Jovem nigeriano cria startup que transforma lixo plástico em energia solar e leva eletricidade a 10 mil refugiados. Invenção premiada revoluciona o acesso à luz na África.
Em um continente onde mais de 600 milhões de pessoas ainda vivem sem acesso confiável à eletricidade, um jovem nigeriano decidiu transformar um dos maiores problemas ambientais da África — o acúmulo de lixo plástico — em uma solução energética inovadora. Stanley Anigbogu, de apenas 25 anos, é o criador do projeto LightEd, uma startup social que converte resíduos plásticos em sistemas solares modulares, levando luz, segurança e dignidade para milhares de famílias em comunidades vulneráveis e campos de refugiados.
A ideia, nascida em 2020 em sua cidade natal, Onitsha, começou com um desafio pessoal: encontrar uma forma de dar utilidade a toneladas de garrafas e embalagens que se acumulavam nas ruas, sem destino. “Eu cresci vendo crianças estudando à luz de velas e famílias cozinhando no escuro. Era impossível aceitar que tanto plástico estivesse sendo desperdiçado enquanto pessoas viviam sem energia”, disse Stanley em entrevista ao portal Sun-Connect News, em reportagem publicada em março de 2025.
Transformando resíduos em eletricidade limpa
O sistema criado por Anigbogu é engenhoso e sustentável. Ele recolhe plásticos de descarte, principalmente garrafas PET e embalagens de alimentos, e os transforma em estruturas modulares que servem de suporte para painéis solares reciclados. O resultado é uma estação compacta de energia solar capaz de alimentar lâmpadas, ventiladores e pequenos aparelhos elétricos por até 12 horas contínuas.
-
EDP e McDonald’s fecham parceria para geração de energia solar
-
Energia solar em alerta: desencontro de informações na ANEEL sobre cortes na geração distribuída preocupa agentes e chega ao Congresso Nacional
-
Nissan apresenta carro elétrico movido a energia solar que promete rodar até 3 mil km por ano sem recarga elétrica
-
Empresa capta R$ 450 milhões em CRI para financiar 25 mil projetos de geração distribuída de energia solar no Brasil e impulsionar transição energética
Além da engenharia sustentável, o diferencial do projeto está em sua mobilidade e custo reduzido. As miniestações podem ser transportadas facilmente e montadas sem a necessidade de infraestrutura elétrica prévia, tornando-as ideais para comunidades isoladas e campos de deslocados internos. Hoje, o sistema da LightEd fornece energia para mais de 10 mil pessoas em áreas rurais da Nigéria, Camarões e Chade, segundo relatório publicado pela própria startup e confirmado pela Commonwealth Foundation.
O impacto social e o reconhecimento internacional
O impacto humanitário do projeto foi tamanho que, em abril de 2025, Stanley Anigbogu foi nomeado “Commonwealth Young Person of the Year”, prêmio concedido a jovens líderes que promovem transformações sustentáveis em países membros da Commonwealth. Ele também recebeu reconhecimento da Fundação Obama para Inovação Social e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Durante a cerimônia de premiação, Anigbogu destacou que o objetivo de sua empresa vai além de fornecer energia — trata-se de devolver autonomia às pessoas. “Quando uma comunidade tem luz, ela ganha segurança, educação e esperança. A eletricidade é a base de toda transformação social”, afirmou.
A LightEd também criou um programa de capacitação chamado “Recycle to Empower”, que ensina jovens e mulheres a coletar, limpar e processar plásticos para fabricação de novos módulos solares. Com isso, o projeto gera emprego e renda local, ao mesmo tempo em que reduz o volume de resíduos que poluem rios e aterros.
Tecnologia africana com propósito global
Os números da LightEd impressionam: desde 2021, a startup já reciclou mais de 250 toneladas de plástico e instalou mais de 2.000 unidades solares em comunidades sem rede elétrica. O modelo de negócio é híbrido — metade social, metade comercial — permitindo que parte da produção seja vendida a pequenas empresas e a outra parte seja doada para projetos humanitários.
Em 2024, a empresa firmou parceria com a Universidade de Lagos e o Massachusetts Institute of Technology (MIT) para aprimorar o design das células solares e aumentar a eficiência energética em até 35%. O objetivo, segundo o próprio Stanley, é criar uma rede continental de microestações solares que abasteça áreas remotas e ajude a construir a independência energética africana.
“O futuro da África está nas mãos dos que enxergam oportunidade no caos. O plástico é um problema global, mas aqui ele virou parte da solução”, declarou o inventor em palestra no Africa Tech Festival 2025, em Nairóbi.
Da escassez à inovação
Anigbogu representa uma nova geração de empreendedores africanos que criam tecnologia não a partir da abundância, mas da necessidade. Sem apoio governamental e com equipamentos improvisados, ele montou seu primeiro protótipo com baterias reaproveitadas, LEDs descartados e cabos de sucata eletrônica. Hoje, o mesmo jovem que um dia precisou estudar à luz de uma lamparina solar caseira lidera uma das iniciativas ambientais e sociais mais admiradas do continente.
A história de Stanley é a prova de que inovação e esperança podem nascer da escassez. Seu trabalho redefine o conceito de sustentabilidade, mostrando que a verdadeira revolução energética africana talvez não venha das grandes hidrelétricas ou refinarias, mas das mãos de um jovem que decidiu transformar lixo em luz.