Quando se fala em consumo de energia, muitos pensam imediatamente nos enormes data centers da internet. Mas um estudo do MIT revelou que o verdadeiro vilão pode estar mais perto do que imaginamos: os aparelhos de ar-condicionado.
Quando se fala em consumo de energia, logo surgem imagens de grandes data centers, fábricas e carros elétricos. Mas há um vilão silencioso crescendo em todo o mundo: o ar-condicionado.
O assunto volta a ganhar relevância em meio às mudanças climáticas e à corrida tecnológica por soluções mais sustentáveis.
Enquanto muita atenção se volta aos data centers, símbolos do crescimento digital e dos desafios energéticos da era da informação, os sistemas de resfriamento comuns seguem sendo os verdadeiros vilões ocultos no consumo elétrico global.
-
Estudo surpreende: pavões podem emitir lasers através de suas penas — algo inédito no reino animal
-
Pacote de R$ 4,3 bilhões vai transformar rodovias do litoral com duplicações, marginais e 108 km de ciclovias
-
Segredo de 2.000 anos de exército milenar pode dobrar a vida útil da artilharia chinesa ao aumentar a proteção contra desgaste e falhas estruturais
-
Fim do chuveiro tradicional: modelo da Lorenzetti com 7.500W, ducha dupla e pressurizador embutido transforma o banho no inverno
Resfriar o planeta está esquentando o planeta
Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), menos de 10% do aumento da demanda energética previsto até 2030 virá de data centers. Já o uso crescente de ar-condicionado e outras formas de resfriamento será responsável por uma fatia muito maior dessa conta.
Esse cenário cria um ciclo problemático: o calor aumenta, as pessoas ligam mais aparelhos de resfriamento, o consumo de energia sobe, mais combustíveis fósseis são queimados para dar conta da demanda e o planeta esquenta ainda mais.
É um ciclo vicioso difícil de quebrar, e os dados não deixam dúvidas. Em 2024, o número global de “graus-dia de resfriamento” foi 6% maior que em 2023 e 20% acima da média das duas primeiras décadas deste século.
A métrica, que parece estranha à primeira vista, é na verdade uma forma precisa de medir a necessidade energética para manter ambientes frescos.
O que são os graus-dia de resfriamento?
A lógica é simples: imagine que a temperatura base de conforto é 21 ºC. Se num dia a média for 26 ºC, somam-se cinco graus-dia.
Repita isso durante 30 dias e você terá 150 graus-dia de resfriamento naquele mês. É um jeito de medir, em escala, o quanto de resfriamento adicional foi necessário ao longo do tempo.
E o mundo inteiro está ficando mais quente. Regiões como China, Índia e Estados Unidos têm sentido o impacto com mais força. A consequência disso é direta: mais aparelhos ligados, mais energia sendo exigida das redes.
Em 2022, os aparelhos de ar-condicionado foram responsáveis por 7% de todo o consumo mundial de eletricidade. E esse número tende a crescer.
Uma explosão de aparelhos em poucos anos
Em 2016, havia menos de 2 bilhões de unidades de ar-condicionado no mundo. Até 2050, esse número pode chegar a quase 6 bilhões, segundo a própria AIE.
Por um lado, isso mostra avanço no acesso ao conforto térmico, que costuma vir com o crescimento da renda familiar. Mas, por outro, esse salto representa um enorme desafio para os sistemas de energia.
E o problema não está apenas na quantidade de energia consumida, mas no timing.
Todo mundo liga o ar-condicionado na mesma hora
O ar-condicionado costuma ser ligado nos mesmos períodos do dia, justamente quando a temperatura atinge seus picos. Esse comportamento coletivo pressiona a rede elétrica de maneira intensa.
Em algumas regiões dos Estados Unidos, por exemplo, os aparelhos de ar-condicionado representam mais de 70% do consumo de energia residencial nos momentos de maior estresse da rede. Ou seja, além de consumir muito, o consumo ocorre em horários críticos.
Essa coincidência no uso pode levar a apagões, aumento nas tarifas e necessidade de acionamento de usinas mais poluentes.
Há soluções surgindo, mas o caminho é longo
A boa notícia é que novas tecnologias estão começando a aparecer. Algumas empresas já trabalham com sistemas de resfriamento que possuem componentes de armazenamento de energia.
Eles funcionam assim: carregam durante períodos de baixa demanda e acionam o resfriamento nos horários de pico, sem puxar energia da rede naquele momento.
Outra alternativa em desenvolvimento são os sistemas dessecantes. Em vez de apenas resfriar o ar, eles retiram a umidade do ambiente de forma mais eficiente.
Isso ajuda a reduzir a sensação de calor sem depender tanto do consumo energético tradicional.
Além disso, avanços em componentes fundamentais também estão acontecendo. Um exemplo são os trocadores de calor — peças que movimentam o calor de um lugar para outro, essenciais em aparelhos de ar-condicionado, geladeiras, bombas de calor e até sistemas de resfriamento de data centers.
Esses componentes vinham sendo produzidos basicamente da mesma forma há quase um século. Agora, uma nova abordagem com impressão 3D permitiu desenvolver trocadores mais eficientes.
Um modelo recém-criado consegue superar alguns dos designs tradicionais e competir com os melhores disponíveis.
Inovação é importante, mas políticas públicas também
Apesar dos avanços, ainda estamos longe de resolver o problema. As novas tecnologias prometem eficiência e redução de impacto, mas são apenas parte da equação. Para que surtam efeito real, será preciso investimento, regulamentação adequada e, principalmente, acesso.
As inovações precisam chegar também às regiões mais vulneráveis, onde o calor é extremo e a rede elétrica não aguenta tanta pressão. Sem isso, o ciclo continua: mais calor, mais consumo, mais emissões, mais calor.
O desafio de equilibrar conforto térmico e sustentabilidade está só começando.
A demanda global por resfriamento continuará crescendo nas próximas décadas. E as soluções precisam acompanhar esse ritmo — ou o planeta vai continuar pagando a conta.
Com informações de MIT.