Crise no agro: secas, incêndios e El Niño causam perdas de R$ 250 bi. Ameaça à Amazônia e rios voadores intensifica vulnerabilidade do setor.
A agropecuária nacional enfrenta um cenário de perdas financeiras colossais devido à crise hídrica e ao aumento dos incêndios. Entre 2013 e 2022, o Brasil registrou um montante de R$ 250 bilhões em prejuízos.
Somente a produção agrícola perdeu cerca de R$ 186 bilhões por conta da escassez de água. Além disso, o setor da pecuária contabilizou uma perda de R$ 64 bilhões no mesmo período.
Contudo, é fundamental ressaltar que novos eventos de secas foram notificados de 2023 a 2024, sinalizando que os prejuízos reais podem ser ainda mais substanciais.
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Portanto, a vulnerabilidade do agro à alteração nos regimes de chuva exige atenção imediata.
A força devastadora dos incêndios e a influência do El Niño
O ano de 2024 marcou um aumento alarmante na área queimada, totalizando mais de 30,8 milhões de hectares, um crescimento de 79% em comparação com o ano anterior.
Esse avanço dos incêndios tem relação direta com a ocorrência do fenômeno El Niño.
O estudo aponta que a perda específica decorrente dos incêndios alcançou R$ 14,7 bilhões. Desse total, R$ 8 bilhões foram registrados na pecuária e pastagem.
Por sua vez, as áreas de cana-de-açúcar perderam R$ 2,7 bilhões.
O impacto foi severo em vários biomas, mas a Amazônia foi a mais afetada, impulsionada pelas chuvas abaixo do nível histórico, conforme o relatório.
“A Amazônia foi o bioma mais afetado pelos incêndios, o que foi impulsionado pelas chuvas abaixo do nível histórico”, afirma o documento.
No Cerrado, outro bioma crucial para o agro brasileiro, foram queimados 9,7 milhões de hectares. Isso representa um aumento de 47% em relação à média dos seis anos anteriores.
Baixa irrigação
Um dos fatores que torna o agro brasileiro tão vulnerável aos eventos extremos, como as secas, é a baixa adoção de sistemas de irrigação.
Baseado em dados de 2022, o levantamento mostra que apenas 13% da área agrícola do país tinha cobertura de irrigação.
Assim, a maior parte da agricultura depende inteiramente da chuva.
“Com isso, a agricultura brasileira se torna vulnerável a alterações nos regimes de chuva. De fato, perdas significativas têm sido observadas em razão da ocorrência de seca“, pontua o estudo.
A falta de investimentos em irrigação, aliada à redução do volume de chuvas, agrava as perdas do agro durante os períodos de estiagem, um ciclo que se intensifica com a crise climática e o El Niño.
O papel da Amazônia e a crise dos “rios voadores”
A Amazônia desempenha um papel climático crucial, sendo a origem dos chamados “rios voadores”.
Eles são correntes de vento que transportam a umidade gerada pela floresta por meio da evapotranspiração, levando chuva a outras regiões do continente, incluindo importantes áreas do agro no Centro-Oeste e Sudeste.
No entanto, o estudo alerta que a perda de vegetação, impulsionada pelo desmatamento, compromete essa função vital. A floresta perde a capacidade de recarregar a atmosfera com vapor d’água, reduzindo o volume de chuvas no caminho dos ventos.
“A interseção abrangente entre a trajetória dos rios voadores e as regiões da agropecuária evidencia os potenciais impactos do desmatamento sobre o setor”, alerta o relatório.
Em outras palavras, o dano causado à Amazônia se reverte diretamente em mais secas e mais incêndios nas regiões produtoras.
Os pesquisadores do CPI/PUC-Rio e do projeto Amazônia 2030 enfatizam que essa redução de chuvas, somada à baixa cobertura de irrigação, é um motor importante para as perdas registradas pelo agro em períodos de estiagem.
Portanto, a proteção da Amazônia é uma estratégia econômica essencial para a sustentabilidade do setor.