Enquanto o Brasil enfrenta paralisia na sua agência espacial, startups e agências como a ESA já estão testando foguetes movidos a vapor d’água — uma revolução sustentável na corrida espacial que dispensa combustível fóssil e não polui.
Imagine um foguete subindo aos céus, sem emitir poluentes, sem explosões químicas, sem combustível fóssil. Parece ficção científica? Pois essa tecnologia já existe — e usa apenas um elemento abundante, acessível e limpo: água. Trata-se da propulsão a vapor d’água, uma alternativa inovadora e sustentável que está sendo testada por startups aeroespaciais e agências como a ESA (Agência Espacial Europeia). E embora o conceito seja simples, seus impactos podem ser profundos: reduzir custos, tornar o espaço mais acessível e diminuir a pegada ambiental da indústria aeroespacial.
Mas, enquanto o mundo testa foguetes ecológicos, o Brasil ainda engatinha. A Agência Espacial Brasileira (AEB), criada com ambições altíssimas, hoje sofre com paralisações, cortes orçamentários e poucos lançamentos relevantes.
Entenda como funciona um foguete movido a vapor
Diferente dos foguetes convencionais, que usam reações químicas violentas entre combustíveis líquidos ou sólidos, o foguete a vapor aquece água até se transformar em gás em alta pressão. Essa pressão é então liberada através de um bocal, criando o empuxo necessário para o foguete se mover.
-
Existe um tesouro de US$ 20 milhões por quilo escondido na Lua — e estamos prontos para extraí-lo
-
O “Ozempic brasileiro” chega às farmácias com um preço mais acessível. Veja mais sobre
-
Novo relógio atômico é tão exato que pode mudar a forma como o mundo conta o tempo
-
Carregar o celular na cama pode custar caro: risco de incêndio aumenta com lençóis, cobertores e colchões inflamáveis
O sistema pode parecer rudimentar, mas oferece vantagens únicas:
- Zero emissão de carbono
- Combustível barato e não inflamável
- Sistema simples e leve
- Ideal para pequenos satélites e voos suborbitais
É uma solução perfeita para microssatélites, sondas de curto alcance ou missões de teste.
Protótipos já testados por agências e startups
A ESA testou um protótipo de microfoguete a vapor em 2018, no projeto LUMIO, que simulava manobras de correção orbital em sondas lunares. A ideia era usar vapor gerado a partir de gelo colhido em asteroides ou na própria Lua — criando um sistema de propulsão “autossustentável” para o espaço profundo.
Já a startup norte-americana Momentus Space desenvolveu uma nave com propulsão baseada em vapor de água para reposicionamento de satélites em órbita baixa. Batizada de “Vigoride”, a nave recebeu autorização da NASA e vem sendo aprimorada para missões comerciais.
Outros nomes, como SteamJet Space Systems (Reino Unido) e Aqua Space Propulsion (Suécia), também investem em projetos semelhantes, voltados principalmente para missões sustentáveis de baixo custo.
No Brasil: Perdemos o foguete a vapor e a janela de lançamento
Enquanto o mundo busca tecnologias mais limpas para ir ao espaço, o Brasil segue estacionado no passado. A Agência Espacial Brasileira (AEB), criada em 1994 com a ambição de colocar o país no topo da corrida espacial, sofre com:
- Orçamento insuficiente
- Falta de continuidade nos projetos
- Baixa integração com o setor privado
- Pouquíssimos lançamentos nos últimos anos
Mesmo com a inauguração do Centro de Lançamento de Alcântara (MA), considerado um dos melhores pontos geográficos do mundo para lançamentos, o país ainda não desenvolveu nenhuma plataforma própria de foguete funcional nos últimos 10 anos.
O Brasil tem potencial — mas falta visão
Ironia ou não, o Brasil tem todas as condições naturais e industriais para liderar uma revolução com foguetes movidos a água:
- Abundância de recursos hídricos
- Know-how em energia renovável
- Centros de pesquisa como o INPE e o ITA
- Empresas privadas emergentes em tecnologia aeroespacial
Mas falta o que outros países já têm: iniciativa, incentivo e investimento em inovação de verdade.
Vapor d’água no espaço? Sim, e com lógica científica
Apesar de parecer simplório, o vapor d’água tem enorme potencial como forma de propulsão no vácuo do espaço. A ausência de resistência atmosférica permite que mesmo pequenas quantidades de empuxo gerem grandes deslocamentos ao longo do tempo — ideal para sondas, satélites pequenos e veículos que não precisam atingir grandes velocidades iniciais.
E mais: como a água pode ser coletada em asteroides, luas e até produzida a partir da reação de hidrogênio com oxigênio, ela pode ser usada em missões interplanetárias como combustível in situ — algo impossível com combustíveis tradicionais.
O futuro é limpo, silencioso — e movido a vapor?
A corrida por foguetes sustentáveis está longe de ser uma fantasia. Com o aumento do número de lançamentos, a pressão por reduzir custos e impactos ambientais cresce a cada dia. A explosão do mercado de microssatélites, o interesse em missões lunares e a multiplicação de startups aeroespaciais estão abrindo caminho para novas formas de propulsão — e a vapor é uma das mais promissoras.
Talvez não veremos uma SpaceX inteira movida a água, mas veremos:
- Satélites que se ajustam em órbita com vapor
- Sondas que exploram luas usando vapor extraído do gelo
- Pequenos foguetes que usam água como combustível seguro para testes em ambientes urbanos
Enquanto o mundo busca formas mais limpas de alcançar o céu, o Brasil continua de olhos no passado, engessado por burocracia e falta de ambição. A propulsão a vapor pode não ser a tecnologia que vai nos levar a Marte — mas certamente é a ponte mais promissora para democratizar o espaço com menos impacto ambiental.
E, com centros como o ITA, empresas emergentes e um dos melhores pontos de lançamento do planeta, o Brasil poderia ser protagonista.
Mas para isso, será preciso mais do que ideias — será preciso ação, ousadia e investimento real em ciência e tecnologia.