Brasil vive escassez sem precedentes no setor de tecnologia: falta de programadores e especialistas em IA leva empresas a importar talentos da Índia e do Leste Europeu.
O Brasil enfrenta uma crise silenciosa no setor de tecnologia da informação. A digitalização acelerada de empresas, o avanço da inteligência artificial e a explosão do e-commerce provocaram uma demanda tão grande por profissionais de TI que o país simplesmente não tem gente suficiente para atender o mercado. De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), o déficit de profissionais pode ultrapassar 530 mil até o final de 2025, o maior já registrado na história do setor.
Com a falta de mão de obra qualificada e o aumento dos salários internos, companhias nacionais estão buscando uma saída inesperada: importar talentos estrangeiros, principalmente da Índia, Ucrânia e Polônia, países que formam milhares de desenvolvedores por ano e oferecem custos até 40% mais baixos.
Demanda supera a formação no setor de TI
Relatório recente da Brasscom aponta que o Brasil forma cerca de 56 mil profissionais de tecnologia por ano, mas o mercado precisa de 159 mil novos especialistas anualmente para suprir a expansão do setor.
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A lacuna entre oferta e demanda vem crescendo desde 2020, impulsionada pela digitalização pós-pandemia, pela explosão do home office e pela integração de IA generativa e automação em empresas de todos os segmentos.
De startups a gigantes como Itaú, Magazine Luiza, Ambev Tech, Embraer e Petrobras, todas enfrentam a mesma dificuldade: encontrar desenvolvedores de software, analistas de dados, engenheiros de nuvem e especialistas em cibersegurança.
“Hoje o profissional de tecnologia tem o poder de escolher para quem quer trabalhar — e, na maioria dos casos, escolhe empresas estrangeiras que pagam em dólar”, explica Sergio Paulo Gallindo, presidente da Brasscom.
Com a alta do dólar e a globalização do trabalho remoto, multinacionais têm recrutado brasileiros para atuar de casa para empresas na Europa e nos Estados Unidos, agravando o esvaziamento de talentos no mercado nacional.
Salários disparam e guerra por talentos se intensifica
A escassez transformou o mercado de TI em um verdadeiro leilão de talentos. Um cientista de dados júnior, que ganhava R$ 6 mil há três anos, pode hoje ultrapassar R$ 12 mil em uma empresa de médio porte. Engenheiros de software seniores chegam a ganhar R$ 25 mil mensais, sem contar bônus e trabalho remoto integral.
Startups menores e empresas regionais simplesmente não conseguem competir com os salários oferecidos por multinacionais e companhias de tecnologia financeira. O resultado é um cenário de concentração de talentos, no qual poucas empresas absorvem a maior parte dos profissionais disponíveis.
De acordo com o Indeed Brasil, o número de vagas abertas em tecnologia cresceu 38% em 2024, mas o tempo médio para preenchimento passou de 30 para 78 dias, um recorde histórico.
Índia e Leste Europeu tornam-se novas fontes de talentos
Com a escassez nacional, empresas brasileiras começaram a importar conhecimento. Plataformas de recrutamento remoto como Turing, Deel e Andela registraram um aumento de 180% nas contratações internacionais por empresas da América Latina, com destaque para profissionais vindos da Índia, Ucrânia e Polônia.
Esses países oferecem mão de obra altamente qualificada, com formação técnica sólida e experiência em linguagens de ponta como Python, Rust, Go, Java e C++, além de especialização em IA, blockchain e segurança de dados.
Em São Paulo e Florianópolis, polos de inovação vêm contratando engenheiros indianos e poloneses em tempo integral, em regime remoto. Segundo a Brasscom, mais de 8 mil estrangeiros já atuam no Brasil em funções de TI, número que deve dobrar até 2026.
Cibersegurança e IA: os maiores gargalos
Entre todas as áreas da tecnologia, duas se destacam pela escassez mais crítica: cibersegurança e inteligência artificial.
O aumento de ataques cibernéticos e fraudes digitais fez crescer a demanda por especialistas em segurança da informação em mais de 350% nos últimos quatro anos, de acordo com levantamento da consultoria Gartner.
Já a inteligência artificial — especialmente os modelos de aprendizado profundo e automação industrial — exige profissionais com formação matemática e estatística avançada, um perfil ainda raro no país.
“O problema é que estamos formando generalistas, enquanto o mercado precisa de especialistas”, explica o pesquisador Luiz Gonzaga Bertelli, da FGV-SP.
A lacuna é tão grande que o governo federal estuda criar um programa nacional de formação em IA e cibersegurança, nos moldes do Pronatec, voltado à capacitação de técnicos e analistas de nível médio.
O futuro da tecnologia e a urgência da formação
A projeção da Brasscom é de que o setor de tecnologia represente 10% do PIB brasileiro até 2030, impulsionado pela automação, digitalização de serviços e integração de IA generativa em todas as cadeias produtivas. Mas esse crescimento pode ser travado pela falta de gente.
Especialistas afirmam que o Brasil precisa investir R$ 8 bilhões anuais em capacitação técnica para suprir o déficit até o fim da década. Iniciativas como o Programa Talentos do Futuro, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, e o Tech for Good, da Microsoft, tentam reduzir o abismo entre ensino e mercado.
Entretanto, o desafio é urgente. Sem profissionais, o país corre o risco de ficar tecnologicamente dependente de nações que hoje exportam conhecimento — como Índia, China e Estados Unidos.
O apagão digital brasileiro é o novo “apagão elétrico” da economia moderna. Só que, desta vez, o que falta não é energia, mas gente capaz de programar o futuro.


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