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Se BYD, Toyota e outras montam carros no Brasil, por que os preços não caem? Entenda os 8 fatores que encarecem tudo

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 22/10/2025 às 15:04
Mesmo com novas fábricas e incentivos, carros no Brasil seguem caros. Entenda os 8 fatores que mantêm os preços altos nas montadoras.
Mesmo com novas fábricas e incentivos, carros no Brasil seguem caros. Entenda os 8 fatores que mantêm os preços altos nas montadoras.
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Mesmo com novas fábricas e incentivos, os carros produzidos no Brasil continuam com preços elevados. Especialistas explicam como impostos, câmbio, logística e custos estruturais mantêm os valores altos mesmo com produção local.

Modelos de marcas como BYD, Toyota e GWM já são fabricados ou montados no país, mas a queda de preços não acompanha o ritmo de inaugurações de fábricas.

Segundo reportagem publicada pelo portal UOL, a formação do preço do carro nacional continua pressionada por impostos, câmbio, logística, juros, custos trabalhistas, exigências regulatórias, conteúdo importado e pela própria estratégia de margens das montadoras.

Mesmo com programas recentes de incentivo, como o Carro Sustentável, o impacto para o consumidor tem sido pontual e de curto prazo, conforme apontam analistas do setor.

Impostos: carga tributária alta impacta diretamente no preço

A carga tributária é um dos principais componentes do preço final dos veículos no Brasil.

De acordo com apuração do UOL, a participação de tributos como IPI, PIS/Cofins e ICMS varia de pouco mais de 24% a mais de 32% do valor final, dependendo da motorização e da tecnologia adotada.

O IPI básico para carros a gasolina de 1.0 a 2.0, por exemplo, gira em torno de 27,3%, percentual superior ao observado em mercados como Itália, Reino Unido, Alemanha, Japão e Estados Unidos, onde as alíquotas são significativamente menores.

Especialistas explicam que essa diferença ajuda a entender por que a fabricação local não se reflete, necessariamente, em preços menores.

Custos trabalhistas e encargos elevam o valor final

Mesmo com novas fábricas e incentivos, carros no Brasil seguem caros. Entenda os 8 fatores que mantêm os preços altos nas montadoras.
Mesmo com novas fábricas e incentivos, carros no Brasil seguem caros. Entenda os 8 fatores que mantêm os preços altos nas montadoras.

Os custos trabalhistas são outro fator relevante para o setor.

O consultor automotivo Ricardo Bacellar explica que o custo tributário sobre a folha salarial pode chegar a 80%, valor considerado alto por representantes da indústria.

Em geral, estimativas empresariais indicam encargos entre 60% e 70% sobre o salário, conforme o regime tributário e o porte da empresa.

Por empregar grande número de pessoas direta e indiretamente, a indústria automobilística acaba concentrando boa parte dessa carga, o que afeta o custo de produção.

Logística e transporte: dimensões do país encarecem o setor

O transporte de insumos e veículos dentro do país é outro desafio.

O Brasil depende majoritariamente de estradas para escoar a produção — cerca de 60% das cargas passam por rodovias, segundo dados de consultorias do setor.

Essa predominância, somada ao preço dos combustíveis e à infraestrutura limitada em várias regiões, encarece o transporte de peças e automóveis.

O portal UOL também destacou que, em comparação com países que utilizam ferrovias e hidrovias em larga escala, a matriz logística brasileira eleva custos e reduz a eficiência da cadeia produtiva.

Câmbio e insumos importados influenciam o custo dos carros

Mesmo os carros fabricados no país dependem de componentes e matérias-primas cotados em dólar.

Minérios, borracha e componentes eletrônicos são exemplos de insumos importados ou dolarizados.

O consultor Milad Kalume Neto, diretor-executivo da K.LUME Consultoria Automobilística, observa que “mesmo os carros fabricados nacionalmente têm alta incidência de conteúdo importado, além de utilizarem commodities normalmente indexadas ao dólar”.

Assim, a oscilação cambial é repassada à cadeia de produção e, em última instância, ao consumidor final.

Regras de segurança e tecnologia aumentam os custos

Os requisitos de segurança e eficiência energética impostos pela legislação brasileira também elevam os custos de desenvolvimento.

Segundo especialistas do setor, o cumprimento dessas normas exige investimentos constantes em engenharia, atualização de plataformas e tecnologias de assistência à condução.

O consultor Milad Kalume Neto resume que “o desenvolvimento dos veículos exige investimento e não existe filantropia neste mercado. Alguém paga a conta e, neste caso, é o consumidor”.

Em 2017, o preço médio de um carro de passeio era de cerca de R$ 72 mil; atualmente, ultrapassa R$ 150 mil, mesmo considerando a inflação acumulada no período.

Montagem local ou produção completa: diferença nas margens

Mesmo com novas fábricas e incentivos, carros no Brasil seguem caros. Entenda os 8 fatores que mantêm os preços altos nas montadoras.
Mesmo com novas fábricas e incentivos, carros no Brasil seguem caros. Entenda os 8 fatores que mantêm os preços altos nas montadoras.

A discussão sobre o que significa “produzir” um carro no Brasil ganhou força com a chegada de novas fabricantes.

Para Ricardo Bacellar, “as montadoras fazem conta e veem que é mais barato trazer os módulos e montar o carro aqui do que produzir inteiramente no país, justamente por causa da carga tributária”.

Kalume acrescenta que “produzindo, o foco número um é recuperar a margem de lucro para a montadora”, além de otimizar processos e fluxos financeiros.

O UOL destacou em sua reportagem que essa estratégia — de importar kits CKD ou SKD e fazer a montagem local — permite reduzir o investimento inicial, mas mantém as empresas expostas à variação cambial e às alterações nas regras tributárias.

Regras para elétricos e híbridos: incentivos temporários

As mudanças nas regras de importação também influenciam os custos.

Em 2025, o governo antecipou para janeiro de 2027 a cobrança integral de 35% de imposto de importação para kits CKD e SKD de carros elétricos e híbridos, antes prevista para 2028.

Em contrapartida, foi criada uma cota de isenção temporária, de US$ 463 milhões, válida por seis meses.

Segundo analistas, essas medidas oferecem um alívio momentâneo para fabricantes que dependem de componentes externos, mas não garantem estabilidade de preços no médio prazo.

Juros e crédito: entraves ao consumo de carros novos

O financiamento continua sendo o principal meio de compra de carros novos no país.

Apesar da redução gradual da taxa básica de juros, as condições de crédito ainda são consideradas restritivas.

De acordo com consultorias financeiras, os spreads bancários e as exigências de entrada mantêm o custo total elevado, reduzindo o acesso de parte dos consumidores.

Na avaliação de especialistas, essa limitação diminui a demanda e impede cortes significativos de preços, mesmo quando há promoções ou incentivos pontuais.

Programas de incentivo têm efeito pontual

O Carro Sustentável, programa federal em vigor desde meados de 2025, zerou o IPI de versões mais eficientes e de menor impacto ambiental.

O UOL apurou que, entre julho e setembro, as vendas dos modelos beneficiados cresceram 24% em relação ao mesmo período do ano anterior, totalizando cerca de 109 mil unidades.

Ainda assim, o resultado é considerado pontual por economistas e consultores do setor, já que o benefício tem prazo e alcance restritos.

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Encerrado o programa, o preço tende a voltar ao patamar anterior, influenciado pelos mesmos fatores estruturais.

Novas fábricas ampliam oferta, mas impacto é limitado

A abertura de novas plantas industriais é vista por analistas como um passo importante, mas insuficiente para baratear os veículos de forma consistente.

A GWM iniciou operações em Iracemápolis em agosto de 2025, enquanto a BYD inaugurou o complexo de Camaçari em outubro do mesmo ano, com foco em modelos elétricos e híbridos.

Essas instalações devem ampliar a oferta e gerar empregos, porém o impacto direto nos preços é limitado, já que parte dos componentes ainda é importada.

O portal UOL também apontou que, embora o movimento amplie a capacidade produtiva, a nacionalização de peças e tecnologias será gradual e depende de condições econômicas e regulatórias mais estáveis.

Margens e ambiente de negócios mantêm preços elevados

Segundo analistas de mercado, a definição de preços considera o equilíbrio entre custos, câmbio, juros e planejamento de retorno de investimentos.

Montadoras que aplicam grandes valores em novas fábricas e desenvolvimento de produtos buscam preservar margens para manter viabilidade financeira.

Em um cenário de instabilidade cambial e regras tributárias complexas, a redução generalizada de preços tende a ser vista pelas empresas como arriscada.

Especialistas afirmam que, enquanto não houver avanços estruturais — como simplificação tributária, melhoria logística e queda sustentável dos custos de capital —, produzir carros no Brasil tende a melhorar a oferta e reduzir alguns gargalos, mas dificilmente resultará em preços significativamente menores.

Na sua avaliação, qual desses fatores mais pesa para manter o carro nacional entre os mais caros do mundo?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas e também editor do portal CPG. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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