos potentes.
Para compensar, a empresa adotou um design inteligente, posicionando mais massa magnética longe do eixo e aproveitando o chamado “efeito volante”. Isso garante um desempenho competitivo em várias aplicações.
Aplicações práticas para veículos leves e equipamentos
A proposta da Conifer não mira o mercado de carros elétricos premium, como os da Tesla ou Rivian. Em vez disso, o foco está em setores onde o desempenho extremo não é prioridade, mas sim o custo, a simplicidade e a produção local.
Os motores da Conifer variam de 0,75 a 18,65 quilowatts. Isso os torna ideais para equipamentos como ventiladores industriais, ferramentas elétricas, bombas, compressores e veículos leves — scooters, carrinhos de entrega e até quadriciclos elétricos.
Além disso, o design permite que os motores sejam integrados diretamente às rodas, eliminando eixos, diferenciais e outros componentes mecânicos. Isso reduz peso, consumo de energia e os custos de manutenção.
Produção local e técnica de montagem inovadora
Outro diferencial da Conifer está no processo de fabricação. Em vez da enrolação tradicional dos motores — que pode ser manual ou exigir máquinas complexas — a empresa adotou um modelo inspirado na montagem de baterias.
Eles utilizam enrolamentos planos, empilhados, que são facilmente automatizados. Essa abordagem permite uma redução de até 90% nos custos de enrolamento e uma linha de montagem flexível. A mesma linha pode produzir motores de tamanhos diferentes sem precisar ser reconfigurada.
Essa praticidade representa menos desperdício de material, menor consumo de energia na produção e maior resiliência industrial. Em termos práticos, significa que uma fábrica pode ser instalada em qualquer lugar com acesso a aço e tecnologia básica.
Limitações que não comprometem o objetivo
Apesar das vantagens, os motores da Conifer também têm desvantagens. Os ímãs de ferrite, por exemplo, não alcançam a mesma potência dos ímãs de terras raras. Por isso, esses motores não são indicados para carros de alto desempenho.
Outro ponto é o uso de motores nas rodas. Isso adiciona massa não suspensa aos veículos, o que pode afetar a qualidade da condução em terrenos irregulares. Mesmo assim, em contextos urbanos ou em aplicações industriais, isso não é um problema significativo.
O importante para a Conifer é oferecer uma solução que seja prática, funcional e escalável, sem depender de materiais caros ou difíceis de obter.
Impacto direto na descarbonização e reindustrialização
A tecnologia da Conifer pode trazer mudanças relevantes em setores específicos. Com motores mais acessíveis, é possível acelerar a descarbonização de equipamentos industriais e veículos leves.
Empresas de entrega urbana, por exemplo, podem eletrificar suas frotas sem depender de componentes importados ou caros. Em vez disso, podem adotar uma solução de baixo custo e produção local.
Além disso, a abordagem da Conifer favorece a reindustrialização. Como a fabricação não depende de matérias-primas estratégicas, novas fábricas podem ser instaladas em diferentes regiões, com autonomia e baixo custo.
Caminho aberto para novas possibilidades
A proposta da Conifer não pretende resolver todos os problemas da indústria elétrica. Mas ela abre espaço para soluções práticas, escaláveis e realistas.
Entre os pontos fortes da tecnologia:
- Redução da dependência da China no fornecimento de terras raras.
- Menor custo de produção e manutenção.
- Design simples e eficiente.
- Possibilidade de eletrificação em áreas até hoje não atendidas.
- Flexibilidade para instalação de fábricas locais com menor investimento.
Última informação relevante
A Conifer mostra que é possível inovar com materiais simples e design inteligente. Ao tirar as terras raras da equação, a empresa desafia a lógica tradicional da indústria e oferece um caminho alternativo para a transição energética.
Seja em um ventilador industrial ou em uma scooter de entrega, esses motores mostram que boas ideias não precisam de materiais raros — apenas de uma abordagem criativa e bem executada.