Argentina zerou impostos sobre exportações de soja até 31 de outubro, barateando o grão e ameaçando a competitividade do Brasil na China, derrubando preços em Chicago e pressionando produtores
A decisão do governo argentino de eliminar temporariamente os impostos sobre exportações de grãos e derivados já começa a repercutir no mercado internacional.
A medida, anunciada nesta segunda-feira (22) e válida até 31 de outubro, deve reduzir significativamente os custos da soja argentina, ameaçando a competitividade brasileira nas vendas para a China.
Segundo a consultoria Markestrat, a mudança altera o equilíbrio de forças no comércio global. Nos últimos meses, a soja do Brasil vinha ganhando espaço no mercado chinês, em parte devido à guerra comercial entre Washington e Pequim.
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Entre junho de 2025 e a segunda semana de setembro, foram comprados 567 carregamentos brasileiros no modelo CFR, número próximo ao do ano passado (569). No mesmo período, o Brasil embarcou 455 carregamentos, 25,7% a mais do que em 2024, enquanto a Argentina elevou de 39 para 112 carregamentos, salto de 187%.
A nova política fortalece ainda mais a posição argentina, especialmente porque a China ainda precisa adquirir cerca de 13 milhões de toneladas de soja entre novembro de 2025 e janeiro de 2026. A Argentina, com estoque de 20 milhões de toneladas da safra passada, deve aproveitar o momento para avançar.
“Com esse cenário, o produtor argentino venderá bastante soja dentro do mês de outubro, colocando ainda mais farelo e óleo no mercado”, afirma José Carlos de Lima, sócio da Markestrat Group.
Impacto econômico e pressão política
De acordo com Lima, embora a soja brasileira ofereça melhor remuneração, a argentina está hoje cerca de 60 centavos de dólar por bushel mais barata.
Ele explica que a medida atende a uma necessidade interna: “Trata-se de um cenário em que o governo Milei se sentiu pressionado por seus opositores, em função da redução das reservas em dólar, tendo essa medida como objetivo trazer cerca de USD 7 bilhões em novas reservas”.
A iniciativa, portanto, não é apenas comercial, mas também política e econômica. Ao abrir mão da arrecadação temporária das chamadas retenciones, o governo busca atrair divisas em um momento delicado para as contas externas do país.
Reação imediata nos preços internacionais
Os reflexos foram quase instantâneos. Perto do fechamento do pregão desta segunda-feira, os principais contratos futuros em Chicago registraram queda generalizada.
A soja para novembro recuou 1,50%, cotada a US$ 10,09 por bushel. O milho para dezembro caiu 0,68%, a US$ 4,20 por bushel, enquanto o trigo perdeu 1,99%, fechando a US$ 5,10 por bushel.
Entre os derivados, o farelo de soja para dezembro caiu 1,36%, cotado a US$ 2,80 por tonelada curta, e o óleo de soja recuou 1,79%, para 4,97 centavos de dólar por libra-peso.
O especialista da Markestrat resume: “Esse cenário é muito negativo para os prêmios brasileiros de safra velha e para os futuros de soja, farelo e milho em Chicago”.