Plataforma InovaSenior busca engenheiros seniores para recolocação no mercado, aposta em inteligência artificial e prevê captação de R$ 15 milhões em cinco anos. O projeto começa com 200 profissionais e mira setores estratégicos da economia.
Ex-alunos da USP e do ITA lançam em 22 de agosto de 2025 o InovaSenior, plataforma que pretende reconectar engenheiros com 60 anos ou mais ao mercado de trabalho e ajudar a reduzir o déficit estimado de 75 mil profissionais no país.
A iniciativa estreia com um banco inicial de 200 engenheiros formados nas duas instituições e propõe usar inteligência artificial e princípios de governança ambiental, social e corporativa para aproximar experiência técnica de empresas, startups e instituições que buscam visão estratégica.
Como funciona a plataforma InovaSenior
O InovaSenior foi concebido para servir de elo entre oferta e demanda de mão de obra qualificada.
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O sistema digital fará o pareamento entre perfis de profissionais e necessidades de projetos, com curadoria voltada a contextos de inovação e de transformação digital.
Além de processos de seleção, a plataforma prevê atividades de atualização em tecnologias e metodologias de gestão para facilitar a reinserção produtiva de engenheiros seniores.
Coordenação e objetivos
À frente da coordenação está um grupo de ex-alunos que defende o reaproveitamento do capital intelectual acumulado.
“Seniores são hoje uma reserva de competência e qualificação técnica que nos possibilitará crescer enquanto enfrentamos o desafio de melhorar nossa educação para suprir as necessidades de nossas empresas e negócios”, afirmou Ricardo Pessoa, engenheiro eletricista de 65 anos e um dos coordenadores.
Experiência profissional aplicada à engenharia
A participação de profissionais com histórico amplo é vista como fator relevante em decisões de engenharia.
Para Roberto Thiell, engenheiro aeronáutico de 59 anos e colaborador na estruturação do InovaSenior, o acúmulo de vivência contribui para escolhas mais seguras e para evitar retrabalho.
Segundo ele, o histórico de erros e acertos funciona como guia para decisões em ambiente de pressão.
Na mesma linha, Juliana Ramalho, engenheira de produção formada pela USP em 2001 e empresária focada em talentos seniores, observa que a familiaridade com comunicação técnica e a capacidade de contextualizar o uso de IA podem agilizar diagnósticos e soluções.
Crescimento da população idosa no Brasil
O lançamento ocorre em um cenário de envelhecimento da população e de maior longevidade ativa.
Projeções do IBGE indicam que o Brasil poderá ter cerca de 75,3 milhões de pessoas com 60 anos ou mais em 2070, o que corresponderá a 37,8% da população.
Na leitura de Ricardo Pessoa, a transição demográfica abre espaço para novos formatos de atuação profissional.
“A gente tem o bônus da longevidade. Muita coisa está acontecendo e os 60 são os novos 40. Tem muita energia para essas pessoas darem no processo produtivo”, disse.
Déficit de engenheiros no Brasil
O déficit de 75 mil engenheiros citado por entidades do setor está relacionado a dificuldades de formação e de retenção de talentos.
Cursos de engenharia relatam evasão antes da diplomação, muitas vezes por migração para áreas com salários iniciais mais altos.
Professor de engenharia elétrica na USP, Dorel Ramos descreve o fenômeno: parte dos alunos deixa a graduação para trabalhar no mercado financeiro ou em setores que não exigem registro profissional nem contato direto com a prática da engenharia.
Reinserção produtiva e impacto social
Além de responder à demanda de mão de obra, o projeto busca reduzir efeitos sociais do envelhecimento. A aposentadoria formal, quando não acompanhada de novas atividades, pode levar ao isolamento.
“O que acontece com os caras que se aposentam aos 60, 65 anos? Ele vai gradativamente se tornando invisível e completamente alienado. A consequência disso é depressão e morte”, alertou Ricardo Pessoa, ao citar casos conhecidos de perda de vínculos após o fim da atividade profissional.
Financiamento e metas
O projeto será financiado por doações ao Fundo do Idoso, com possibilidade de dedução no Imposto de Renda por empresas e pessoas físicas.
A meta de captação é de R$ 15 milhões em cinco anos, valor destinado a custear a operação da plataforma, programas de capacitação e acompanhamento de projetos.
No plano inicial, os responsáveis estimam capacitar 200 engenheiros seniores nos três primeiros anos, desenvolver 10 projetos de inovação com impacto mensurável e engajar mais de 300 empresas parceiras em diferentes cadeias produtivas.
USP e ITA na liderança do projeto
A rede de ex-alunos das duas escolas participa da iniciativa.
Duperron Ribeiro, diretor da plataforma de ex-alunos da Escola Politécnica da USP (PoliAlumni), afirmou que o InovaSenior busca “transformar experiência em ativo estratégico para o país”. A associação de ex-alunos do ITA (AEITA) também apoia a ação.
Para Rafael Rosa, vice-presidente da entidade, trata-se de “um movimento necessário diante da escassez de engenheiros habilitados no Brasil e do potencial desperdiçado de milhares de profissionais experientes que ainda querem, podem e são capazes de contribuir”.
Conexão com empresas e startups
A aplicação prática deve ocorrer em frentes distintas. Em grandes companhias, a prioridade será reforçar times que conduzem projetos complexos e exigem conhecimento acumulado em segurança, confiabilidade e integração de sistemas.
Em startups, o foco será em governança, escalabilidade, regulação e transição da prova de conceito para a fase comercial.
A plataforma fará o acompanhamento do pareamento entre demandas e perfis, com indicadores de prazo, custo e qualidade para medir resultados. O uso de inteligência artificial na triagem de competências pretende agilizar o processo e reduzir vieses de seleção.
Desafios e próximos passos
Os organizadores do InovaSenior identificam obstáculos que precisam ser resolvidos para que a iniciativa ganhe escala.
Um dos pontos centrais é a adaptação de jornadas de trabalho para profissionais seniores, conciliando flexibilidade de horários com prazos de entrega em projetos.
Outro desafio é a atualização constante em novas tecnologias, que exige programas de capacitação permanentes para manter os engenheiros alinhados às demandas do setor.
Há ainda a questão de modelos contratuais: empresas precisam definir formatos que permitam a contratação temporária ou por projeto, garantindo segurança jurídica tanto para profissionais quanto para empregadores.
A mensuração do impacto também é considerada estratégica, com previsão de relatórios periódicos que mostrem a quantidade de recolocações efetivas, a participação em projetos de inovação e o retorno financeiro para as empresas parceiras.
Nos próximos meses, a plataforma pretende expandir a base de engenheiros cadastrados além dos 200 iniciais e testar os primeiros projetos-piloto em setores como energia, infraestrutura e tecnologia da informação.
O objetivo é avaliar o desempenho dos times formados, corrigir falhas operacionais e consolidar métricas que sirvam de referência para a continuidade do programa.
Com esses pontos em pauta, a discussão que surge é: quais setores da economia brasileira terão maior capacidade de absorver engenheiros seniores e transformar sua experiência em resultados concretos?