Gigante africana avança com ferrovia, porto e produção de alto teor prevista para 2025, colocando a Guiné no mapa da mineração mundial
Localizada na Guiné, a megamina de Simandou promete iniciar sua produção em 2025 e já é considerada o maior depósito inexplorado de minério de ferro do mundo, com pelo menos 3 bilhões de toneladas. O projeto, avaliado em US$ 23 bilhões, reúne infraestrutura ferroviária de 600 km e um porto exclusivo, que permitirão o transporte direto do minério para as siderúrgicas chinesas.
Por esse motivo, o empreendimento tem potencial para reconfigurar o equilíbrio global entre Vale, BHP e Rio Tinto, alterando o eixo de poder do setor mineral.
Origem e trajetória do megaprojeto
A descoberta do depósito remonta à década de 1950, quando a Guiné ainda era colônia francesa. Já em abril de 1998, o geólogo Sidiki Koné, trabalhando para a Rio Tinto, confirmou o enorme potencial do local.
No entanto, instabilidade política, escândalos de corrupção e mudanças de controle societário atrasaram a exploração por décadas.
Em 2008, o então presidente Lansana Conté retirou parte da concessão da Rio Tinto e transferiu os direitos à BSGR, do bilionário Beny Steinmetz, que vendeu metade à Vale por US$ 2,5 bilhões.
Poucos anos depois, em meio a acusações de corrupção, o governo de Alpha Condé revogou os contratos em 2014, buscando retomar o controle do recurso estratégico.
Assim, Simandou entrou em um longo período de indefinição até a chegada de novos investidores.
Parceria estratégica e domínio chinês
O cenário mudou em 2019, quando o consórcio WCS, formado por companhias chinesas e de Cingapura, obteve os direitos de exploração.
Em julho de 2022, a Rio Tinto se uniu ao grupo, criando uma joint venture com participação de 15% do governo da Guiné.
O país é liderado pelo general Mamadi Doumbouya, que impulsionou o projeto como prioridade nacional.
Assim, a Guiné tornou-se coproprietária do maior projeto mineral da África.
Hoje, a Rio Tinto mantém apenas 25% do controle, enquanto empresas chinesas, como a Chinalco, Baowu e a estatal China Mineral Resources Group (CMRG), detêm a maior parte da operação.
Essas companhias também concentram o poder de compra do minério.
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Impactos econômicos e pressão no mercado global
Com a expansão de Simandou, o mercado global de minério de ferro entra em uma nova fase de competição.
Segundo Tom Price, chefe de commodities da Panmure Liberum, a China alcançou um nível inédito de poder de precificação no comércio marítimo.
Assim, as previsões apontam que o preço da tonelada pode cair para US$ 85 até 2027, impulsionado pela crescente oferta.
O projeto, apelidado de “Assassino de Pilbara”, ameaça diretamente as minas australianas, reduzindo de maneira significativa a dependência chinesa da Austrália e fortalecendo, portanto, a autonomia de Pequim.
Além disso, a estatal CMRG centraliza as compras das siderúrgicas chinesas, tornando toda a cadeia de suprimentos mais eficiente e estratégica.
Com isso, as gigantes Vale, BHP e Rio Tinto enfrentam um cenário de adaptação inevitável diante da ascensão africana.
Desafios ambientais e transformação nacional
Apesar do entusiasmo internacional, Simandou traz desafios ambientais e sociais relevantes.
O projeto afeta mais de 450 aldeias e corta áreas de grande biodiversidade.
A região abriga o maior habitat remanescente do chimpanzé da África Ocidental, espécie ameaçada de extinção.
Para mitigar os impactos, o governo contratou a KPMG e a Rothschild & Co..
Essas instituições devem gerir as receitas do projeto e buscar a primeira classificação de crédito soberano da Guiné.
De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB do país pode crescer mais de 25% até o início da próxima década.
Além disso, o governo lançou o plano Simandou 2040, que pretende diversificar a economia e reduzir a dependência da mineração.
Com isso, a Guiné busca transformar o minério em desenvolvimento sustentável e duradouro.
O futuro da mineração mundial passa por Simandou
Com teor de ferro acima de 65%, infraestrutura moderna e apoio chinês, Simandou é hoje o maior projeto de mineração da África.
Sua entrada no mercado deve redefinir o preço global do minério, alterando também relações geopolíticas e econômicas.
Mesmo com riscos ambientais, o projeto simboliza um marco histórico para o continente africano.



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