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Seria esse o erro mais evitável da história? A falha simples que custou R$ 692,1 milhões à NASA em uma missão para Marte

Publicado em 12/06/2025 às 21:15
NASA, Falha, Erro, Marte, Missão
Imagem: IA
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Um simples erro de unidade entre equipes da NASA e da Lockheed Martin fez a Mars Climate Orbiter se desintegrar ao chegar em Marte

Em setembro de 1999, a NASA perdeu uma sonda espacial avaliada em US$ 125 milhões (cerca de R$ 692,1 milhões atualmente) por causa de um erro simples e evitável. A Mars Climate Orbiter, lançada em dezembro de 1998 para estudar a atmosfera de Marte, foi destruída pouco antes de entrar em órbita devido a uma falha de conversão de unidades.

O problema surgiu porque duas equipes envolvidas no projeto usavam sistemas de medição diferentes — o sistema métrico e o sistema imperial — e não houve conversão correta entre eles.

A missão tinha objetivos ambiciosos: além de estudar o clima marciano, a sonda serviria como repetidora de sinal para outra missão, o Mars Polar Lander.

Desenvolvido em parceria entre o Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da NASA e a empresa Lockheed Martin, o orbitador pesava 638 kg e envolveu um investimento de milhões de dólares.

Mas, ao se aproximar de Marte, a espaçonave entrou na atmosfera em uma altitude muito baixa e foi destruída pelo calor do atrito.

Erro estava nos dados de propulsão

A causa do acidente foi identificada como um erro de comunicação técnica entre as equipes. O JPL trabalhava com o sistema métrico, padrão internacional na ciência, enquanto a Lockheed Martin forneceu dados no sistema imperial, comum nos Estados Unidos.

Os engenheiros da NASA presumiram que as informações estivessem em newtons, mas estavam em libras-força. A diferença, de aproximadamente 4,45 vezes, fez com que os cálculos de empuxo ficassem errados.

Esse descuido comprometeu toda a trajetória do orbitador. A sonda deveria entrar em órbita, mas foi puxada para dentro da atmosfera marciana e acabou desintegrada. Um detalhe técnico e aparentemente simples impediu o sucesso da missão.

História de unidades diferentes ao redor do mundo

Ao longo da história, civilizações criaram seus próprios sistemas de medição. Em tempos antigos, cada povo usava referências locais para medir distância, peso e tempo. A falta de comunicação entre regiões fez com que esses sistemas evoluíssem de forma isolada.

Com o crescimento do comércio e da ciência, surgiu a necessidade de padronização. Em 1795, durante a Revolução Francesa, foi criado o sistema métrico, com unidades como metro e quilograma.

Esses padrões foram guardados nos Arquivos da República, em Paris, e se tornaram base para o desenvolvimento científico moderno.

O matemático Carl Friedrich Gauss foi um dos primeiros a aplicar o sistema métrico em pesquisas. Mais tarde, James Clerk Maxwell e J.J. Thomson ajudaram a aperfeiçoá-lo, criando o sistema CGS (centímetro, grama e segundo).

Sistema Internacional e a resistência dos EUA

O sistema métrico evoluiu para o atual Sistema Internacional de Unidades (SI), adotado por quase todos os países. Em 1889, o metro e o quilograma foram oficializados como unidades padrão. Hoje, o SI possui sete unidades básicas, que incluem o segundo, o ampere, o kelvin, a candela e o mol.

Apesar disso, os Estados Unidos ainda resistem à mudança. No país, muitas áreas continuam utilizando o sistema imperial, com polegadas, pés, milhas e libras. O sistema métrico é considerado preferencial por lei desde 1975, mas seu uso nunca foi imposto.

Tentativas de transição aconteceram nos anos 1980, como velocímetros com escalas em milhas e quilômetros, mas não surtiram grande efeito. A cultura e a economia dificultaram a adoção plena do SI.

O impacto de um detalhe ignorado

O acidente da sonda Mars Climate Orbiter expôs os riscos dessa resistência. Após investigação, a NASA concluiu que o software da Lockheed Martin calculava o empuxo dos propulsores em libras-força, mas o sistema da NASA interpretava os valores em newtons. Isso levou a uma série de falhas nos comandos de navegação.

O relatório oficial apontou que a engenharia de sistemas falhou em identificar o erro a tempo. Além disso, a responsabilidade era dividida entre as duas instituições, o que agravou a situação. Ninguém checou a unidade utilizada no componente crítico antes do lançamento.

Erro de unidade já causou outros acidentes

Esse tipo de problema não é exclusivo do espaço. Em 1983, um avião da Air Canada ficou sem combustível durante o voo por um erro semelhante.

Durante a transição para o sistema métrico, a equipe de abastecimento calculou o combustível em libras, mas deveria ter usado quilogramas. Como resultado, o avião recebeu apenas metade do necessário.

Esse episódio, conhecido como “Gimli Glider”, mostrou como falhas simples de conversão podem colocar vidas em risco.

Confusões além da ciência

As diferenças entre os sistemas de medição também afetam o dia a dia. Um consumidor pode se confundir ao comprar produtos vendidos em libras nos EUA, ou até errar a dosagem de um medicamento. Isso pode causar prejuízos financeiros ou problemas de saúde.

Esses exemplos reforçam a importância da padronização. A unificação de unidades evita erros em negociações internacionais, contratos técnicos e projetos complexos. Em contextos como engenharia, medicina e aviação, cada detalhe conta.

Mudança lenta, mas necessária

Após o acidente com o orbitador, aumentou a pressão para que os EUA adotassem o sistema métrico em setores técnicos e científicos. Empresas globais já operam com o SI para facilitar exportações e parcerias internacionais.

A mudança é gradual. Mas cada erro de conversão mostra que é preciso avançar. O episódio de 1999 serve como lembrete de que, na ciência, a precisão não é luxo — é requisito básico.

O detalhe que custou milhões

O caso da Mars Climate Orbiter entrou para a história da exploração espacial como uma das falhas mais evitáveis. Tudo poderia ter sido resolvido com uma verificação simples das unidades usadas.

A perda da sonda mostrou que mesmo projetos de ponta dependem da atenção aos detalhes. E que, às vezes, um pequeno erro de conversão pode custar uma missão inteira.

Com informações de Olhar Digital.

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Romário Pereira de Carvalho

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