Sem jovens suficientes para sustentar o sistema, o governo espanhol quer mostrar que trabalhar depois dos 67 anos pode ser não apenas inevitável, mas também benéfico para manter a sustentabilidade da previdência
A Espanha enfrenta um dilema estrutural: 5,3 milhões de pessoas devem se aposentar na próxima década, mas apenas 1,8 milhão de jovens ingressará no mercado de trabalho. Esse descompasso gera enorme pressão sobre a previdência e sobre empresas que já relatam dificuldade em atrair novos talentos, segundo estudo da Fundação Adecco.
Nesse cenário, o governo e entidades ligadas à seguridade social defendem a chamada “aposentadoria ativa”, modelo que permite a quem atinge a idade mínima seguir trabalhando e, ao mesmo tempo, receber parte da pensão. A ideia é convencer a população de que a extensão da vida laboral pode ser positiva, tanto para o equilíbrio fiscal quanto para o bem-estar individual.
Aposentadoria ativa: como funciona na prática
O conceito de aposentadoria ativa entrou em vigor na Espanha em abril de 2025, por meio do Real Decreto-Lei 11/2024.
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A regra elimina a exigência de carreira completa de contribuições para conciliar pensão e trabalho.
Quanto mais tempo o trabalhador optar por permanecer ativo, maior será o percentual aplicado no benefício futuro.
A medida surgiu como resposta à elevação da expectativa de vida. Hoje, um espanhol que se aposenta aos 67 anos pode viver, em média, quase 20 anos a mais.
Essa longevidade, somada ao envelhecimento acelerado da população, pressiona os cofres públicos, tornando urgente a busca por alternativas.
A visão dos especialistas
Organizações como a Fedea (Fundação para Estudos Econômicos Aplicados) argumentam que os espanhóis têm capacidade latente de continuar trabalhando em idades avançadas sem comprometer a saúde.
Em comparação com os anos 1970, estima-se que homens poderiam estender sua carreira em até 8 anos e mulheres em até 6 anos.
Para especialistas, a chave é transformar a ideia de trabalhar após os 67 anos de ameaça em oportunidade.
Melhorias na saúde e no padrão de vida indicam que os atuais idosos não se comparam aos de gerações anteriores, e muitos estariam aptos a se manter no mercado com qualidade.
Tendência global: Espanha não está sozinha
A Espanha segue um movimento observado em países como Japão, Alemanha e China, onde o envelhecimento populacional força governos a rever a idade de aposentadoria.
No Japão, cada vez mais cidadãos continuam trabalhando após os 70 anos, muitas vezes não por escolha, mas por necessidade.
O caso espanhol, porém, busca um equilíbrio: oferecer a possibilidade de continuar ativo como incentivo e não apenas como imposição.
Isso inclui combinar benefícios previdenciários com remuneração extra, de forma a aliviar o sistema e manter a força de trabalho qualificada por mais tempo.
Trabalhar mais, viver melhor?
Um dos argumentos centrais do governo é que a saúde dos idosos vem melhorando tanto em indicadores objetivos, como expectativa de vida, quanto subjetivos, como autopercepção de bem-estar.
No entanto, essa melhora ainda não se refletiu em maior participação de pessoas acima dos 65 anos no mercado de trabalho.
Para economistas, prolongar a vida laboral pode trazer efeitos positivos não só na sustentabilidade da previdência, mas também na integração social e na qualidade de vida dos mais velhos, que permanecem ativos e produtivos.
O desafio é encontrar formas de flexibilizar as jornadas e adaptar as condições de trabalho às novas realidades da idade avançada.
A Espanha tenta mostrar que trabalhar após os 67 anos não é apenas uma necessidade fiscal, mas também um caminho para preservar o sistema previdenciário e valorizar a experiência dos mais velhos.
Mas a discussão levanta dilemas profundos sobre qualidade de vida, justiça social e direito ao descanso após décadas de contribuição.
E você, o que acha? Aposentadoria deve ser flexibilizada para permitir que as pessoas escolham se querem seguir trabalhando? Ou estender a vida laboral é apenas empurrar o problema para frente? Deixe sua opinião nos comentários — queremos ouvir sua visão sobre o futuro do trabalho e da aposentadoria.