Setor tradicional aposta em plano de carreira nacional e nova nomenclatura de cargos para atrair jovens profissionais, oferecendo salários acima da média e novas oportunidades técnicas no mercado da construção civil.
A construção civil, responsável atualmente por empregar cerca de 2,9 milhões de trabalhadores com carteira assinada em todo o Brasil, enfrenta um dos maiores desafios de sua história: a falta de jovens interessados nas funções de entrada, tradicionalmente ocupadas por aprendizes e ajudantes.
Este cenário, que já afeta cronogramas e a qualidade de entrega das obras, levou empresários, sindicatos e instituições de ensino técnico a estruturarem um plano de carreira inédito para atrair e reter novos talentos.
Segundo levantamento do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), os jovens representam cerca de metade da força de trabalho do setor.
-
Weg aposta R$ 160 milhões no ES. O que está por trás desse investimento milionário?
-
Entrou em vigor nesse mês: Estado aprova salário mínimo regional até R$ 2.267, um dos maiores do Brasil
-
Férias antecipadas podem virar dor de cabeça se você ignorar essa regra da CLT
-
Governo do ES lança licitação para mega obra de R$ 228 milhões na Serra
Entretanto, nos últimos anos, houve uma queda acentuada na procura por vagas de entrada.
“Temos hoje uma crise muito grande. Os entrantes, aprendizes e ajudantes, estão em falta. Eles respondem por 50% da nossa força de trabalho, e não estão mais vindo”, relata David Fratel, coordenador do Grupo de Trabalho de Recursos Humanos do Sinduscon-SP.
A situação é tão crítica que empresas já precisam adiar etapas de execução e revisar cronogramas para lidar com a escassez de profissionais, comprometendo prazos e até a qualidade final das construções.
Segundo Fratel, o impacto já é sentido em diversas regiões do país.
Fatores que afastam os jovens da construção civil
Especialistas apontam múltiplas razões para a queda no interesse dos jovens pela construção civil.
Entre elas, destaca-se a percepção negativa associada ao trabalho braçal, o desgaste físico e a falta de perspectiva de crescimento profissional.
Além disso, setores como tecnologia, varejo e aplicativos oferecem ambientes considerados mais atrativos e menos exaustivos.
A ausência de referências claras de ascensão dificulta ainda mais a atração de novos profissionais.
Muitos jovens não conseguem visualizar uma trajetória promissora dentro do setor.
Conforme destaca Fratel, “o jovem não enxerga futuro na profissão, embora o setor ofereça salários acima da média em comparação com o comércio e os serviços”.
Salários atrativos e oportunidades reais no setor da construção civil
Apesar dos desafios, a construção civil oferece remunerações competitivas.
Dados atualizados indicam que o salário inicial varia de R$ 2.500 a R$ 6.000 mensais, dependendo da função e da região.
Profissionais experientes, como pedreiros, podem alcançar rendimentos entre R$ 13 mil e R$ 15 mil, enquanto mestres de obras chegam a ultrapassar R$ 20 mil por mês, sem a necessidade de diploma universitário.
Ainda assim, o problema central não está nos salários.
“O problema não é a remuneração, mas a falta de um modelo claro de progressão. Ele não percebe que vai prosperar na carreira, porque ninguém mostrou como se faz isso”, ressalta o coordenador do Sinduscon-SP.
Plano de carreira nacional inédito para valorizar profissionais
Com o objetivo de reverter a tendência de queda e profissionalizar o ambiente, o Sinduscon-SP, o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sintracon-SP) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) estão desenvolvendo um plano de carreira nacional.
A proposta é estabelecer uma trilha formativa para o trabalhador, detalhando etapas desde as funções de base até os cargos técnicos e de liderança, promovendo, assim, a valorização profissional.
Parte dessa estratégia passa pela modernização dos títulos dos cargos.
Expressões como “servente de pedreiro” estão sendo substituídas por nomenclaturas mais técnicas, como “auxiliar de construção”.
O tradicional termo “pedreiro” também tende a ser gradualmente abandonado em favor de funções especializadas, como “montador de drywall” ou “instalador de infraestrutura”.
De acordo com Antônio de Souza Ramalho, presidente do Sinduscon-SP, a intenção é combater o preconceito social associado a títulos antigos e valorizar o conhecimento técnico:
“Muitos jovens se sentem desmotivados por causa do estigma das profissões. Ao adotar nomes mais técnicos, buscamos mostrar que há especialização, tecnologia e progresso”.
Exemplos práticos e trajetórias na construção civil
A profissional Jéssica Mayra Barbosa dos Santos, de 32 anos, que atua como servente de obras em um grande empreendimento na zona sul de São Paulo, será uma das beneficiadas com a nova estrutura.
Ela passará a ser chamada de aprendiz, título que dará acesso a cursos e oportunidades de crescimento dentro do plano de carreira.
Segundo informações do Senai, o trabalhador poderá iniciar na base e, conforme adquirir experiência e formação, alcançar postos de maior responsabilidade, como líder de equipe, encarregado técnico e, futuramente, mestre de obras.
Cada etapa será acompanhada por cursos específicos, certificados reconhecidos nacionalmente e aumento gradual de salário.
Educação profissional como diferencial estratégico
O Senai, que já oferece cursos para dezenas de funções na construção civil, será responsável por adaptar o currículo às novas necessidades do setor.
A instituição também ampliará o número de vagas e modernizará os conteúdos, incluindo temas como sustentabilidade, automação e tecnologias digitais na construção.
Essas mudanças pretendem alinhar o setor da construção civil com as expectativas das novas gerações, que buscam não apenas bons salários, mas também propósito, estabilidade e possibilidade real de crescimento.
“Acreditamos que esse movimento pode reverter a fuga de talentos e garantir mão de obra qualificada para os próximos anos”, afirma Ramalho.
Desafios e futuro do setor da construção civil
A adoção do plano de carreira nacional será acompanhada por campanhas de valorização da profissão e diálogo com escolas técnicas para mostrar as oportunidades existentes.
Mesmo assim, especialistas alertam que a transformação da imagem do setor depende de um esforço conjunto de empresários, sindicatos e governos.
Enquanto isso, o mercado da construção civil permanece atento ao comportamento do mercado de trabalho, ciente de que a disputa por jovens é cada vez mais acirrada, não só com outras áreas industriais, mas também com setores em ascensão, como tecnologia e serviços digitais.
Diante desse cenário, fica a reflexão: a modernização dos cargos e a estruturação de um plano de carreira técnico serão suficientes para recuperar o interesse dos jovens e garantir o futuro da construção civil no Brasil?
Onde pagam.R$ 20.000 para Mestre de Obra, se pra Engenheiro oferem.6.000,00 deixem de MENTIREM
É insuficiente.
Não