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Setor da construção civil reage à escassez de jovens com plano de carreira inédito: salários chegam a R$ 20 mil mensais e funções ganham novos nomes técnicos

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 07/09/2025 às 17:08
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Setor tradicional aposta em plano de carreira nacional e nova nomenclatura de cargos para atrair jovens profissionais, oferecendo salários acima da média e novas oportunidades técnicas no mercado da construção civil.

A construção civil, responsável atualmente por empregar cerca de 2,9 milhões de trabalhadores com carteira assinada em todo o Brasil, enfrenta um dos maiores desafios de sua história: a falta de jovens interessados nas funções de entrada, tradicionalmente ocupadas por aprendizes e ajudantes.

Este cenário, que já afeta cronogramas e a qualidade de entrega das obras, levou empresários, sindicatos e instituições de ensino técnico a estruturarem um plano de carreira inédito para atrair e reter novos talentos.

Segundo levantamento do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, os jovens representam cerca de metade da força de trabalho do setor.

Entretanto, nos últimos anos, houve uma queda acentuada na procura por vagas de entrada.

“Temos hoje uma crise muito grande. Os entrantes, aprendizes e ajudantes, estão em falta. Eles respondem por 50% da nossa força de trabalho, e não estão mais vindo”, relata David Fratel, coordenador do Grupo de Trabalho de Recursos Humanos do Sinduscon-SP.

A situação é tão crítica que empresas já precisam adiar etapas de execução e revisar cronogramas para lidar com a escassez de profissionais, comprometendo prazos e até a qualidade final das construções.

Segundo Fratel, o impacto já é sentido em diversas regiões do país.

Aulas técnicas e treinamentos profissionalizantes do Senai buscam qualificar jovens aprendizes e preparar mão de obra para as novas demandas do mercado da construção civil.
Aulas técnicas e treinamentos profissionalizantes do Senai buscam qualificar jovens aprendizes e preparar mão de obra para as novas demandas do mercado da construção civil.

Fatores que afastam os jovens da construção civil

Especialistas apontam múltiplas razões para a queda no interesse dos jovens pela construção civil.

Entre elas, destaca-se a percepção negativa associada ao trabalho braçal, o desgaste físico e a falta de perspectiva de crescimento profissional.

Além disso, setores como tecnologia, varejo e aplicativos oferecem ambientes considerados mais atrativos e menos exaustivos.

A ausência de referências claras de ascensão dificulta ainda mais a atração de novos profissionais.

Muitos jovens não conseguem visualizar uma trajetória promissora dentro do setor.

Conforme destaca Fratel, “o jovem não enxerga futuro na profissão, embora o setor ofereça salários acima da média em comparação com o comércio e os serviços”.

Salários atrativos e oportunidades reais no setor da construção civil

Apesar dos desafios, a construção civil oferece remunerações competitivas.

Dados atualizados indicam que o salário inicial varia de R$ 2.500 a R$ 6.000 mensais, dependendo da função e da região.

Profissionais experientes, como pedreiros, podem alcançar rendimentos entre R$ 13 mil e R$ 15 mil, enquanto mestres de obras chegam a ultrapassar R$ 20 mil por mês, sem a necessidade de diploma universitário.

Ainda assim, o problema central não está nos salários.

“O problema não é a remuneração, mas a falta de um modelo claro de progressão. Ele não percebe que vai prosperar na carreira, porque ninguém mostrou como se faz isso”, ressalta o coordenador do Sinduscon-SP.

Setor da construção civil aposta em plano de carreira inédito, novos cargos e salários de até R$ 20 mil para atrair jovens profissionais.
Setor da construção civil aposta em plano de carreira inédito, novos cargos e salários de até R$ 20 mil para atrair jovens profissionais.

Plano de carreira nacional inédito para valorizar profissionais

Com o objetivo de reverter a tendência de queda e profissionalizar o ambiente, o Sinduscon-SP, o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sintracon-SP) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) estão desenvolvendo um plano de carreira nacional.

A proposta é estabelecer uma trilha formativa para o trabalhador, detalhando etapas desde as funções de base até os cargos técnicos e de liderança, promovendo, assim, a valorização profissional.

Parte dessa estratégia passa pela modernização dos títulos dos cargos.

Expressões como “servente de pedreiro” estão sendo substituídas por nomenclaturas mais técnicas, como “auxiliar de construção”.

O tradicional termo “pedreiro” também tende a ser gradualmente abandonado em favor de funções especializadas, como “montador de drywall” ou “instalador de infraestrutura”.

De acordo com Antônio de Souza Ramalho, presidente do Sinduscon-SP, a intenção é combater o preconceito social associado a títulos antigos e valorizar o conhecimento técnico:

“Muitos jovens se sentem desmotivados por causa do estigma das profissões. Ao adotar nomes mais técnicos, buscamos mostrar que há especialização, tecnologia e progresso”.

Exemplos práticos e trajetórias na construção civil

A profissional Jéssica Mayra Barbosa dos Santos, de 32 anos, que atua como servente de obras em um grande empreendimento na zona sul de São Paulo, será uma das beneficiadas com a nova estrutura.

Ela passará a ser chamada de aprendiz, título que dará acesso a cursos e oportunidades de crescimento dentro do plano de carreira.

Segundo informações do Senai, o trabalhador poderá iniciar na base e, conforme adquirir experiência e formação, alcançar postos de maior responsabilidade, como líder de equipe, encarregado técnico e, futuramente, mestre de obras.

Cada etapa será acompanhada por cursos específicos, certificados reconhecidos nacionalmente e aumento gradual de salário.

Setor da construção civil aposta em plano de carreira inédito, novos cargos e salários de até R$ 20 mil para atrair jovens profissionais.
Setor da construção civil aposta em plano de carreira inédito, novos cargos e salários de até R$ 20 mil para atrair jovens profissionais.

Educação profissional como diferencial estratégico

O Senai, que já oferece cursos para dezenas de funções na construção civil, será responsável por adaptar o currículo às novas necessidades do setor.

A instituição também ampliará o número de vagas e modernizará os conteúdos, incluindo temas como sustentabilidade, automação e tecnologias digitais na construção.

Essas mudanças pretendem alinhar o setor da construção civil com as expectativas das novas gerações, que buscam não apenas bons salários, mas também propósito, estabilidade e possibilidade real de crescimento.

“Acreditamos que esse movimento pode reverter a fuga de talentos e garantir mão de obra qualificada para os próximos anos”, afirma Ramalho.

Desafios e futuro do setor da construção civil

A adoção do plano de carreira nacional será acompanhada por campanhas de valorização da profissão e diálogo com escolas técnicas para mostrar as oportunidades existentes.

Mesmo assim, especialistas alertam que a transformação da imagem do setor depende de um esforço conjunto de empresários, sindicatos e governos.

Enquanto isso, o mercado da construção civil permanece atento ao comportamento do mercado de trabalho, ciente de que a disputa por jovens é cada vez mais acirrada, não só com outras áreas industriais, mas também com setores em ascensão, como tecnologia e serviços digitais.

Diante desse cenário, fica a reflexão: a modernização dos cargos e a estruturação de um plano de carreira técnico serão suficientes para recuperar o interesse dos jovens e garantir o futuro da construção civil no Brasil?

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wantuillounco136@gmail.com
wantuillounco136@gmail.com
10/09/2025 20:22

Boa noite Senhores e estudiosos da construção civil tenho 72 anos e 55 anos trabalhando em obra o grande empasse da é salário na minha cidade o pedreiro não chega a 2 salários mínimo ajudante e procura agulha no palheiro o mesmo perderam a motivação.Sou professor do SENAI em Volta Redonda RJ.

Marcel Tatebe
Marcel Tatebe
09/09/2025 21:42

Se o CREA fiscalizasse e não deixasse cargos, como auxiliar de engenharia , sendo engenheiro, entre outras nomenclatura para que não pague o piso, o Crea tem uma tabela com valores base de salários, mas na real é bem abaixo, nem nos concursos de prefeituras não pagam, deveriam fiscalizar e exigir das empresas.

Frederico
Frederico
09/09/2025 21:11

Fico eu com meus 45 anos, 25 de profissão, e o mais difícil é ser bem remunerado.
Eu estudei, falo 3 idiomas diferentes, e mesmo assim a valorização do meu trabalho é semelhante ao do piso nacional. Estagiários de engenharia vem e vão das obras. E sinceramente, o que estão ensinando nas faculdades? Falando da dinâmica de uma obra eles se perdem e ficam tentando (diminuir custos), claro, estão pensando no lucro, não que estejam errados. Mas o custo alto do retrabalho gera perdas. Tratar o profissional que construiu o bem mais durável como analfabetos, e pagar salário de escravo, não irá melhorar a rapidez e nem a qualidade do produto. Boa sorte.

Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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