Pesquisas recentes reforçam o potencial de minerais críticos no estado. Em Palmeirópolis, os projetos Palma (polimetálico) e Bluebush (terras raras) caminham com investimentos previstos de R$ 255 milhões, em um cenário mundial ainda dominado pela China.
O Tocantins entrou no radar da mineração de minerais críticos e elementos de terras raras (ETR), insumos essenciais para carros elétricos, turbinas eólicas e eletrônicos. Estudos atualizados e frentes de pesquisa apontam uma janela de oportunidade para o estado, especialmente na região de Palmeirópolis, pequena cidade com 7.119 habitantes em 2024, segundo o IBGE, onde avançam dois eixos: o Projeto Palma (zinco, cobre, chumbo, prata e ouro) e o Projeto Bluebush (ETR, argilas iônicas).
O pano de fundo é favorável ao Brasil: o país figura entre os líderes globais em reservas de terras raras, com 21 milhões de toneladas, atrás apenas da China, segundo o USGS 2025. Mesmo assim, a cadeia de processamento ainda é altamente concentrada na China, que responde por algo próximo de 85 a 90% dessa etapa.
No nível local, a Ameto confirma o acompanhamento das pesquisas e destaca a relevância dos minerais críticos para a transição energética. Para o diretor de Geologia e Mineração, Otton Nunes, o estado possui potencial geológico promissor para lítio, níquel, cobre, cobalto, grafita e ETR.
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Por que o Tocantins virou peça-chave em minerais críticos e terras raras
A corrida por cadeias seguras de abastecimento acelerou com a eletrificação da economia global. Documentos do USGS e análises de centros de pesquisa mostram que, embora a China tenha reduzido sua fatia de produção de minas nos últimos anos, conserva a hegemonia no refino e na separação de ETR, etapa decisiva para gerar óxidos e ímãs permanentes. Isso mantém os preços e os fluxos globais sob influência chinesa.
No Brasil, a virada começou a se materializar com a entrada em produção comercial da Serra Verde em Goiás em 2024, a primeira operação em escala de argilas iônicas fora da Ásia, com meta de pelo menos 5 mil t/ano de óxidos na Fase I.
O movimento prova a viabilidade do país na cadeia de ETR e fortalece projetos emergentes em áreas vizinhas do Centro-Norte, como o sul do Tocantins.
Palmeirópolis em foco: Projeto Palma (polimetálico) e Bluebush (ETR)
Em Palmeirópolis, o Projeto Palma foi estruturado a partir de ativos ofertados via PPI e contempla seis processos minerários em uma área de cerca de 6.050 hectares. O contrato previu investimentos superiores a R$ 255 milhões e metas de pesquisa para reavaliar recursos de Zn-Cu-Pb-Ag-Au, confirmando avanços em relação às investigações históricas do Serviço Geológico do Brasil (SGB).
Em 2024, relatório entregue ao SGB reavaliou o depósito, indicando 9,5 milhões de toneladas in situ com teores médios de 0,5% Cu, 2,1% Zn, 0,3% Pb, 11 g/t de prata e 0,02 g/t de ouro, caracterizando corpo de pequeno porte, porém com novos alvos exploratórios identificados para expansão. A desenvolvedora reporta, ainda, 25 mil metros de sondagem recentes na região.
No mesmo município, o Projeto Bluebush vem testando argilas iônicas de terras raras com resultados encorajadores em ETR totais e presença de elementos magnéticos como NdPr, além de frações de Dy e Tb, estratégicos para ímãs de alta performance. Atualizações técnicas da companhia destacam interseções com teores significativos e confirmam a natureza iônica do minério, semelhante ao modelo que sustenta a indústria chinesa.
Fontes locais reforçam que o conjunto Palma–Bluebush opera com direito de pesquisa vigente e investimentos programados, consolidando Palmeirópolis como um polo de exploração mineral no sul do Tocantins, com apoio técnico contínuo do SGB e da Ameto.
Parcerias, tecnologia e responsabilidade: o que vem a seguir
O governo estadual sinaliza cooperação técnica com o SGB para levantamentos geofísicos de maior resolução, utilizando magnetometria, gamaespectrometria e gravimetria, inclusive com uso de drones e malhas mais adensadas, a fim de refinar alvos e atrair investimentos. Esse tipo de dado acelera a descoberta e reduz incertezas exploratórias.
A Ameto afirma que seguirá ampliando o conhecimento geológico do estado em linha com o Plano Nacional de Mineração, destacando a necessidade de boas práticas ambientais e sociais. Em paralelo, o avanço de pedidos e licenças para terras raras no país reavivou debates sobre territórios sensíveis e consulta a comunidades, tema que também integra o radar do Tocantins e exige governança robusta para evitar conflitos e assegurar benefícios locais.
No cenário internacional, a China reforçou recentemente regras e controles sobre mineração, processamento e exportações de ETR, elevando a incerteza e, por consequência, o valor estratégico de novos distritos produtores fora da Ásia. Para o Tocantins, isso abre espaço de comercialização e parcerias industriais, desde que projetos avancem com licenciamento, infraestrutura e cadeia de valor conectada.
O que isso significa para a economia do Tocantins
Se bem conduzidos, Palma e Bluebush podem inserir o Tocantins na rota de ETR e minerais críticos, alavancando empregos, royalties e fornecedores locais. O desafio será transformar potencial geológico em produção competitiva e garantir que mais etapas da cadeia ocorram no Brasil, reduzindo a dependência de processamento externo e a volatilidade do mercado internacional.
Para investidores e políticas públicas, a mensagem é clara: a governança de sustentabilidade e conteúdo local será decisiva para capturar valor de longo prazo. Já para a sociedade tocantinense, participação e transparência serão fundamentais para endereçar impactos ambientais e distribuição de benefícios.
No seu ponto de vista, o Tocantins deve priorizar acelerar a produção e exportar o concentrado de terras raras, mesmo que o refino ocorra fora do país, ou segurar o ritmo até estruturar uma cadeia local de processamento que concentre mais valor no estado? Deixe sua opinião nos comentários.