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Setor da construção civil reage à escassez de jovens com plano de carreira inédito: salários chegam a R$ 20 mil e funções ganham novos nomes técnicos

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 01/08/2025 às 15:00
Setor da construção civil aposta em plano de carreira inédito, novos cargos e salários de até R$ 20 mil para atrair jovens profissionais.
Setor da construção civil aposta em plano de carreira inédito, novos cargos e salários de até R$ 20 mil para atrair jovens profissionais.
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Setor tradicional aposta em plano de carreira nacional e nova nomenclatura de cargos para atrair jovens profissionais, oferecendo salários acima da média e novas oportunidades técnicas no mercado da construção civil.

A construção civil, responsável atualmente por empregar cerca de 2,9 milhões de trabalhadores com carteira assinada em todo o Brasil, enfrenta um dos maiores desafios de sua história: a falta de jovens interessados nas funções de entrada, tradicionalmente ocupadas por aprendizes e ajudantes.

Este cenário, que já afeta cronogramas e a qualidade de entrega das obras, levou empresários, sindicatos e instituições de ensino técnico a estruturarem um plano de carreira inédito para atrair e reter novos talentos.

Segundo levantamento do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), os jovens representam cerca de metade da força de trabalho do setor.

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Entretanto, nos últimos anos, houve uma queda acentuada na procura por vagas de entrada.

“Temos hoje uma crise muito grande. Os entrantes, aprendizes e ajudantes, estão em falta. Eles respondem por 50% da nossa força de trabalho, e não estão mais vindo”, relata David Fratel, coordenador do Grupo de Trabalho de Recursos Humanos do Sinduscon-SP.

A situação é tão crítica que empresas já precisam adiar etapas de execução e revisar cronogramas para lidar com a escassez de profissionais, comprometendo prazos e até a qualidade final das construções.

Segundo Fratel, o impacto já é sentido em diversas regiões do país.

Fatores que afastam os jovens da construção civil

Especialistas apontam múltiplas razões para a queda no interesse dos jovens pela construção civil.

Entre elas, destaca-se a percepção negativa associada ao trabalho braçal, o desgaste físico e a falta de perspectiva de crescimento profissional.

Além disso, setores como tecnologia, varejo e aplicativos oferecem ambientes considerados mais atrativos e menos exaustivos.

A ausência de referências claras de ascensão dificulta ainda mais a atração de novos profissionais.

Muitos jovens não conseguem visualizar uma trajetória promissora dentro do setor.

Conforme destaca Fratel, “o jovem não enxerga futuro na profissão, embora o setor ofereça salários acima da média em comparação com o comércio e os serviços”.

Salários atrativos e oportunidades reais no setor da construção civil

Apesar dos desafios, a construção civil oferece remunerações competitivas.

Dados atualizados indicam que o salário inicial varia de R$ 2.500 a R$ 6.000 mensais, dependendo da função e da região.

Profissionais experientes, como pedreiros, podem alcançar rendimentos entre R$ 13 mil e R$ 15 mil, enquanto mestres de obras chegam a ultrapassar R$ 20 mil por mês, sem a necessidade de diploma universitário.

Ainda assim, o problema central não está nos salários.

“O problema não é a remuneração, mas a falta de um modelo claro de progressão. Ele não percebe que vai prosperar na carreira, porque ninguém mostrou como se faz isso”, ressalta o coordenador do Sinduscon-SP.

Plano de carreira nacional inédito para valorizar profissionais

Com o objetivo de reverter a tendência de queda e profissionalizar o ambiente, o Sinduscon-SP, o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sintracon-SP) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) estão desenvolvendo um plano de carreira nacional.

A proposta é estabelecer uma trilha formativa para o trabalhador, detalhando etapas desde as funções de base até os cargos técnicos e de liderança, promovendo, assim, a valorização profissional.

Parte dessa estratégia passa pela modernização dos títulos dos cargos.

Expressões como “servente de pedreiro” estão sendo substituídas por nomenclaturas mais técnicas, como “auxiliar de construção”.

O tradicional termo “pedreiro” também tende a ser gradualmente abandonado em favor de funções especializadas, como “montador de drywall” ou “instalador de infraestrutura”.

De acordo com Antônio de Souza Ramalho, presidente do Sinduscon-SP, a intenção é combater o preconceito social associado a títulos antigos e valorizar o conhecimento técnico:

“Muitos jovens se sentem desmotivados por causa do estigma das profissões. Ao adotar nomes mais técnicos, buscamos mostrar que há especialização, tecnologia e progresso”.

Exemplos práticos e trajetórias na construção civil

A profissional Jéssica Mayra Barbosa dos Santos, de 32 anos, que atua como servente de obras em um grande empreendimento na zona sul de São Paulo, será uma das beneficiadas com a nova estrutura.

Ela passará a ser chamada de aprendiz, título que dará acesso a cursos e oportunidades de crescimento dentro do plano de carreira.

Segundo informações do Senai, o trabalhador poderá iniciar na base e, conforme adquirir experiência e formação, alcançar postos de maior responsabilidade, como líder de equipe, encarregado técnico e, futuramente, mestre de obras.

Cada etapa será acompanhada por cursos específicos, certificados reconhecidos nacionalmente e aumento gradual de salário.

Educação profissional como diferencial estratégico

O Senai, que já oferece cursos para dezenas de funções na construção civil, será responsável por adaptar o currículo às novas necessidades do setor.

A instituição também ampliará o número de vagas e modernizará os conteúdos, incluindo temas como sustentabilidade, automação e tecnologias digitais na construção.

Essas mudanças pretendem alinhar o setor da construção civil com as expectativas das novas gerações, que buscam não apenas bons salários, mas também propósito, estabilidade e possibilidade real de crescimento.

“Acreditamos que esse movimento pode reverter a fuga de talentos e garantir mão de obra qualificada para os próximos anos”, afirma Ramalho.

Desafios e futuro do setor da construção civil

A adoção do plano de carreira nacional será acompanhada por campanhas de valorização da profissão e diálogo com escolas técnicas para mostrar as oportunidades existentes.

Mesmo assim, especialistas alertam que a transformação da imagem do setor depende de um esforço conjunto de empresários, sindicatos e governos.

Enquanto isso, o mercado da construção civil permanece atento ao comportamento do mercado de trabalho, ciente de que a disputa por jovens é cada vez mais acirrada, não só com outras áreas industriais, mas também com setores em ascensão, como tecnologia e serviços digitais.

Diante desse cenário, fica a reflexão: a modernização dos cargos e a estruturação de um plano de carreira técnico serão suficientes para recuperar o interesse dos jovens e garantir o futuro da construção civil no Brasil?

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Claudiomiro
Claudiomiro
01/08/2025 22:08

Onde pagam.R$ 20.000 para Mestre de Obra, se pra Engenheiro oferem.6.000,00 deixem de MENTIREM

José Correia do Nascimento (Zezito)
José Correia do Nascimento (Zezito)
01/08/2025 21:51

É insuficiente.

José Correia do Nascimento (Zezito)
José Correia do Nascimento (Zezito)
01/08/2025 21:50

Não

Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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